Prefeitura despeja comunidade de Centro de Convívio em Montes Claros
Por Raíssa Lopes
Do Brasil de Fato
Famílias que ocupam o Centro de Convívio Luizinha Gonçalves, na Vila Atlântida, em Montes Claros, no Norte de Minas, foram surpreendidas nesta terça-feira (4) com uma ação de despejo sem aviso prévio comandada pela prefeitura.
Segundo as testemunhas, a Guarda Municipal, acompanhada do vereador Aldair Fagundes (Cidadania), teria invadido o centro sem ordem judicial e impedido a entrada da comunidade no espaço. Um morador da vila denuncia ter sido agredido durante o processo.
Com resistência, a comunidade conseguiu que os móveis, pertences e objetos que estavam no local e eram usados para as atividades de educação, cultura e lazer, não fossem para o lixo, mas guardados em uma das salas do Centro. A prefeitura declarou o objetivo de reformar o imóvel para a instalação de duas unidades de saúde. A obra já foi iniciada.
“A gente não quer só comida”
Há três anos, movimentos sociais e pessoas da Vila Atlântida desenvolveram o Luizinha resgatando um prédio público abandonado pelo Executivo municipal no início de 2017. Desde então, ele é utilizado para oficinas gratuitas de capoeira, artes, aulas de alfabetização, cursinhos preparatórios, esportes, artesanato, brincadeiras para as crianças, entre outras iniciativas. Nesta pandemia, o espaço também estava sendo usado para distribuição de cestas de alimentos sem agrotóxicos para famílias da região.
Ao vivenciar o momento do despejo, a pequena Yasmin, de sete anos, chorou e contou que lá viveu “momentos inesquecíveis”.
Comunidade faz manifesto
Após uma negociação de quase quatro horas, com a presença de pastorais, movimentos e instituições de direitos humanos, a prefeitura se comprometeu a destinar uma área do local para que as atividades do Centro de Convívio possam continuar, como conta Carmen Santos, integrante do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), uma das organizações que participam da construção do projeto.
“Foi prometido e assinado em uma Ata que em 15 dias eles entregam pra gente o outro espaço, que é uma extensão do Luizinha, pra que a gente reinicie os trabalhos. Na verdade, esse acordo já havia sido feito, porque nunca fomos contra as unidades de saúde. Mas ficou acordado que ao iniciar a obra, já teriam transferido o Centro para outro lugar. Houve um manifesto e, diante disso, perceberam a organização da comunidade e voltaram atrás pra manter o acordado”, conta.
Edição: Elis Almeida/ Brasil de Fato