Ler o mundo: lançamento da Rede de Bibliotecas Populares no Nordeste

Jornada Anti-Imperialista termina com doações de livros no fomento à batalha das ideias e criação de Bibliotecas Populares nas comunidades do campo e da cidade

Durante doações de livros feita por Agentes Populares durante ação em Brasília Teimosa, Recife (PE). Foto: Acervo Mãos Solidárias.

Por Lays Furtado
Da Página do MST

O Dia Nacional do Livro (29/10) será celebrado com campanhas de doações. Dando continuidade às ações que têm ocorrido desde o começo de outubro, o MST trabalha com as reflexões e mobilizações das lutas contra o imperialismo e para o fortalecimento da batalha das ideias por meio da educação popular.

Desde do início do mês, o MST mobilizou diversas jornadas em conjunto a instituições e movimentos sociais da Frente Brasil Popular e de todo o mundo.  Internacionalizando a esperança na luta antiimperialista e denunciando as mazelas sociais causadas pelo efeito global do sistema capital, onde a ganância de nações poderosas detêm o controle sobre povos e nações mais pobres.

No Nordeste, as ações da Jornada Anti-Imperialista contaram com atos, formações de Agentes Populares e solidariedade. Que agora se dá também pela arrecadação de livros que fomentarão o lançamento de Redes de Bibliotecas Populares em áreas rurais e urbanas em Pernambuco e Alagoas.

Dessa forma, se nos últimos meses a tônica emergencial foi em prol da solidariedade, feita compartilhando comida e cuidados comunitários com a saúde, agora as campanhas e brigadas mobilizadas se propõem a incluir livros como item básico da cesta destinada às famílias vulneráveis, para seguir matando a fome e alimentar também as ideias.

“Nós desenvolvemos as atividades de solidariedade no bojo das diversas iniciativas que estão em construção e em desenvolvimento país afora. Então nós somamos desde as pessoas que trabalham com a produção das marmitas solidárias, o mais emergencial, as cestas básicas até as atividades de formação de lideranças no campo da saúde ou da educação popular, como é o caso de Pernambuco”, conta Carlos Bellé, coordenador da Expressão Popular, editora que está doando milhares de livros para fomentar o lançamento e acervo da Rede de Bibliotecas Populares que será criada ou beneficiada.

Assim como o alimento, muitas vezes o acesso aos livros ainda é um privilégio, pois infelizmente não chega à grande parte da população, tanto nas periferias, quanto nos acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária.

“Colocamos os livros como uma simbologia política, de trabalho que materializa ideias e deve ser acessado por todos. E o livro, de certa maneira, possibilita que a partir dele você desenvolva também outras atividades. Seguimos muito o legado do Paulo Freire da educação popular que diz: educar é um ato de amor. A segunda [questão] que nós colocamos sobre ler o mundo e a leitura da palavra. Então ressaltamos a importância de conhecer a realidade e, a partir daí, procurar entender o porquê das coisas”, menciona Bellé.

Com isso, iniciamos uma força tarefa de solidariedade que precisa de muitos livros e muitas mãos para que a ação se torne multiplicadora e alcance seu objetivo de democratizar o acesso aos livros e ao conteúdo reflexivo dos debates que possam ser gerados a partir dessas mobilizações e seus desdobramentos.

Mochila Militante abastece um exército de Agentes Populares

Por meio de outra ação de doações, a Expressão Popular lança a Mochila Militante, como modo de formalizar o compromisso que a editora tem com a democratização do acesso aos livros e o incentivo à formação de Agentes Populares. O objetivo é garantir que esses livros estejam nas mãos de pessoas que possam potencializar o debate  e suas possibilidades, a partir da leitura das palavras e do mundo.

Pois o imperialismo causa fome e mortes, como alertamos. Mas também produz a desinformação, ao segregar acessos à bens culturais e intelectuais ao povo. E é por esses e outros direitos que estamos na luta anti e contra o imperialismo.

“Na concretização desse objetivos temos as três ações que estamos desenvolvendo. Uma delas é a mochila militante, na qual que selecionamos três títulos: “A revolução de Anita”, que trabalha a questão da educação popular, a alfabetização no início da revolução cubana; “O trabalho de base”, que  mostra como fazer o trabalho, como se organizar, como fazer uma reunião com ideias bem práticas, do Ranulfo Veloso; e “Ideias para a luta” de  Marta Annika, que projeta possibilidades de você construir um mundo diferente. Esses três materiais são destinados aos militantes que trabalham efetivamente nas periferias, sejam eles no campo da educação popular da saúde ou da organização local. Para que simbolicamente essa mochila represente que eles estão se qualificando a partir da inserção nos diversos lugares particularmente nas grandes periferias Brasil afora”, aponta Bellé.

Participantes do curso de Agentes Populares de Educação de Pernambuco e Alagoas que se formaram no final do último mês na sede do Armazém do Campo Recife já receberam seus certificados de formação, e estão ansiosas(os) para o recebimento do kit de livros que chegarão com as Mochilas Militantes.

“Ao elevar o nível de consciência, ao possibilitar o acesso ao conteúdo e as atividades formativas ao conhecimento da realidade, necessariamente você desenvolve os valores humanos, particularmente da solidariedade ou da indignação contra as injustiças. Isso possibilita iniciar um processo de formação, autoformação, desenvolvimento de uma consciência crítica. É esse o processo que estamos introduzindo aqui”, conclui Carlos Bellé.

Curso de Agentes Populares de Educação

As próximas etapas do curso de Agentes de Educação Popular estão sendo projetadas para embasar cinco módulos, como foi feito em sua primeira versão, dando continuidade aos desafios de construir a organização social a partir da educação popular e seus instrumentos. Serão livros, leituras e círculos de cultura que ocorrerão nas comunidades onde já atuam as(os) Agentes Populares por meio das campanhas Periferia Viva e Mãos Solidárias nas regiões Metropolitanas de Recife e Maceió.

Rosa, do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos – MDT, viajou de Alagoas à Pernambuco para formar-se Agente Popular de Educação. E apesar de “não ler as letras”, nos traz uma leitura de mundo que a torna uma referência em sua comunidade e para as campanhas de solidariedade que atua, na luta contra as desigualdades, por mais direitos e acesso ao conhecimento nas trocas comunitárias:

“Pra mim foi maravilhoso conhecer vocês, trocar experiências, trocar o conhecimento. O conhecimento meu, do meu estado, da minha comunidade, do meu povo para vocês. Vocês passam o conhecimento de vocês pra mim, pra mim trazer daí pra cá”, afirmou Rosa.

Ocupar, Resistir e Educar

Em Alagoas, o MST mobiliza mutirões para a campanha: “Ocupar Resistir e Educar – Campanha em Defesa da Educação do Campo”, na construção das Bibliotecas Populares nas áreas de Reforma Agrária.

O objetivo é fortalecer o cultivo da cultura, arte e literatura como dimensão da organização da vida. Com as mobilizações foram disponibilizados quatro pontos de coleta de livros no estado, que estão recebendo os livros que abastecerão as Bibliotecas Populares, onde as doações são muito bem-vindas.

Pontos de arrecadação de livros para as Bibliotecas Populares em Alagoas:

Maceió
Av. Celeste Bezerra, 627 Levada
Contato: (82) 9 9657 1048

Delmiro Gouveia
R. Olavo Bilac, 254 Centro
Contato: (82) 9 9948 0774

Arapiraca

Clínica Estimular
Av. Ceci Cunha, 1541 Novo Horizonte
Contato: (82) 9 9993 4749

Olho D’Água do Casado

Assentamento Nova
Contato: (82) 9 8761 4756

Lançamento da Rede de Bibliotecas Populares em Pernambuco

Para ampliar essas correntes, neste próximo sábado (24) às 11h, será lançada a campanha de doações de livros na região Metropolitana de Recife, que fomentará a Rede de Bibliotecas Populares. A primeira Biblioteca Popular será instalada no próprio Armazém e foi batizada com o nome do mestre que lia o mundo: Paulo Freire. E em seguida será lançada em várias comunidades atendidas pela campanha Mãos Solidárias. O ato de lançamento e ponto de arrecadação de livros será feito no:

Armazém do Campo Recife
Av. Martins de Barros, 230 Santana
Contato: (81) 9 9782 4997

Após o lançamento no Armazém do Campo, a primeira comunidade a receber o fomento em doações de livros será o Espaço Heleno Veríssimo, localizado em Comportas, Jaboatão dos Guararapes – onde já funciona um Banco Popular de Alimentos e formações de Agentes Populares de Saúde. Em seguida,  a segunda Biblioteca será feita em Paulista, região metropolitana do Recife; onde a comunidade já está se organizando para receber os livros e planejando atividades dos círculos de cultura.

*Editado por Fernanda Alcântara