Grito das Excluídas/os denunciam às políticas de extermínio do Estado

Mobilizações marcam o dia 7 de setembro e questionam que independência queremos desde a região Nordeste
O Grito reúne organizações religiosas, sindicatos, movimentos sociais e entidades da sociedade civil. Foto: Divulgação

Por Lays Furtado
Da Página do MST

Esta segunda-feira (7), será marcada pela 26ª edição do Grito das/os Excluídas/os, com o lema: “Vida em primeiro lugar – basta de miséria, preconceito e repressão! Queremos trabalho, terra, teto e participação!”.

Em atos que reúnem organizações religiosas, sindicatos, movimentos sociais e entidades da sociedade civil, o dia 7 tem como objetivo denunciar o aumento das diversas violências como o fascismo, racismo, genocídio e feminicídio, que se alastram pelo Brasil. Governado por necropolíticas dirigidas ao extermínio do povo e do meio ambiente.

Durante toda a semana, concomitante ao 7 de setembro, data que marca a “Independência da Pátria”, o Grito das/os Excluídas/os tem realizado e realizará atos virtuais e presenciais em todo o país, além de ações em outros 49 pólos internacionais, mobilizando todas as vozes que estão sendo silenciadas e extirpadas frente às constantes perdas de direitos que têm ameaçado a vida das populações mais vulneráveis no Brasil.

Em circular que divulga o lançamento do tema deste ano, o Jornal do Grito nº 73/2020, destaca:

“Atualmente, o Brasil tem mais de 13 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema, que sobrevivem com até R$ 145,00 mensais. Esses números vêm crescendo desde 2015, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa miséria é visível em todo país, sobretudo nas grandes cidades, dos centros às periferias, com destaque nas regiões norte e nordeste, atingindo principalmente a população negra e com baixa escolaridade. As consequências são graves, afetam a qualidade de vida como um todo, alimentação, drástica evasão escolar, entre outras.”

Desde 1994, o movimento acumula lutas em resistência ao neoliberalismo e as desigualdades sociais, criado em um período em que a crise política e econômica assolava o povo brasileiro.

E agora, após mais de duas décadas, integrantes do movimento avaliam que enfrentam desafios similares aos que motivaram a criação do Grito. Considerando à acentuação das desigualdades históricas no país, e a desarticulação da participação popular nas decisões políticas.

Arte do Grito 2020.

Quem são as/os excluídas/os hoje?

Em convocatória para o ato, Dom Limacêdo Antônio, bispo auxiliar de Olinda e Recife e referencial da Comissão Regional Pastoral para a Ação Sociotransformadora (PE), comenta que as/os excluídas/os hoje são, em linhas gerais:

“O morador de rua, o desempregado, o mal pago, aquele que está na solidão, aquele que perdeu um ente querido, aqueles que não vivenciam e de fato não tem acesso às políticas públicas.”

Desde agosto as organizações que integram o Grito, tem planificado ações nos diversos estados do país. Ao longo dos manifestos, as organizações têm buscado debater as diversas vozes e gritos identificando os algozes que representam à realidade nacional aliadas às demandas e especificidades de cada região.

Por meio das redes sociais da Pastoral Social SPS Nordeste 2, Izamara Alves, coordenadora da Escola Fé e Política Dra. Zilda Arns da Diocese de Caicó (RN), afirma que seu Grito é pelo combate à violação sexual de crianças e adolescentes. Já Claudeane, representante da Pastoral da Juventude Rural de Água Branca (AL), reforça que seu Grito é pela educação e pelo fim da violência contra a mulher.

Agro mata

Nas páginas do Grito das/os Excluídas/os, Dona Francisca, quilombola de Boa Esperança, comunidade São Raimundo, região do Brejo (MA), denuncia em seu Grito as emergências de seu território:

“A principal perseguição que hoje a gente sofre é a do agronegócio, que tira nossa liberdade, o nosso modo de viver. Aqui o costume da nossa comunidade é quebrar coco, caçar, pescar, plantar, vivemos da agricultura familiar. E tudo isso está ameaçado pelo agronegócio.”

Reafirmando sua identidade, raízes e à cultura como esferas de resistência, ela complementa: “Para animar os dias sofridos na nossa comunidade, a gente tem o tambor de crioula, a dança do coco, e o bumba boi.”

Em 2014, o Brasil havia saído do Mapa da Fome no mundo, graças às políticas públicas de enfrentamento à pobreza. “Mas existe um problema que ainda não foi sanado, e por isso continua a perpetuar as desigualdades no país, trata-se da concentração de riquezas. Principalmente de terras, nas mãos de poucos”, denunciam a juventude camponesa representada pelas vozes de Dayane Magalhães e Jessica Pereira, de Guanambi, (BA).

Em seus Gritos ecoam que a crise causada pelo coronavírus tem acentuado o problema, mas não é a causadora da fome no Brasil. Destacam ainda, que é preciso lutar pelos direitos das classes marginalizadas socialmente e questionar o 7 de setembro, propondo a independência que queremos.

Que independência queremos?

Convidado à fazer uma análise de conjuntura em assembléia online do Grito das/os Excluídas/os, nesta última quinta-feira (3/9), João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST e do Fórum Fora Bolsonaro, comentou que atualmente vivemos à intensificação do uso de novas tecnologias em conjunto ao processo de exploração capitalista sobre à classe trabalhadora. Como tem ocorrido pelo fenômeno da uberização, por exemplo.

Além de estarmos em meio ao fogo cruzado da disputa das grandes potências mundiais – Rússia, China e EUA -, estamos na corrida pelo poder na esfera internacionalista, que reflete sobre o nosso cenário político e social. Por isso não há tempo para ficarmos em cima do muro, temos o desafio de construir à luta de massas, “que não pode ser vanguardista para 3 ou 4, tem que ser pensada para os pobres, as mulheres, pensar na questão racial e indígena”, apontou Rodrigues.

Dessa forma, ele assinalou que é preciso discutir um plano maior com as mobilizações do Grito, que nos permita fazer à luta por direitos, alimentação, cuidarmos um/a do/as

outros/as a fim de realizarmos o que o Papa Francisco chama de cuidados da Casa Comum, “Laudato Si”. “Para tanto, é preciso arregaçar as mangas para construirmos maioria pelo Fora Bolsonaro, fazendo o trabalho de base e construirmos uma luta bonita hoje e no pós pandemia”, finalizou.

Confira as atividades programadas na região Nordeste

Ao longo de seus manifestos, as organizações do Grito das/os Excluídas/os da região Nordeste se mobilizam em campanhas de doações solidárias, na realização de reflexões e debates, eventos religiosos – virtuais e presenciais por meio de transmissões nas redes sociais-.

Na Bahia, as atividades presenciais foram descartadas, e foi criada a rede social do Facebook do Grito Salvador, com atividades online programadas para esta segunda-feira (7), a partir das 15h.

No Ceará, uma série de lives tem acontecido desde o início do mês. Ao todo 9 dioceses estão articuladas para as atividades do Grito e abrem convocatória pela página do Facebook da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte para um seminário online, via Google Meet, também no dia 7, às 9h.

No Maranhão, acontecem atos na Diocese do Brejo com transmissão online pelo Facebook, além da Diocese de Pinheiro. Na capital, São Luís, haverá ação em solidariedade à população em situação de rua.

Em Pernambuco, no Recife, o ato será presencial a partir das 9h, no Parque 13 de Maio com trajeto até a Praça do Carmo. A orientação é que se faça o uso de máscara e distanciamento social devido aos riscos de contágio pelo Covid-19 – para tanto contará com o  apoio de Agentes Populares de Saúde-.

No Piauí, a programação é virtual com vários movimentos pelas redes sociais, onde cada Diocese estabeleceu uma programação própria. Domingo (6) e segunda (7), em Teresina, acontecem o Fórum das Pastorais Sociais, atividades e celebrações nas comunidades e paróquias, em torno da memória dos Gritos e de sua temática atual.

No Rio Grande do Norte, desde Mossoró, haverá distribuição de cestas com alimentos e materiais de higiene, arrecadados para pessoas em situação de vulnerabilidade social, entre elas imigrantes venezuelanas/os, durante a ação haverá momentos de diálogo e encerramento com mística.

Na Paraíba, a Diocese de Patos segue uma programação com rodas de conversa iniciada desde o último dia 31. E em João Pessoa, a comunidade de Timbó se prepara para ecoar o Grito das/os Excluídas/os no feriado deste dia 7.

Por meio das redes sociais da Regional CNBB Nordeste 2 (AL, PE, PB, RN), realizou neste último domingo (6) o ato Inter-Religioso do Grito, e hoje (7), às 9h acontece a plenária “Os clamores do povo: gritos do Regional Nordeste 2”, com a participação de cada pastoral, organismo, movimento e escola que compõe o Regional. Contando também com a presença de Zé Vicente para a mística.

Com tudo, a partir deste feriado da independência, também haverá uma série de homenagens em memória a Dom Pedro Casaldáliga e atos em solidariedade às vítimas do Covid-19, que foram vitimizadas, múltiplas vezes pelo vírus e pelo desgoverno, devido a ausência de um pacto federativo em combate à pandemia e seus efeitos.

*Editado por Wesley Lima