Frades do nordeste denunciam despejo do Quilombo Campo Grande
Em nota divulgada pelos Frades, eles repudiam o despejo das 450 famílias que viviam no Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, Minas Gerais, e se mostram indignados com as instituições do Estado brasileiro, que abandonaram as famílias e colocaram as pessoas em risco no local, em um período de pandemia do Coronavírus.
“Repudiamos essa ordem de despejo e lamentamos a anuência do poder judiciário, sobretudo porque entendemos que essa ação põe em risco a vida das famílias que foram atingidas por essa truculenta e questionável ação judicial”, afirma a nota.
NÓS, FRADES MENORES QUE ESTAMOS NO NORDESTE REPUDIAMOS O DESPEJO DAS 450 FAMÍLIAS DO QUILOMBO CAMPO GRANDE EM MG
“Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá” (Papa Francisco durante um encontro com movimentos populares de todo o mundo em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia).
O grito de nossos irmãos mineiros chega até nós que, de longe, assistimos com profunda indignação o bárbaro despejo de famílias que se encontravam assentadas no Quilombo Campo Grande (Campo do Meio — MG) ocorrido na manhã do último dia 13 de agosto. As famílias estão naquele lugar a mais de 20 anos e aquele pedaço de chão é a única esperança de uma vida melhor para este povo. “Vida em abundância” (Jô 10, 10). A situação de pandemia que estamos vivendo agrava essa decisão da justiça.
O Papa Francisco na sua carta encíclica Laudato Si nos recorda que a luta por uma ‘revolução’ ecológica que busque a integração de toda a criação não pode desconsiderar as profundas desigualdades sociais que vivemos, sobretudo no nosso país. “Não há crise separada: uma social e outra ambiental” (LS 139). Entendemos que essa ação do poder judiciário mineiro que conta com a inércia do poder executivo, que tem se privado do dever de estar ao lado dos mais necessitados, aprofunda a impossibilidade dessas famílias de buscar uma vida mais digna com o suor do seu trabalho.
Uma das primeiras execuções da ordem de despejo foi a destruição de uma escola onde os alunos do assentamento estudavam. As imagens da destruição provocam um profundo pesar no coração daqueles que sonham com uma vida melhor para o nosso povo. Certamente não provocou o mesmo pesar no coração endurecido dos poderosos que atacam a vida dos menores motivados pela busca incansável do lucro. Agora aquelas crianças não têm escola, nem casa.
Repudiamos essa ordem de despejo e lamentamos a anuência do poder judiciário, sobretudo porque entendemos que essa ação põe em risco a vida das famílias que foram atingidas por essa truculenta e questionável ação judicial. É agravante também que ela seja executada num momento de pandemia, o que coloca em maior risco a vida dessas famílias que agora não poderão trabalhar com a sua terra. Como permanecer em casa se o Estado lhes roubou suas casas? Entendemos que essa ação judicial promove e escolhe o lado dos grandes latifundiários que roubam o direito à terra do nosso povo mais simples que ocupou aquele lugar depois de terem sido demitidos daquela usina a mais de vinte anos atrás sem nenhum direito observado.
Queremos nos associar a luta dessas mais de 450 famílias que estão lutando por suas terras. Também reiteramos o nosso respeito e reconhecemos o valor do MST e sua luta pela terra e dignidade dos trabalhadores. Repudiamos qualquer tentativa de criminalização desse movimento social tão importante na história e atualidade de nosso país.
Estamos unidos em oração e na luta. Desejamos, em breve, cantar a vitória dos pequenos sob os poderosos, como fez Maria, a mãe do Salvador, pois Ele “Derruba os poderosos de seus tronos, eleva os humildes, sacia de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias” (Lc 1, 52-53).
Serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) da Província Franciscana de Santo Antônio.
Fortaleza, CE – 14 de agosto de 2020. (Vésperas da Assunção de Nossa Senhora.)
*Editado por Solange Engelmann