Feminismo e Revolução
A esperança vermelha: uma nota sobre Nadejda Konstantinovna Krupskaia
Por Zoia Prestes*
Da Página do MST
Nadejda, em russo, significa esperança. Em tempos de tantos desalentos e retrocessos, a esperança e a fé em dias melhores nos fortalecem. Mas sem luta não há esperança e nem conquistas e foi na luta que Nadejda Konstantinovna Krupskaia, mulher inteligente e corajosa, se forjou, dedicando sua vida à Revolução Socialista e à construção da sociedade soviética.
Seu pai, Konstantin Ignatievitch Krupski, era simpatizante de ideias revolucionárias e, em função disso, a família sofreu perseguição, tendo que residir em pequenas cidades, vivenciar e conviver com a pobreza. Esse fato repercutiu na formação de Nadejda, que compreendeu muito cedo a posição do pai ao ouvir, frequentemente em sua casa, a palavra “revolução”, pronunciada por alguns visitantes. Elizaveta Vassilievna, a mãe de Nadejda, era órfã e foi educada no Instituto de Moças Distintas. Era muito religiosa e não gostava de tratar de política, mas acompanhava com atenção os primeiros passos da filha na militância, que teve início aos 14 anos. É nessa idade que Nadejda perde o pai e começa a participar do círculo de estudantes marxistas em Petersburgo, sua cidade natal.
Ao frequar, um pouco depois, o círculo revolucionário de Robert Klasson, Krupskaia teve acesso às obras de Karl Marx, que definiram para sempre sua visão de mundo. Daí em diante, dedicou-se à luta revolucionária por mudanças sociais em seu país. “O marxismo me deu uma enorme felicidade com a qual a pessoa pode apenas sonhar: me deu conhecimento, indicou o caminho, me deu uma certeza tranquila de que a luta, à qual entreguei minha vida, seria vitoriosa” – registrou em suas memórias.
Nadejda conhecia bem os lados sombrios da sociedade em que vivia, as injustiças sociais e econômicas que assolavam o povo russo sob o domínio do tsarismo. Por isso, traçou para si um destino diferente daquele reservado às moças de sua geração – casar, ter filhos e cuidar da casa. Com paixão, aprofundou os estudos das obras marxistas (aprendeu alemão para ler Anti-Dühring, de F. Engels, no original), trabalhou como professora em uma escola noturna e desenvolveu atividades de formação política da classe operária. Sem dúvida, as obras clássicas do marxismo lhe serviram de farol.
Nadejda conheceu V. I. Lenin, seu futuro companheiro, em uma das reuniões do círculo de Klasson e, a partir de 1898, o amor recíproco e o ideário revolucionário acompanharam o casal, que vivenciou, em sua trajetória, prisões e exílios, mas também a certeza de que a revolução estava prestes a acontecer.
Com a vitória do movimento revolucionário liderado por Lenin, em 1917, Krupskaia assumiu a tarefa de colaborar com a estruturação do sistema de educação que o novo governo de trabalhadores e camponeses almejava. A formação do homem novo com base nos princípios comunistas era a tarefa principal e, para isso, era necessário criar uma escola popular, alfabetizar o povo e formar novas gerações de docentes.
Krupskaia participou ativamente do Conselho do Comissariado do Povo para Instrução, escreveu inúmeros trabalhos em que trata de questões cruciais do campo educacional, participou de Congressos de Professores, mas não deixou de lado, em momento algum, a atuação no campo político. Ela era a primeira pessoa com quem Lenin sempre compartilhava suas ideias e reflexões sobre os rumos do governo e as disputas internas do partido.
Um dos temas importantes tratados por Krupskaia em sua obra é a função social da educação pública no estado socialista que deveria levar à libertação das mulheres das amarras do trabalho doméstico, à participação voluntária e consciente do povo na construção da nova sociedade, ao aniquilamento de preconceitos de todos os matizes e ao reforço dos vínculos familiares.
Olhando para o Brasil de hoje, pode parecer distante o sonho de uma sociedade pautada na justiça social. No entanto, a vida e a luta de Krupskaia, que celebraria em 26 fevereiro deste ano 152 anos, nos enchem de esperança, a esperança que ela carrega no nome.
*Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (Niterói, RJ).
**Editado por Fernanda Alcântara