Territórios de resistência do MST mantém viva memória do revolucionário Che Guevara
Por Antony Corrêa, Jade Azevedo e Lucas Souza
Da Página do MST
A Jornada Anti-Imperialista acontece entre os dias 5 e 10 de outubro com o tema: Che e seu legado anti-imperialista e internacionalista. A ação é convocada pela Assembleia Internacional dos Povos (AIP) com o objetivo de denunciar mundialmente o modelo capitalista e a atuação das forças imperialistas nos territórios.
Construída por mais de 200 organizações, movimentos sociais populares, partidos políticos, sindicatos e redes internacionais, a Jornada tem como marca a solidariedade entre os povos, e ocorre em resposta ao acirramento da luta de classes internacionalmente, na forma de ataques à democracia, instabilidade geopolítica e repressão.
O homenageado Ernesto “Che” Guevara nasceu em Rosário, Argentina, em 14 de junho de 1928. Foi médico, jornalista, escritor, diplomata, líder revolucionário, viajante e internacionalista. Em sua juventude, quando ainda cursava medicina, viajou pela América Latina, testemunhando a pobreza, opressão e a desigualdade causada pela exploração capitalista. Após a aventura suas posições se radicalizaram e ele esteve presente, como guerrilheiro somando-se às lutas por independência e liberdade de diversos países latino americanos.
Em todo o Brasil, territórios e coletivos de luta do MST prestam homenagens nomeando espaços e organizações coletivas com o nome do revolucionário. No Paraná existem dois assentamentos: um no município de Querência do Norte e outro em Teixeira Soares, e uma brigada, em Ortigueira que levam o nome do argentino.
Já em Santa Catarina, as homenagens a Che Guevara estão no município de Passos Maia e no Rio Grande do Sul, em Hulha Negra. São dois assentamentos, que somados chegam a 219 famílias assentadas nestes locais, segundo informações do painel de assentamentos desenvolvido pela Coordenação-Geral de Tecnologia da Informação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra.
Luta e Solidariedade são os lemas da Brigada Che Guevara
No acampamento Maila Sabrina, em Ortigueira (PR), está localizada a Brigada Che Guevara, que completou 17 anos. Jocelda Ivone de Oliveira, da direção política da brigada, relembra que após a ocupação da Fazenda Brasileira, ocorrida no dia 8 de janeiro de 2003, a coordenação do acampamento levantou nomes de representantes da luta para nomear a Brigada. Estes nomes foram passados para os núcleos de base, que debateram e escolheram o nome do Che Guevara. “Ele não tinha medo de lutar, tinha persistência, espírito de sacrifício e também, algo muito presente aqui no acampamento, companheirismo”, conta.
A luta dessas famílias persiste. O acampamento já foi o 5º maior distrito rural do Paraná, um dos maiores latifúndios do estado, com território de 10.600 hectares, que antes estava devastado ambientalmente pela produção de búfalos. As 380 famílias acampadas chegaram, construíram suas casas, escolas, mercado, igrejas e um centro comunitário.
Mesmo reconstruindo a área devastada pelo latifúndio, produzindo alimentos saudáveis através de um projeto de campo que realiza a função social da terra, cultivando uma vida digna e coberta de solidariedade, o Acampamento Maila Sabrina, sofre com ameaça de despejo. As ameaças se intensificaram no ano passado, mitigado pelas forças imperialistas que ganham forma no agro-minério-negócio.
Diante dessas injustiças, dos desastres ambientais, incertezas, as ameaças de despejo, em tempos de pandemia, a Brigada segue em resistência e transformação social, lutando pelo próximo. A comunidade participou duas vezes da ação de doação de alimentos para famílias de Curitiba. Na primeira ação em abril, foram arrecadas entre as famílias do acampamento mais de 14 toneladas de alimento e produzidos 700 pães pela comunidade.
Na segunda doação, em agosto, foram doados mais sete toneladas de alimento e 1.100 pães às famílias em situação de vulnerabilidade na periferia de Curitiba. Hoje, pensando nas doações do Natal, as famílias do Maila Sabrina iniciaram o cultivo de 1.500 mudas de melancia, 1.500 pés de abóbora e milho verde. Tudo será enviado como doação às famílias da cidade. “Isso só de plantio coletivo que iremos cuidar juntos, só para enviar como doação. Além do plantio coletivo, cada família também irá doar do seu alimento produzido”, conta Jocelda, orgulhosa de poder ajudar quem mais precisa nesse momento de pandemia.
A Brigada Che Guevara é conhecida na capital desde a prisão do ex-presidente Lula, na Polícia Federal de Curitiba, eles estiveram presentes na Vigília em várias oportunidades, participando ativamente em diferentes setores, além dos habituais bom dia e boa noite. “Chegamos em Curitiba dois dias após a prisão de Lula, e retornamos outras quatro vezes, permanecendo por quinze dias em cada”, relembra Jocelda. Para ela aquele foi um espaço muito importante de formação e defesa da democracia, “além de defender a pessoa do Lula, estávamos defendendo a democracia do Brasil”, ressalta.
A Brigada Che segue em luta produzindo comida para o povo. É por meio da solidariedade que eles homenageiam o revolucionário e incentivam muitos companheiros.
*Editado por Solange Engelmann