Cuidar e organizar: duas dimensões que o povo em movimento não vai abrir mão
Por Coletivo de Comunicação MST/SP
Da Página do MST
Como cuidar da gente em meio à pandemia da Covid -19 que, no Brasil, já ceifou 136 mil vidas por conta da política genocida do governo de Jair Bolsonaro? Como cuidar da gente num contexto que, há seis meses, desorganizou intensamente nossa vida, nosso cotidiano, os nossos sentidos e sentimentos, a vida laboral, as relações familiares e afetivas?
Executar protocolos sanitários para evitar o contágio, como o isolamento e o distanciamento social, lavar as mãos com água e sabão frequentemente, utilizar álcool em gel e usar máscaras, são algumas das medidas que precisamos praticar para obter uma mínima proteção contra a infecção e continuar protegendo aquilo que é o nosso maior bem, nossa vida e a do outro.
Mas se é verdade que precisamos nos precaver de todas as formas para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, é também verdadeiro que precisamos atentar-nos para o potencial desarticulador que esta crise econômica, política, social e sanitária carrega, e como ele é mobilizado para, sofisticadamente, aniquilar a vida das pessoas e a força da classe trabalhadora no terreno da luta de classes em nosso país.
Entendendo, portanto, que essa crise desorganiza profundamente todas as esferas da vida da classe trabalhadora é que se reconhece a necessidade imperiosa de se manter organizada para encontrar alternativas efetivas de sobrevivência do povo e para derrotar este governo de morte que se instalou no poder.
Diante desse momento em que o Estado brasileiro promove a morte de seres humanos, de animais e plantas, como estamos vendo com as vítimas da Covid-19 e com as queimadas na Amazônia e no Pantanal, o MST, que sempre promoveu o debate da saúde junto à sua militância, vem reforçando o seu compromisso em defesa da vida a partir da realização de ações para a promoção da saúde popular e de práticas de autocuidado.
No estado de São Paulo, por exemplo, tivemos, em julho, a I Formação dos Formadores e Formadoras dos Agentes Populares de Saúde do Campo, resultado da parceria entre a Universidade Federal de Pernambuco e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Neste mês de setembro, estão acontecendo no acampamento “Comuna da Terra Irmã Alberta”, na cidade de São Paulo, os encontros “Trocas e Somas de Saberes Populares em Saúde”. Um espaço para a realização de práticas em saúde e autocuidado, que parte da identificação da diversidade de ervas que cada acampada e acampado possui no seu lote, mas também do acolhimento e da escuta sobre as suas experiências de saúde e autocuidados.
Os encontros têm trabalhado no sentido de fazer o levantamento das ervas que cada participante cultiva em seu lote, bem como as receitas de chás, lambedores, xaropes que conhecem e fazem para cuidar de alguns desequilíbrios comuns. Entre uma receita e outra contada na roda, essas mulheres e homens partilham suas lembranças, e, dessa maneira, vão reorganizando seus conhecimentos e saberes que estão guardados na memória.
Com encontros quinzenais, o espaço para as Trocas e Somas de Saberes Populares em Saúde tem planejado concluir sua primeira etapa de trabalho no mês de novembro, quando espera ter também iniciado o horto medicinal na comunidade.
Partilhar o vivido, o pensado e operado em suas vivências é a parte substantiva para se estabelecer uma convivência na qual seja valorizada a importância do autocuidado e do cuidar do outro. Promover espaços em que nosso povo possa falar sobre as práticas e as descobertas vividas no cotidiano, expressar a curiosidade e a vontade de aprender são alguns dos elementos que nos possibilitam fortalecer nossa referência coletiva para a construção do cuidado enquanto ação humanizadora de ser e de estar neste mundo, mas também de resgatar os saberes ancestrais e tradicionais que são praticados pelo povo Sem Terra. Dessa maneira, seguimos no desafio de o povo cuidar do povo e de aprender com ele em movimento.
*Editado por Fernanda Alcântara