Arte, depoimentos e lançamento de curso marcam as comemorações de 15 anos da ELAA
Por Luciana G. Console
Da Página do MST
Como forma de comemorar e marcar o aniversário de 15 anos da Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA) em meio à pandemia da COVID-19, o MST realizou uma transmissão online na tarde desta quinta-feira (27).
Foram duas horas de um Ato Político-cultural para contar a história dessa grande iniciativa e também realizar o lançamento do curso “Questão Agrária: Cooperação e Agroecologia”, que será realizado em parceria com a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae).
Localizada no assentamento Contestado, na Lapa (PR), a 70 quilômetros de Curitiba, a ELAA é símbolo de trabalho coletivo, organização produtiva e formação técnica e política para trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade. De 2005 a 2018, passaram pela Escola quatro turmas de Tecnólogo em Agroecologia e uma de Licenciatura em Educação do Campo.
O ato teve início às 14h e foi guiado por Raul Amorim, da Secretaria Nacional do MST, e Amandha Felix, integrante da coordenação da ELAA e da direção estadual do MST no Paraná. “Celebrar os 15 anos de uma escola da classe trabalhadora é além de conquista, é ato de resistência”, foram uma das primeiras frases da educadora, momentos antes de entrar uma mística gravada e produzida pelo Coletivo da Brigada Chico Mendes, junto com educandos da 5ª turma do curso tecnólogo da Escola. O vídeo trouxe a história da Escola Latino Americana de Agroecologia.
De acordo com a mística, a construção se deu com dois sujeitos, os trabalhadores, que contribuíram com a construção da escola voluntariamente, e os educadores. O grande papel da escola foi se apropriar da ciência e colocar ela em movimento com a prática cotidiana dos assentados no campo organizativo e formativo.
Fruto do aprendizado educativo e das experiências de educação dos movimentos sociais da Via Campesina na América Latina, especificamente do MST no Paraná, a ELAA se constitui como um espaço do movimento social. Ela fica próxima de um centro urbano, da universidade pública (parceira do primeiro curso de graduação da Escola) e também das famílias do MST, por se encontrar dentro de um assentamento. A formação na ELAA é organizada com base nos princípios da Educação Popular do Campo, que se divide em tempo-escola, com a vivência dos aprendizados teóricos entre as turmas.
O Ato seguiu com depoimentos de assentados e colaboradores da Escola. O agricultor Dalvan contou que, desde o início da ocupação do hoje assentamento Contestado, ocorrida em 1999, houve nos primeiros anos a discussão em torno de qual seria a matriz produtiva, o que originou o Grupo de Agroecologia e Cooperação Terra Livre. O grupo se consolidou e começou a ser referência na Lapa e também a nível nacional. “A vinda da Escola foi um reconhecimento do trabalho que a gente já vinha fazendo, além de apoio técnico e pedagógico para o avanço da agroecologia”, relembrou ele.
Para Maria, que faz parte do setor de saúde do assentamento, a ELAA sempre será de grande importância dentro de todos os movimentos sociais. “Pois é através desse conjunto que nasceu a Escola, da participação de homens e mulheres. É importante frisar que tem muita mulher fazendo o curso. No início foi muito pesado com o primeiro grupo de estudantes, tinha dias que não tínhamos estrutura, pois a construção estava no início, mas valeu muito a pena”.
Já o assentado Luiz, que mora no assentamento desde 2000, fez questão de ressaltar que foi justamente a proposta de produção agroecológica que fez com que ele e a família se deslocassem até lá em busca de um pedaço de terra. “A trajetória foi possível por conta da coletividade, que sempre teve desde o início. O maior presente que a Escola pôde me dar foi a participação em um evento internacional de agroecologia em Cuba”. Ele destacou também que uma das maiores alegrias dos trabalhadores do assentamento é quando uma turma se forma.
Após os depoimentos, Raul e Amandha, liderando a transmissão ao vivo, leram mensagens de apoio e parabéns enviadas para as redes sociais do MST antes da intervenção musical realizada por Fred e Luan, ambos da ELAA, que tocaram em seus violões diretamente da Escola para o Ato.
De acordo ainda com Amandha, nesses 15 anos, passaram pela Escola aproximadamente 50 mil sujeitos de todo o mundo, com a formação de 180 mulheres e homens. “A identidade da Escola Latina foi criada por todos que passaram por ela e ergueram parte da estrutura. Isso simboliza o princípio da escola de força do trabalho coletivo”, ressaltou, antes de chamar mais uma mística para o Ato. Desta vez, a mística trouxe um vídeo com plantação de mudas feita por companheiros e companheiras de diversos países na ELAA, simbolizando o compromisso de semear novos valores.
O internacionalismo sempre esteve presente na ELAA e Claudio, aluno da 4ª turma da Escola, pode confirmar isso. Ele é paraguaio e ressaltou a importância da ELAA em possibilitar aos filhos de camponeses, como ele, o acesso à Universidade. Para Etelvina, da Via Campesina Brasil: “Internacionalismo e solidariedade de classe, a Escola cumpre esse papel. Ela tem se transformado em uma ‘escola do amor’”, pontuou.
Lançamento do curso “Questão Agrária: Cooperação e Agroecologia”
Caminhando para o encerramento, o Ato contou com a presença de João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, que falou sobre o novo curso da Escola. Construído em 2019, o curso “Questão Agrária: Cooperação e Agroecologia”, será realizado em parceria com a Fenae. Ele está organizado em três módulos: Economia política e agricultura; Gestão e cooperativa; Relações humanas e cooperação.
Para Stedile, o curso vai ajudar quem está em estruturas de produção. “O MST coloca muita energia em educação, porque só o conhecimento liberta as pessoas”. Foi também nesta perspetiva que Stedile contou ter surgido a ideia da Escola.
“Há 15 anos só haviam pequenas experiências pontuais que entidades parceiras faziam, então nos conectamos com elas e fomos montando uma rede. A ELAA ficou com uma vocação maior para abrir-se a estudantes do cone sul. Nossa Escola expressa o espírito que é nosso Movimento: uma construção coletiva”. Ele ainda ressaltou que as dificuldades sempre foram presentes, mas que o desânimo nunca. “Se esperarmos as boas condições, nunca vai acontecer esse avanço”, pontuou.
Stedile também aproveitou o Ato para compartilhar os novos passos do MST. A última conquista do Movimento é a ampliação da produção da área de grãos agroecológicos como milho e soja. Além disso, há novos projetos no setor de insumos, fertilizantes orgânicos e defensivos biológicos. Segundo ele, “para produzirmos alimentos saudáveis precisamos dominar a agroecologia”.
Devido à pandemia da COVID-19, o curso será realizado de forma online. “A gente acha que educação tem que ser presencial, então olhávamos de lado para essa possibilidade. Porém, não descartamos a ideia e percebemos que podia ser uma ferramenta complementar ou motivadora para que a militância pudesse se preparar melhor.”
Encerrando o Ato de 15 anos da Escola Latino Americana de Agroecologia, o grupo Mandicuera, representando o estilo fandango caiçara, presenteou a todos com sua música.
Assista o Ato completo:
*Editado por Wesley Lima