Recuperar a terra degradada pelo latifúndio é nossa missão de fé
Por Igor de Nadai*
Da Página do MST
Mutambo, pitanga, uvaia, jenipapo, gabiroba, ingá, jatobá. Essas são algumas das espécies de árvores que guardam essa riqueza de cores, formas e sabores plantadas nesta segunda-feira (21), Dia da Árvore, no acampamento Herdeiros da luta de Porecatu, Norte do Paraná. Foram mais de mil mudas, entre 20 espécies nativas da região, cobrindo 1,1 hectare na área coletiva da comunidade.
Numa manhã em que uma leve chuva traz a esperança de uma primavera que anuncia flores, mas que também pode trazer águas para uma boa safra de alimentos e alívio para as matas e rios de todo país. Na área onde antes só havia cana-de-açúcar, degradação do solo e da vida, hoje a comunidade já possui uma grande diversidade de alimentos saudáveis, que é fonte de renda para centenas de família. Agora, com o plano de aumentar a área de árvores nativas a serem plantadas, fizeram mais um compromisso com a preservação das águas, do solo e das matas.
Todas e todos os moradores do acampamento participaram do preparo da área e plantio, respeitando as medidas de segurança sanitária, com forte protagonismo das crianças Sem Terrinha e jovens estudantes da escola itinerante do acampamento. Árvores essas que serão poleiro e refeição para tantas aves, e ainda um delicioso cardápio de frutas e brincadeiras para essas crianças. Afinal, quem não se sente mais humano em plantar e ver crescer uma árvore? Que criança nunca se arriscou em subir num pé de fruta pra alcançar aquela fruta mais bonita e gostosa?
A atividade é parte da campanha “Plantar árvores, produzir alimentos saudáveis” do MST, que plantará nos próximos anos 100 milhões de árvores nas áreas de reforma agrária. A campanha acontece em meio a um dos mais tristes crimes ambientais já provocados em nosso país, com a queimada de milhões de hectares de áreas naturais em todo o Brasil, em especial no Pantanal e na floresta amazônica. Em parceria para esta atividade, as famílias contaram com a doação das mil mudas do Laboratório da Biodiversidade e Restauração de Ecossistemas (LABRE), da Universidade estadual de Londrina (UEL), visto que boa parte da área do município de Porecatu, é classificada como área estratégica de conservação e recuperação, segundo dados do Instituto Ambiental do Paraná (IAP).
Em todo o Paraná, o plantio de árvores se espalhou por acampamentos e assentamentos de 10 cidades nesta segunda-feira. Ao todo foram mais de 7 mil novas árvores que começaram a crescer em territórios da Reforma Agrária. A semana de plantio de árvores segue até o dia 26, com ações previstas em todas as regiões do estado.
Bosque da Biodiversidade “Ana Primavesi”
“Um pingo de chuva, um dia se transformará em chuvisco”. Esse é o lema de fé estampado na placa que identifica o bosque que leva o nome da engenheira agrônoma Ana Primavesi, que tanto fez para divulgar a ciência e prática da agroecologia em nosso país. Com certeza, a querida Ana sorriu ao ver centenas de homens, mulheres e crianças esparramados pela antiga área do latifúndio, com a mão na terra, abrindo cuidadosos berços da biodiversidade, abrindo passagem para um futuro mais respirável, com mais aves, frutas, crianças e livres do agronegócio.
*Igor de Nadai é educador e acampado na comunidade Herdeiros da Luta de Porecatu