Maria dos Anjos, mulher destemida Sem Terra
Por Viviane Brigida
Da Página do MST
Neste sábado(15/08), faleceu em sua residência, no assentamento Mártires de Abril, em Mosqueiro/Belém, Maria dos Anjos Souza, de 66 anos. Companheira valorosa e uma das mais comprometidas defensoras dos direitos humanos no Pará.
Militante Sem Terra, Maria dos Anjos era uma mulher guerreira, nascida na cidade de Moju, interior do Pará. Veio para capital ainda jovem, foi mãe solo de dois filhos. Como muitas brasileiras, viveu uma vida de superação e muito trabalho. Iniciou sua militância na década de 1980, na Associação dos Moradores da Radional, do Jurunas, bairro periférico de Belém. Seguindo para atuação no sindicato dos gráficos, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e foi uma das mais expressivas sindicalista, até conhecer, já nos anos 1990, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Após o Massacre de 19 trabalhadores em Eldorado do Carajás, em 1996, viria para capital.
Em 1999, famílias Sem Terra estavam acampados em uma praça de Belém. Maria viu ali a oportunidade e ingressou para a organização, onde militou até sua morte.
Dos Anjos, como era conhecida, passou a atuar frente de massas do MST. Mulher destemida, teve forte atuação nas ocupações. Participou das ocupações no campo e na cidade. Também era uma mulher de fé, congregava na Igreja Assembleia de Deus. Sabia dialogar com todos e todas sem distinção de credo ou religião. Dizia que Deus era Amor, e Amor era respeito ao outro em permanente práticas de defesa da vida.
Devido sua forte atuação, Dos Anjos teve vários mandatos de prisão decretados. Entrou para lista dos considerados pelos burgueses da região “uma ameaça a ordem e para o direito privado”. Em 2001, na ocupação da fazenda Chão de Estrelas, em Aurora do Pará, nordeste paraense, ligada à família Barbalho, foi presa política. 37 militantes foram presos, mas somente dois: Maria dos Anjos e seu filho João Batista continuaram presos por 45 dias. Na época, o fato teve repercussão e grande destaque na imprensa da região.
Várias campanhas foram feitas, e o MST, sempre em sua unidade e solidariedade que o move até os dias atuais, foram fundamentais para sua liberdade. Dos Anjos sempre foi grata e apaixonada pela organização. “O MST é a minha família”, sempre dizia.
Em 2014 sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Mesmo debilitada fisicamente, não deixava de participar das atividades do movimento no assentamento Mártires de Abril, onde era assentada. A comunidade tinha enorme respeito e admiração pela mulher aguerrida que, junto com outros importantes militantes, também já falecidos, como Ulisses Manaças (2018), Mamede Gomes(2012), tornou-se referência.
O Movimento perde mais uma companheira de luta, entretanto, ganha mais uma semente e um legado inspirador para as novas gerações de militantes comprometidos com a defesa da vida e contra a barbárie exposta na sociedade. Siga em Paz Maria Dos Anjos, Sempre Presente!
*Editado por Fernanda Alcântara