MST São Paulo lança Carta aos candidatos e candidatas nas eleições municipais
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Por Julia Giménez, do Coletivo de Comunicação do MST em São Paulo
Da Página do MST
Às véspera das eleições municipais no Brasil, em 15 de novembro, o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra de São Paulo lança uma carta aos candidatos e candidatas do estado. No documento intitulado “A Reforma Agrária Popular e os municípios”, o MST busca contribuir na plataforma política dos candidatos e candidatas às câmaras municipais e prefeituras com um conjunto de orientações e propostas para pautar políticas públicas e programas sociais que possam “fortalecer a soberania alimentar, a reforma agrária, a luta dos povos do campo e medidas ambientais que enfrentem o colapso climático”.
Num contexto de crise agravada pela pandemia, o movimento acende um alerta e convoca a entender as eleições “como parte da disputa da luta de classes, evitando divisionismos, projetos pessoais e politizando ao máximo esse processo que exige posicionamento de classe, antiracista e que combata o machismo, a misoginia e a lgbtfobia”. Para Gilmar Mauro, da Coordenação Nacional do MST, “a ideia, além de apresentar um conjunto de propostas, é unificar a nossa posição acerca das eleições e estimular para nossa base participar do debate, contribuir para eleger o maior número de candidatos e candidatas comprometidos com as questões populares e nos somar aos setores progressistas da sociedade para enfrentar a direita”.
“Todos nós sabemos que as eleições são a principal tática e estratégia das esquerdas partidárias e nós devemos nos envolver e contribuir; se não fizermos, a direta fará e aproveitara dessa parte da institucionalidade para nos atacar e destruir as políticas públicas que beneficiam a nossa classe”, sinalizou Gilmar Mauro. Ele afirmou também que o objetivo é acumular forças para fortalecer a luta pela Reforma Agrária Popular e assentar bases na construção do poder popular.
A carta está organizada em cinco tópicos (soberania alimentar, arrecadação de terras, defesa ambiental, cultura, educação e saúde e infraestrutura) e explicita medidas concretas referentes às políticas municipais em todo o estado de São Paulo. “Não serão anos fáceis para fazer política! Por outro lado, é justamente nos municípios onde é mais possível exercer a política como participação direta, o estímulo democrático à existência dos movimentos populares e um tipo de gestão que veja no povo as soluções e não os problemas”, encerra a carta aos candidatos e candidatas paulistas.
Confira a carta na íntegra.
A Reforma Agrária Popular e os municípios
Carta do MST aos candidatos e candidatas às câmaras municipais e às prefeituras
As eleições de 2020 ocorrem em meio a uma pandemia que já provocou a morte de milhares de brasileiros e brasileiras, principalmente do povo pobre e negro. A pandemia intensificou as consequências da crise do sistema do capital sobre a vida dos trabalhadores e trabalhadoras e também sobre a natureza.
Essas eleições estão marcadas pelo contexto do golpe que segue sendo aplicado no país, junto com sua pauta política e econômica que dá unidade à classe dominante, de acordo seus interesses privados. São tempos de guerras híbridas, e as chamadas “fake news” são só uma das evidências disso, e assim, os candidatos e candidatas ao pleito municipal, devem conceber as eleições como parte da disputa da luta de classes, evitando divisionismos, projetos pessoais e politizando ao máximo esse processo que exige posicionamento de classe, antiracista e que combata o machismo, a misoginia e a lgbtfobia.
A crise social avança com mais de 13 milhões de desempregados e cerca de 40 milhões de pessoas vivendo de bico ou trabalho precário e a fome já é realidade para uma grande parcela da população, sem renda e trabalho. Neste contexto, se faz urgente e necessário pautar no município políticas públicas e programas sociais que possam fortalecer a soberania alimentar, a reforma agrária, a luta dos povos do campo e medidas ambientais que enfrentem o colapso climático.
Temos vocês como aliados e aliadas históricos de nossa luta e agradecemos todo o compromisso com a pauta da Reforma Agrária Popular. Assim, no sentido de ajudar a construir um projeto popular nos municípios, apresentamos algumas medidas que gostaríamos que sejam incorporadas às suas plataformas políticas.
1. SOBERANIA ALIMENTAR
– Enfrentamento ao problema da fome, da miséria e também do sobrepeso e da obesidade, fortalecendo programas e políticas públicas que incentivem a produção de alimentos diversos e saudáveis nas áreas da reforma agrária, através do PAA Municipal – Programa de Aquisição de Alimentos e do PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar.
– Organizar e manter o banco popular de alimento do município com participação dos pequenos produtores no abastecimento periódico e na gestão.
– Estimular a produção agroecológica e de agroflorestas, sem o uso de agrotóxicos ou transgênicos, desenvolvendo uma política de fomento, crédito e aquisição de insumos. Combater a pulverização aérea de agrotóxicos como medida fundamental para garantir alimentos saudáveis, preservação dos bens naturais e da saúde humana.
– Incentivar a formação do COMUSAN ou CONSEAN – Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional. Construção do Plano de Soberania Alimentar do município.
– Criação da Secretaria de Segurança Alimentar e de Agricultura nos municípios e da CAISAN – Câmara Intersecretarial de Segurança Alimentar e Nutricional.
– Estimular a criação de frentes ou comissões de soberania alimentar nas Câmaras Municipais, com ampla participação da sociedade.
– Garantir as condições para redes de comercialização direta dos pequenos produtores com os consumidores, através de cestas, pontos de distribuição e feiras periódicas com caráter educativo sobre nutrição e vida saudável.
– Estimular parcerias entre pequenos produtores e o Ceagesp (onde houver).
– Buscar parcerias para construção de agroindústrias dentro das áreas da reforma agrária, com pequenas unidades de beneficiamento que possibilitem o agregar valor à produção, ampliando a diversidade de produtos e gerando trabalho e renda, principalmente para a juventude e para as mulheres.
2. ARRECADAÇÃO DE TERRAS
– Disponibilizar áreas do município para formação de Comunas da Terra, com área para moradia, produção de alimentos e cultivo de árvores.
– Arrecadar áreas da União e do Estado que podem ser solicitadas pelos municípios para o desenvolvimento de projetos sociais de moradia, produção de alimentos e geração de renda.
– Estimular a agricultura periurbana, tendo os agricultores e agricultoras dos acampamentos e assentamentos como agentes populares de hortas, agroflorestas, produção de sementes, construção de viveiros de mudas etc.
3. DEFESA AMBIENTAL
– Estimular a formação do CONDEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente com ativa participação da sociedade e construção do Plano Municipal de Meio Ambiente do município.
– Incentivar a agrofloresta como meio de produção de alimentos fartos e diversos, junto com florestas e seu manejo, o que pode criar sistemas saudáveis de equilíbrio com a natureza.
– Estruturar viveiros nas áreas da reforma agrária e parcerias com hortos municipais, para ampla distribuição de mudas de árvores para as populações urbanas, especialmente das periferias.
– Garantir a preservação das águas.
4. CULTURA, EDUCAÇÃO E SAÚDE
– Garantir a educação do campo e o direito das crianças, adolescentes e jovens de estudarem próximos de suas moradias e dentro de sua realidade. Não fechar nenhuma escola do campo e construir escolas onde for necessário nas áreas da educação infantil, Básica e EJA – educação de jovens e adultos.
– Organizar bibliotecas populares, espaços de cultura com diferentes linguagens artísticas, centros de esporte e lazer dentro dos acampamentos e assentamentos.
– Aportar a montagem de rádios populares, rádios postes, jornais impressos, jornais murais que estimulem a comunicação e o acesso à informação.
– Estimular processos de formação e capacitação em soberania alimentar, alimentação saudável e defesa popular da natureza contra as mudanças climáticas.
– Efetivar a construção de unidades de saúde nas áreas da reforma agrária, implantação do PSF Programa Saúde da Família e incentivo ao cultivo e manipulação de ervas medicinais e condimentares.
– Estruturação de políticas e programas de enfrentamento à violência doméstica, especialmente contra crianças, mulheres, LGBTs e vulneráveis, voltado para a realidade do campo.
5. INFRAESTRUTURA
– Melhoria e manutenção de pontes e estradas dos acampamentos e assentamentos possibilitando a circulação de pessoas, veículos, transporte escolar, e de escoamento da produção, com pavimentação dos trechos mais críticos.
– Garantir do acesso à água potável nas áreas da reforma agrária para consumo humano, redes de distribuição onde for possível e busca de soluções para captação e armazenamento de água para irrigação.
– Construção de espaços coletivos nas áreas da reforma agrária, tais como praças, bosques, quadras poliesportiva e academia ao ar livre.
– Disponibilizar Internet em espaços públicos proporcionando o acesso às comunidades do campo, historicamente inviabilizadas do direito à comunicação.
Certamente são muitos os desafios para os futuros vereadores, vereadoras, prefeitos e prefeitas, principalmente pela política ultraliberal do governo federal, seguida pela política empresarial e entreguista do governador João Dória, que entre outras medidas propôs o PL 529 que extingue diversas instituições e também a Fundação ITESP.
Não serão anos fáceis para fazer política! Por outro lado, é justamente nos municípios onde é mais possível exercer a política como participação direta, o estímulo democrático à existência dos movimentos populares e um tipo de gestão que veja no povo as soluções e não os problemas.
Desejamos a todos e a todas que estão nesta tarefa de fazer a disputa e exercer a política institucional, que tenham muito compromisso com a classe trabalhadora, ética militante e desejo incansável pela transformação social.
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST / SP
Outubro de 2020