Crônica | Mais um dia de mutirão

Confira a crônica sobre a ação de solidariedade realizada pelo MST e pelo Sindipetro neste sábado (1), em Curitiba, Araucária e Campo Magro, no Paraná

Montagem das cestas no dia 31 de julho. Foto: Joka Madruga

Por Adriana Andrade*
Da Página do MST

Sábado, 1º de agosto de 2020. Hoje decidi não falar apenas da doação e da quantidade de famílias que receberam uma farta cesta de alimentos e gás para o fogão. O caminhão passou em algumas comunidades. Na Vila Santos Andrade, no Sabará, na ocupação Nova Esperança, na Vila Formosa, no Portelinha, na Vila Santa Cruz.

Mais um sábado fora do comum. Começando pelo sol e calor que contrariou toda a previsão. Mas hoje eu quero lembrar das inúmeras mãos que fizeram com que as 28 toneladas de alimento chegassem à mesa de tantos trabalhadores.

Mãos dispostas a colher a mandioca, o repolho, a cenoura, a beterraba, a abóbora e a batata. Mãos que cuidadosamente amassaram mais de 1.100 pães.

Pão que perfumou o barracão!

A laranja, a mimosa, o limão.

Não há como esquecer o sabor da mexerica. Hummm, que delícia!

A boniteza das folhas de alface, que junto com a couve e o brócolis enfeitaram as cestas que logo foram pro caminhão.

Quero ainda lembrar das Daiana’s, sempre sorrindo estendendo as mãos. Da Adriana, que controlava os números e não deixava nenhuma cesta sem repolho e sem o pão.

Amanda, Mirele, Luana, Mayara, Ana, Marciele, Glicéria, Rose, e tantas outras que estiveram na colheita, na montagem e na distribuição. 

Tantos nomes que fazem a diferença na cozinha, na roça, na peleia e no dia a dia das mulheres camponesas. Cada cesta, além do alimento, foi montada com um tantão de afeto e de amor.

Calma companheirada, não me esqueci de vocês, não, que fizeram também parte dessa ação. Caixa por caixa, saco por saco. Organizar, tirar, esperar montar, abastecer, carregar, empilhar, quilos e mais quilos, para, depois tudo, entregar e recolocar as caixas vazias no caminhão.

Entrega de alimentos e gás na Vila Santa Cruz, em Araucária. Foto: Giorgia Prates)

Marquinhos, Joabe, Roberto, Mineiro, Adriano, Giordano, Felipe, Petrus, Ademir, Juliano, Leonel e tantos outros que fizeram essa doação acontecer. 28 toneladas, eu ouvi falar, que foram carregadas e distribuídas para a população que muitas vezes ficava sem reação ao ver a quantidade de alimento quando colocava no carrinho de mão. Quanta fartura!

Hoje quero lembrar dessas inúmeras mãos. Agricultores, motoristas, cozinheiras, fotógrafos, gente trabalhando por toda a parte e o tempo inteiro, nem um minuto de trégua e que não deixaram o cansaço abater.

Não sobrou alimento, tudo foi distribuído para que ninguém ficasse sem. 

Voluntários também colaboraram para a ação acontecer. O cansaço vai embora quando a gente vê o sorriso estampado daquela velha senhora, que saudosa lembra das receitas e agradece pela verdura que há dias não via na mesa.

Cestas coloridas arrancam sorrisos mesmo por debaixo das máscaras. A alegria em vozes tímidas e outras em puro agradecimento. A frase mais ouvida do dia é: “QUE DEUS ABENÇOE!”.

Solidariedade que se estende nas mãos que se dispõem a carregar, emprestar uma sacola, guardar lugar, dividir o que tem, oferecer café, bolo, água, almoço e se deixar convidar para jantar. Os braços querem abraçar, as mãos tocar, mas a tal da pandemia não deixa.

A compensação do trabalho vem ao deixarmos a comunidade e ouvimos repetidamente:

– VOLTEM SEMPRE, VOCÊS SÃO SEMPRE BEM VINDOS!

Isso é o MST! Cultivando a terra, defendendo a vida e partilhando solidariedade!

*Adriana Andrade é integrante da ação Marmitas da Terra, em Curitiba, e contribuiu com os mutirões de doações de alimentos da Reforma Agrária. 

**Editado por Fernanda Alcântara