Avanço da monocultura no Maranhão ameaça produção do acampamento Marielle Franco
Por Mariana Castro
Do Brasil de Fato
Em meio a uma imensidão de soja e eucalipto, o acampamento Marielle Franco, próximo ao município de Itinga, no Maranhão, é considerado um ponto de resistência e sustentabilidade. Apesar de ainda não terem garantia da posse da terra, que está em processo de desapropriação, os agricultores acampados ali já avançam na produção de arroz, feijão, fava, abóbora, farinha, milho e diversas frutas e hortaliças.
Acampadas desde 9 de junho de 2018, as cerca de 150 famílias produzem uma diversidade de alimentos em um pequeno espaço de 110 hectares da área ocupada, em meio à pulverização de agrotóxicos para o cultivo de soja e eucalipto que se espalha pelo sul maranhense.
A região compreendida como mesorregião sul maranhense é pioneira na produção de soja em larga escala. Ainda no final dos anos 1990, alcançou a margem de 448,4 mil toneladas produzidas em quase 176,4 mil hectares, que antes era espaço de agricultores familiares que, da terra, tiravam a subsistência, mas se viram obrigados a migrar para centros urbanos como Itinga, Açailândia e Imperatriz.
Filho de lavradores, o produtor Emílio Alves explica que as famílias ainda usam técnicas manuais de plantio e colheita, mas a produção já é suficiente para manter a subsistência de todas elas e gerar renda.
“Apesar de ser uma produção chamada de roça no toco, que é na foice e no machado mesmo, hoje nós temos uma produção muito boa. Digo com toda a segurança: hoje o feijão, o arroz, a fava, que é o que a gente consegue guardar, eu ainda tenho na minha casa para o consumo, frutos da mão de obra braçal, frutos da nossa terra”, destaca Emílio.
Desapropriação em andamento
O acampamento Marielle Franco possui uma área de plantio reduzida em razão do processo de desapropriação em andamento. Contudo, em cerca de 110 hectares, os agricultores garantem destaque especial à produção de arroz, que deve alcançar a marca de 140 toneladas para a safra de 2020/2021.
Integrante da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Divina Lopes explica que, além de garantir alimento saudável para a população da região, o espaço é a garantia de preservação do bioma, de territórios e comunidades que precisam da terra para o sustento.
“O acampamento Marielle fica sitiado pelo avanço do monocultivo do eucalipto e da soja, então se constitui ali um espaço de produção de resistência, porque, além de ser um espaço de produção de alimento saudável, de alimento diversificado, é um espaço também que constitui uma muralha de impedimento do avanço dos monocultivos, que têm destruídos biomas, territórios e comunidades”, argumenta.
Com um plantio livre de agrotóxicos, os produtores também declaram preocupação com o avanço do monocultivo, que, além de retirar agricultores de suas terras, também prejudica o plantio de alimentos em razão da pulverização de agrotóxicos na região.
“As pragas vão correr para onde não tem agrotóxico, isso é bem claro. Eles põem agrotóxico de um lado, então elas se refugiam na mata, e quando você faz essa abertura, elas vão atacar a tua produção. Essa é a nossa preocupação e, inclusive ano passado, a gente teve perda de muita fava. Não sabemos como resolver isso, porque cada vez mais os campos estão crescendo”, lamenta Divina.
Desmatamento no Maranhão
O Maranhão foi o estado que mais desmatou o cerrado para a agricultura, pecuária e plantio de eucalipto entre agosto de 2019 e julho de 2020, o que representa um crescimento de 13% nesse período, informam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Ainda segundo o Inpe, a região sul maranhense, onde está localizado o acampamento Marielle Franco, foi a que mais perdeu mata nativa, com uma estimativa de 7.300 km², o equivalente a cinco vezes a área da cidade de São Paulo.
Edição: Camila Maciel/BdF