Fim da Quarentena no Haiti

Da Ajans Pres Popilè Ayisien*

Em 10 de agosto de 2020, encerrou a quarentena no Haiti. Iniciada em 18 de março passado, foram quase cinco meses em que governo do presidente Jovenel Moïse atuou na tentativa de conter o avanço do COVID-19 no país. Em números de casos, o Haiti tem 20.023 casos em investigações, 7.649 casos de COVID confirmados e 183 pessoas já morreram em decorrência da pandemia.

É possível que esses números sejam reais? É possível que o Haiti, um dos cinco países mais pobres do mundo tenha conseguido se proteger da pandemia?

O que é possível afirmar, é que, em cinco meses, desde o anúncio da primeira morte no país por COVID-19, ocorreram manifestações por direito ao auxílio saúde e proteção prometido pelo governo, para que as pessoas pudessem ficar em casa, manifestações de feirantes que se recusaram parar de trabalhar por não terem outra forma de renda, sendo as feiras, o lugar com a maior aglomeração de pessoas, manifestações e greve de policiais por melhores condições de trabalho e segurança por estarem encontrando dificuldades no enfrentamento das gangues existentes no país.

Nesse quadro de pandemia mundial, movimentos sociais do Haiti, sindicatos de trabalhadores, professores, a classe trabalhadora do país, se incumbiram da tarefa de proteção a vida, fazendo o trabalho de sensibilização e solidariedade à população, e sendo a voz de denúncias contra o governo nesse período.

Assim, durante a quarentena, houveram poucas manifestações e protestos contra o governo. Com o fim da quarentena, obviamente, inicia-se uma nova onda de protestos por todo o país, diante do governo de Jovenel Moïse, que tem como importante “aliado” o COVID-19, que está determinado a desprezar a população, e que se coloca em uma bolha, longe da verdadeira realidade do povo haitiano.

Exatamente no dia 10 de agosto de 2020, dia do término da quarentena, em frente ao anexo do Ministério de Educação Nacional e Formação Profissional, localizado na avenida Martin Luther King, em Porto Príncipe, vários sindicatos e movimentos sociais denunciaram a irresponsabilidade do ministro Pierre Josué Agénor Cadet em retomar as atividades escolares no país sem consultar a sociedade haitiana. A manifestação também reivindicou melhores condições de trabalho para os professores.

“Não temos problema para a reabertura das aulas, já prevíamos isso, mas é necessário que planejemos em perfeita colaboração com os diferentes atores do sistema educacional”, diz o professor Josué Mérilien, coordenador geral da União Nacional dos Normalistas Haitianos (UNNOH). Este último reivindica um salário razoável para os professores, porque, segundo ele, não é normal que um professor tenha menos de US$ 100 por mês como salário em comparação com os US$ 5.000 que o Estado desembolsa para pagar o aluguel mensal da residência do ministro Pierre Joshua Agéner Cadete.

Nos cartazes, pôde-se ler as seguintes mensagens: “kile lekòl ki nan katye popilé yo ap louvri”? “pa gen lekòl san sekirite“! “Quando as escolas serão capazes de abrir em bairros populares?” “Não tem escola sem segurança” para apontar alguns exemplos. A situação de insegurança e violência que passa o país também estavam no centro dos protestos.

Em uma situação em que a insegurança está a todo vapor, a precariedade chegou ao topo, o que podemos esperar nos próximos dias em que os conflitos sociais se aprofundam? O Estado haitiano está ciente da dimensão da crise para entrar no processo de reabertura das atividades escolares no país?

De qualquer forma, o futuro dirá o resto !

* Ajans Pres Popilè Ayisien (Agência de Imprensa Popular Haitiana), com colaboração da Brigada Internacionalista Jean Jaques Dessalines

*Editado por Fernanda Alcântara