Na Paraíba, MST e parceiros fazem ato contra volta às aulas presenciais na pandemia
Por Luana Rêgo – Comunicação MST/PB
Da Página do MST
“Volta às aulas, só com segurança total. A vida em primeiro lugar!”. Essa é a mensagem que os movimentos populares da Paraíba têm levado às ruas de Campina Grande neste mês de outubro.
Logo no primeiro dia do mês, a prefeitura de Campina Grande autorizou a volta às aulas presenciais para a educação infantil privada. Desde então, a decisão tem sido duramente criticada. Na última semana, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se somou a pais, mães e organizações de profissionais da educação em ato público pela revogação da medida.
A pandemia não acabou
Segundo Luciana Leandro, professora do curso de Educação da UFCG, a decisão da Prefeitura reforça uma ideia precipitada sobre a gravidade da pandemia. “Aqui em Campina Grande toda essa questão da flexibilização tem levado as pessoas a achar que a pandemia já passou. Muita gente abrindo mão do uso da máscara e do isolamento social. No trabalho com os Agentes Populares de Saúde a gente tem ido aos bairros e se deparado muito com isso, sobretudo nas periferias.”
Ela explica ainda que o protesto não é só em favor da vida das crianças, mas também das/dos profissionais de educação que serão obrigadas/os a voltar às salas de aula. “Os pais e mães das crianças podem até optar se mandam as crianças ou não. Mas e os professores? Sobretudo as mulheres, porque a maioria de profissionais dessa etapa são professoras mulheres. Quem cuidaria delas? Quem se responsabilizaria pela saúde delas? Elas não têm opção”.
Pressão eleitoral
Outra questão destacada por Luciana é a proximidade das eleições municipais. Para ela, a autorização de retorno às aulas atende a uma pressão de empresários do setor na cidade. “Nesse momento de eleição a prefeitura quis agradá-los. Porque infelizmente a cidade de Campina Grande tem mais da metade das matrículas de crianças até seis anos de idade na rede privada. São escolas muito diversas e variadas. Vão desde as escolas maiores de elite até as menores, sem muito controle e sem muita possibilidade de fiscalização por parte da prefeitura”.
Na análise de Dilei Schiochet, do MST-PB, as eleições também aparecem como fator decisivo para a flexibilização. “Campina Grande é uma das cidades mais conservadoras do semiárido do Nordeste brasileiro. Existe aqui uma forte pressão política por parte da elite no processo eleitoral. São as escolas privadas que foram autorizadas a retornar. É a elite conservadora, a mesma que trouxe a Covid-19 na volta de suas viagens ao exterior, que hoje quer que reabra as escolas”.
“Nós do MST estamos defendendo que abrir escolas em período de pandemia é crime. Inclusive, a secretaria de saúde do Estado está orientando que não voltem às aulas. Mas a questão eleitoral perpassa também por essa elite que não está preocupada com as futuras gerações”, concluiu.
Em recente declaração, o secretário de Saúde do estado da Paraíba, Geraldo Medeiros, recomendou aos pais e mães que não encaminhem seus filhos para as aulas presenciais. Além do exemplo dos altos índices de contaminação de crianças em países que autorizaram o retorno das atividades presenciais – como o caso dos Estados Unidos – o secretário citou como argumento a ocorrência de uma nova manifestação tardia da Covid-19 em crianças: a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica. Embora haja ainda um pequeno percentual de casos, há, segundo ele, uma mortalidade elevada nestas situações.
Em respeito às exigências de segurança, o ato realizado em frente à secretaria de Educação do município foi simbólico e contou com a presença apenas de lideranças das entidades envolvidas. Participaram representantes do Sindicato dos Trabalhadores Públicos Municipais do Agreste e Borborema (Sintab), da Associação de Docentes da Universidade Estadual da Paraíba (Aduepb), Associação de Docentes da Universidade Federal de Campina Grande (Adufcg), Sindicato dos Trabalhadores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica da Paraíba (Sintef-PB), Sindicato dos trabalhadores do Ensino Público (Sintep), Sindicato dos Trabalhadores de Estabelecimentos Privados Religiosos Beneficentes Filantrópicos de Ensino do Agreste da Borborema (Sintenp), do Coletivo de Pais e Professores pela Vida, do Levante Popular da Juventude e da Campanha Mãos Fraternas.
*Editado por Ludmilla Balduino