Movimentos populares da Paraíba iniciam curso de Agentes Populares de Saúde
Por Comunicação MST Paraíba
Da Página do MST
Na última quarta-feira (12), dia em que se completaram 37 anos do assassinato de Margarida Maria Alves, histórica líder popular da Paraíba, foi realizada a aula inaugural do Curso de Formação de Agentes Populares de Saúde no estado.
A atividade foi transmitida online pelos canais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e contou com a participação de Paulette Cavalcanti, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Daniel Beltrammi, secretário executivo de Gestão da Rede de Unidades de Saúde do Estado da Paraíba, e Felipe Proenço, médico de família e dr comunidade e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A mediação foi feita por Dilei Schiochet, da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na Paraíba.
Os especialistas apresentaram um quadro geral da pandemia no Brasil e na região Nordeste, e alertaram para a importância da organização popular no enfrentamento à Covid-19, sobretudo diante do completo descaso por parte do Governo Federal.
Como pesquisadora e educadora popular, Paulette Cavalcanti fez questão de chamar a atenção para o modo como o país tem lidado com a pandemia. Segundo ela, “a gente recebe uma ordem de ‘fique em casa!’ e todo o investimento é colocado numa perspectiva de contatos por aplicativos, para que os profissionais de saúde possam orientar as pessoas que ficam em casa”.
Contudo, ainda de acordo com Paulette, tal abordagem não é suficiente. A especialista defende que a principal via de superação de epidemias e pandemias é a educação em saúde voltada e construída com a população. “Nesse âmbito, nós tivemos a epidemia de Aids, da dengue, da própria zicavírus e outros pequenos surtos em que vimos que só a educação consegue fazer com que os casos sejam prevenidos e não aconteçam. É aí que está o nosso papel. Temos que trabalhar nessa linha de que a comunidade tem que cuidar da comunidade. O povo tem que cuidar do povo”, explicou.
Como exemplo, Paulette ainda apresentou a experiência da campanha Mãos Solidárias, em Pernambuco. Segundo ela, a partir da entrega de marmitas e máscaras para a população pobre, os movimentos populares entenderam que era preciso adotar uma concepção de solidariedade ativa, o que na prática correspondia à organização das comunidades periféricas e pobres e à construção de um projeto popular de saúde, ou seja, de um sujeito coletivo capaz de organizar a população: “O agente popular de saúde parte da ideia de que é preciso falar a língua do povo, é preciso chamar essas pessoas para construir a saúde de forma coletiva”.
Mobilização popular
O secretário Daniel Beltrammi também destacou a necessidade de mobilização e organização popular no enfrentamento à pandemia na Paraíba. “É preciso estar perto das pessoas, sentir o que elas sentem, tentar traduzir isso com as ferramentas que a saúde nos dá para que elas possam se ajudar e nós possamos também conseguir ajudá-las”.
De acordo com Daniel, o estado conta com mais de 92 mil casos confirmados e mais dois mil óbitos por Covid-19. No caso da Paraíba, a preocupação agora tem sido a interiorização do vírus, da orla para o sertão do estado. Todavia, o secretário compreende este momento de crise como uma oportunidade para a construção de um novo projeto para o Nordeste e para o país como um todo.
“Temos uma oportunidade de fazer desse 2020 um novo 1988. E, como em 88, com o braço e com a força do povo, pensar um novo projeto de país. Fazer acontecer aquele Sistema Universal de Saúde que nós tivemos a coragem de escrever na carta constitucional de 88 e que há muito está com grandes dificuldades de sair do papel”, afirmou o secretário.
Sobre a dificuldade de efetivação de políticas públicas e a atuação do Governo Federal em meio à pandemia, o médico e professor universitário Felipe Proenço lembrou que as ações de resposta ao problema da renda e da insegurança alimentar não partiram do Governo. “As respostas de enfrentamento a essa pandemia tem vindo da atuação dos profissionais do SUS e de iniciativas dos movimentos sociais como essas que estamos tratando agora”.
Felipe ainda comentou sobre as expectativas da população diante do atual momento e sobre a relevância social da formação de Agentes Populares de Saúde. “Às vezes perguntam quando é que vai ter uma situação de modificação dessa pandemia. Em que momento chegaria o pico para que a doença começasse a diminuir. Por causa dessa desarticulação do governo federal a gente não consegue enxergar um momento de diminuição efetiva do número de casos. Por isso todas as iniciativas como essas dos movimentos populares são essenciais para seguir no enfrentamento da pandemia. E por isso este é um momento simbólico”, concluiu.
O curso de formação de Agentes Populares de Saúde faz parte da campanha Mãos Fraternas. Mais informações na página da campanha no Facebook.
Veja a aula inaugural abaixo:
*Editado por Fernanda Alcântara