Semeando Resistência
Amanhecer pela vida e solidariedade marcam Jornada das Mulheres Sem Terra no Rio
Por Coletivo de Comunicação MST-RJ
Da Página do MST
O mês de março, tradicionalmente, dá início ao calendário de lutas do ano com o Dia Internacional de Luta das Mulheres. Com o agravamento da pandemia e a necessidade de reforçar os cuidados com a saúde e o distanciamento social, as mulheres Sem Terra organizaram no Rio de Janeiro atividades virtuais, ações de solidariedade, homenagens e protestos sob o lema “Mulheres na luta pela vida! Fora Bolsonaro! Vacina para todos e auxílio emergencial já”.
O dia 8 de março começou na capital fluminense com o Amanhecer Pela Vida na Avenida Brasil, em frente à Fiocruz. Movimentos do campo popular estenderam uma faixa na passarela cobrando a volta do auxílio emergencial de R$600 até o fim da pandemia. Além do Movimento Sem Terra, a ação também foi organizada pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento de Trabalhadores por Direitos (MTD) e Levante Popular da Juventude. Atividades semelhantes ocorreram em outros pontos da região metropolitana.
O acampamento Edson Nogueira, em Macaé, organizou uma roda de conversa como parte da Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra. As homenageadas foram as companheiras Neli Stellet, militante do MST tombada em 2018 no Rio de Janeiro, e a vereadora Marielle Franco, assassinada no mesmo ano. Mulher guerreira e corajosa, conhecedora das plantas medicinais, Neli inspira a luta diária da militância estadual por justiça e Reforma Agrária. Dona Neli e Marielle Franco, presente!
O MST também participou da inauguração da Biblioteca Ana Primavesi, organizada pela Cooperativa Cooperar em Maricá, onde foram doadas mudas agroecológicas. A Praça do Turismo, no centro da cidade, foi ornamentada por faixas e cartazes com a mensagem das mulheres: “Sem feminismo não há agroecologia!”
Feminismo camponês
“Mulheres pela vida semeando a resistência, contra a fome e as violências” foi o tema da live que aconteceu nesta terça (9), às 19h, nas redes sociais do MST. Mediada pela dirigente nacional do MST Luana Carvalho, participaram a Deputada Federal (PSOL) Talíria Petrone, Camila Laricchia, professora universitária e engenheira popular, e Atiliana Brunetto, da Direção Nacional de Gênero do MST. Atiliana destacou o protagonismo das Mulheres Sem Terra e o caráter formativo da Jornada para o conjunto da sociedade.
“A Jornada tem uma força muito grande, e nesse momento representa uma unidade de força das mulheres trabalhadoras no âmbito nacional. De vontade de lutar e denunciar o processo que estamos vivendo. Semeamos o feminismo camponês e popular porque é nossa prática diária. Estamos articuladas mundialmente falando sobre o feminismo da classe trabalhadora. Também semeamos ousadia e rebeldia contra tudo que nos oprime e sufoca”, explicou a dirigente.
A transmissão ainda contou com depoimentos de seis Mulheres Sem Terra de diversas regiões do Rio de Janeiro. Jorgina, Quitia, Marilza, Relma e Camila compartilharam suas vivências na militância e pensamentos sobre autoestima, agroecologia, violência contra mulher, trabalho e Reforma Agrária.
“Aprendi a ser guerreira e a conquistar meu espaço no MST, a importância que a agroecologia tem nas nossas vidas. Hoje eu prezo por isso. Produzo, tenho liberdade e autoestima. Cresci muito através do Movimento e continuo fazendo parte”, disse Relma Aparecida, assentada há 17 anos Terra da Paz, em Piraí.
“Vivemos uma tragédia e sabemos no corpo de quem impacta a dor e a violência desse momento. Sabemos também que a resistência vem das mulheres, somos nós as responsáveis pelos cuidados, estamos à frente do enfrentamento ao Covid, lutamos pela defesa dos nossos territórios. Não tenho dúvida que o enfrentamento desse momento vai vir também da luta das mulheres trabalhadoras”, afirmou Talíria Petrone durante a transmissão.
Solidariedade
Nesse momento de agravamento da pandemia, as trabalhadoras informais são as mais afetadas pela crise econômica e sanitária. Por isso, a solidariedade também fez parte da Jornada das Mulheres Sem Terra nesta quarta-feira (10). A Marmita Solidária distribuiu mais de 600 refeições em ocupações urbanas e bairros periféricos da capital carioca e do Sul Fluminense.
No cardápio do dia: Feijão Campo Vivo, Arroz Terra Livre, legumes produzidos pelo Coletivo Alaíde Reis e a farinha de mandioca do Assentamento Zumbi dos Palmares.
No centro do Rio, as quentinhas produzidas no Armazém do Campo RJ e no Centro de Ação Comunitária (CEDAC) atenderam as ocupações Moisés e Almirante João Cândido. A distribuição também percorreu o Mercado Popular da Uruguaiana com o Movimento Unido dos Camelôs (Muca). No Sul Fluminense, as marmitas com alimentos da Reforma Agrária chegaram nos bairros Vicentina e Baixada Olaria, em Resende.
Diversos movimentos sociais e sindicatos fazem parte dessa iniciativa desde o início da pandemia. O custo de cada Marmita Solidária é R$ 8,35. É possível apoiar com qualquer quantia na conta no Banco do Brasil (Ag: 3086-4 / C/c: 27970-6) ou através da chave PIX CNPJ: 08.087.241/0001-21 da Escola Estadual de Formação e Capacitação à Reforma Agrária (ESESF).
Marielle presente!
No próximo domingo (14), data em que o assassinato político da vereada Marielle Franco completa 3 anos sem solução, o MST planeja um Amanhecer no Rio de Janeiro. Nos Assentamentos e Acampamentos da Reforma Agrária do estado serão erguidos bosques em homenagem à lutadora popular e defensora dos Direitos Humanos. As ações por Marielle das Mulheres Sem Terra contam com apoio da Justiça Global, Sindicato dos Servidores do Judiciário Federal no Rio de Janeiro (SISEJUFE), Mutirão Bem Viver e Campanha Nós por Nós.
*Editado por Fernanda Alcântara