Após despejo, governos negam testagem às famílias do acampamento Quilombo Campo Grande
Por Geanini Hackbardt
Da Página do MST
Cinco dias após a concretização do despejo de 14 famílias no acampamento Quilombo Campo Grande e a aglomeração de cerca de 500 pessoas entre Sem Terras e policiais, o MST luta para acessar testes de Covid–19 e controlar a contaminação pela doença no território. Nesta segunda-feira (17), uma comissão de acampados foi até a prefeitura reivindicar a testagem em massa e encontrou as portas fechadas. No mesmo dia, foi realizado um escracho para denunciar a situação, em frente às lojas Zema do município de Campo do Meio, no Sul de Minas Gerais.
O movimento tem buscado, sem sucesso, o diálogo com as instituições, como afirma Michelle Capuchinho, da direção estadual do MST. “Desde o início da operação criminosa, a gente tentou diálogo com o governo do Estado, denunciando que era um crime realizar um despejo em meio a pandemia. Nós entendemos que esse governo é criminoso, e a prefeitura municipal que está sob gestão de Robson de Sá é omisso e coautor dessa atrocidade, colocando em perigo todo Campo do Meio e o Sul de Minas”.
As famílias também recorreram ao Secretário de Saúde, Ezequiel Marquês, e à responsável pelo Centro de Referência da Assistência Social da cidade, Marlene Zanatelli de Sá, esposa do prefeito, sem obter respostas. Ainda na segunda-feira, sem maiores condições para auxiliar as famílias, o secretário de esportes recebeu o ofício do MST. O vice-prefeito do município, que é médico, também não se manifestou.
Para o MST, a inoperância do Estado é proposital. “Estamos entendo que o governador Zema deflagrou uma guerra biológica contra nós, após um despejo arbitrário e violento, até hoje não tivemos acesso aos testes ou qualquer cuidado da saúde do Estado. Exigimos os testes em massa, porque acesso à saúde é um direito de qualquer cidadão deste país, assim como o acesso à terra”, reivindica Ludmila Bandeira, da coordenação do Setor de Saúde do MST.
O procedimento seria o governo do Estado repassar os testes paras o município atender as famílias. Já a polícia militar é testada mensalmente, segundo protocolo da instituição. Diante da situação, o MST está convocando uma Plenária da Saúde para esta quinta-feira, 20 de agosto, às 14h.
Confira carta de reivindicação:
Carta de Reivindicação
O Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Terra de Minas Gerais, vem a público denunciar o despejo violento realizado pela Polícia Militar de Minas Gerais na tarde desta sexta-feira, 14. Em meio à pandemia o governador Romeu Zema colocou a vida e a saúde de milhares de pessoas em risco, demonstrando o seu descaso com o povo, mostrando sua face covarde e criminosa. Foram três dias de tensão, violações de direitos humanos e solicitações para que o governador Romeu Zema suspendesse a ação policial.
Nesse período, a prefeitura municipal de Campo do Meio, sob gestão de Robson Machado de Sá, mostrou-se cúmplice ao despejo e negativa às solicitações de suspensão desta ação ilegal junto ao governo do estado, expondo não só as famílias acampadas, mas toda a região a riscos de adoecimento e morte em plena pandemia e na maior crise sanitária já vista. A prefeitura municipal, na gestão Robson Machado de Sá também foi conivente com essa ameaça à saúde da população de Campo do Meio, inclusive se negando receber os representantes do MST, nesta segunda-feira, 17, que foram em busca de apoio para realização de testagem em massa.
Na ação do despejo, as forças policiais e agentes de segurança pública foram até a cidade, se hospedaram, alimentaram, e tiveram contato com as pessoas do município e região, em tempos onde é vital evitar aglomerações, cumprir com os cuidados orientados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De quarta-feira, 12, até segunda-feira, 17 o número de casos do município aumentou de 14 para 27. Por isso, as famílias e todas/os cidadãos/ãs foram colocadas/os em risco e precisam ser acompanhadas/os.
Após 56 horas de resistência no Acampamento Quilombo Campo Grande, o despejo se concretizou com um ataque violento da polícia às famílias organizadas.
Por isso, exigimos:
- Realização imediata de testagem pelo método do RT-PCR para todas as famílias acampadas e famílias moradoras do município de Campo do meio;
- Monitoramento ativo (vigilância em saúde) de cada pessoa em relação ao desenvolvimento de sintomas da COVID, sofrimento mental e problemas de saúde nos próximos 30 dias;
- Garantia de atendimentos em saúde (médico e multiprofissional) pelas Equipes de Saúde da Família e em serviços especializadas de média e alta complexidade para as pessoas, de acordo com a necessidade;
- Auxílio emergencial (R$ 600,00) para viabilizar a quarentena após a exposição de risco a que as famílias foram expostas.
Campo do Meio, 17 de Agosto de 2020.
Direção Estadual do MST – MG