Pau-brasil com mais de 600 anos é preservado por famílias Sem Terra em assentamento no extremo sul da Bahia

As famílias do Assentamento Pau Brasil preservam mais de 800 pés da espécie nativa em área de reforma agrária
A árvore da espécie pau-brasil é guardada pelas famílias assentadas no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Pau Brasil

Por Coletivo de comunicação do MST na Bahia
Fotos: João Carnicel (MST/BA)
 

No dia 7 de março de 2009, quando as famílias Sem Terra do Assentamento Pau Brasil, no extremo sul da Bahia, receberam a emissão de posse do território, elas assumiram um compromisso: viver em harmonia com a Mata Atlântica, preservando a sua biodiversidade.

Através desse compromisso com a terra, a água e a vida, os trabalhadores sem terra deixaram de ser apenas agricultores para também tornarem-se guardiões da floresta onde vivem, na zona rural do município de Itamaraju, próximos à BR-101.

Famílias do Assentamento assumiram o compromisso de cuidar do patrimônio natural do território

O bioma da Mata Atlântica abrange 17 territórios nacionais e hoje restam apenas 12% da floresta que existia originalmente. Todas as famílias assentadas assumiram o compromisso de cuidar e preservar dessa área ambiental e, principalmente, as espécies nativas e históricas existentes.

Dentre as espécies nativas, uma que merece atenção, por ter sido tão explorada a ponto de se tornar rara – o pau-brasil – é também a árvore-símbolo do Assentamento. Não é por acaso: o Assentamento Pau Brasil é o recordista em população de árvores dessa espécie em todo o país. Em um trabalho de identificação de área, realizado em 2010, foram registradas mais de 800 árvores de pau-brasil.

Entre os indivíduos de pau-brasil residentes do Assentamento, está a Árvore Rei, a maior e mais antiga árvore de pau-brasil do país, com mais de 600 anos e 7,13 metros de circunferência do tronco. Também foram reconhecidas outras espécies centenárias e nativas do território do Assentamento, como pequi, jacarandá, sapucaia e oiti.

Para Cláudia Vicente, agricultora e guardiã, “a conquista deste assentamento traz para nós as responsabilidades de produzir de forma agroecológica e de preservar a Mata Atlântica, de viver em harmonia com a natureza, com as árvores, com a floresta. A sociedade precisa conhecer o papel da Reforma Agrária na preservação e no cuidado do nosso patrimônio histórico. É por isso que, além de agricultores e militantes, viramos guardiões da floresta que cerca nosso assentamento.”

Por se localizar dentro de uma área de preservação de floresta nativa de Mata Atlântica, o território é, oficialmente, um Projeto de Assentamento Sustentável (PDS). Nesse formato, há o compromisso das pessoas em preservar as riquezas vegetais e vitais da área de preservação. As famílias organizam-se economicamente por meio de atividades agroecológicas, como produção de alimentos nos quintais produtivos, venda de cacau cabruca e coleta de sementes.

Coleta de sementes é uma das atividades socioambientais promovidas pelos assentados do PDS Pau Brasil, no extremo sul da Bahia

O grupo de coletores de sementes do assentamento conta com a contribuição do Programa Arboretum, com objetivo de formação dos agricultores para identificação, manejo, coleta e distribuição das sementes.

Para além dos companheiros do Pau Brasil, o Movimento Sem Terra na Bahia também firmou um compromisso: plantar mais de 1 milhão de árvores nos próximos 10 anos. Esse compromisso faz parte da campanha nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, com a proposta de que famílias acampadas e assentadas plantem 100 milhões de árvores em todo Brasil nos próximos 10 anos. No extremo sul da Bahia, o MST plantou, somente em 2020, mais de 200 mil mudas de árvores nativas e frutíferas.

*Editado por Ludmilla Balduino