Agentes da Saúde
Agentes Populares Saúde em mutirão pela vida em comunidade de Campo Magro (PR)
Por Leonardo Henrique
Da Página do MST
Agentes populares de saúde, entre eles médicas(os), enfermeiras(os), profissionais de outras áreas, além de estudantes de medicina, estão organizados em uma rede para levar informação e auxiliar a população das áreas periféricas na prevenção à Covid-19 e realizar a formação de agentes populares. A ação dos Agentes Populares de Saúde é uma iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em conjunto com outras entidades e movimentos.
No Paraná, esta articulação resultou em um mutirão na ocupação Nova Esperança, em Campo Magro (região metropolitana de Curitiba), para consultas, exames básicos e encaminhamentos dos moradores para a rede municipal do SUS. Ao todo, 86 atendimentos foram registrados. Esta atividade marca o início da formação dos agentes na comunidade, e foi organizada pelo Movimento Popular por Moradia (MPM), Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, coletivo de coordenação dos agentes de Curitiba e região metropolitana e do MST.
Um espaço de saúde da comunidade foi inaugurado, neste dia, em um local especial: ao lado da sala de aula e da biblioteca. “Vamos atender hipertensos e diabéticos e também receber urgências e emergências daqui”, disse Katielen Farias, técnica em enfermagem e moradora da Nova Esperança.
Enfermeiras(os), médicas(os) e estudantes de medicina se mobilizaram para o mutirão do último sábado, o primeiro relacionado à saúde na região. Os atendimentos foram de pediatria e clínica geral.
“Aqui falamos sobre a importância da defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), da vacina e cuidados com a Covid-19”, completou Katielen, que participou da organização do evento. Segundo ela, a ideia é continuar com as ações.
Atenção à saúde em tempos de Covid-19
No contexto da crise sanitária e da pandemia, o apoio mútuo é ainda mais importante. A Dona Alexinara pegou máscaras para os filhos e relatou ter dificuldades de consultar na unidade básica de saúde próxima à ocupação.
“Essa ação mostra que não estamos desamparados. Há pessoas que olham para quem necessita”, afirmou. Também foram distribuídos vidros de álcool gel e cartilhas informando o uso correto, descarte e reutilização das máscaras.
Um dos serviços foi a medição da glicemia capilar, que consiste em conferir a quantidade de açúcar no sangue. Rita de Cássio Oliveira, técnica em enfermagem e instrumentadora cirúrgica, realizava o procedimento.
“É um pouco invasivo porque fura o dedo da pessoa. Menos de 60 é hipoglicemia e acima de 100 é hiperglicemia”, explicou. A partir dos números atestados, foram feitos encaminhamentos para quem consultou.
Solidariedade entre movimentos sociais pela saúde popular
“O Movimento não utiliza a palavra invasão ou invasor. É a palavra é ocupação, porque ocupamos um espaço onde vamos reivindicar os direitos constituídos. Significa que a partir dessa ocupação, todos os moradores terão direito à habitação”.
Com essa fala, Galeno, do MPM, denuncia a falta de cumprimento do poder público ao artigo 6 da Constituição brasileira:
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Porém, o que se vê na prática são despejos violentos, como os que aconteceram em Curitiba em 2020 e recentemente no bairro Caximba, além do aumento perceptível no número de pessoas em situação de rua e até a proposta de multar a distribuição de refeições em praças da capital paranaense.
E quando se fala em direitos sociais, como no texto da Constituição, entende-se que a saúde está em diversos campos, como na questão ambiental. Paulo Cesar, do MPM, comentou sobre o modelo de fossas ecológicas que está sendo produzido na comunidade. “As fossas protegem a natureza e também a nós mesmos”.
Desde o início da pandemia, o MST tem organizado agentes de saúde em territórios rurais e urbanos. “É o povo cuidando do povo”, enfatizou Mirelle Gonçalves, educadora popular e integrante do MST. “Formamos os agentes na prática. Atendemos as comunidades e também fortalecemos a luta pelo SUS”.
Com as estatísticas crescentes da crise no país, que se agravou no contexto do Coronavírus, como os números de 116,8 milhões de brasileiros que têm algum grau de insegurança alimentar e 19 milhões que passam fome, a solidariedade dos movimentos busca atender aos direitos básicos.
A Nova Esperança é uma das comunidades que recebem parte das 1.100 Marmitas da Terra produzidas semanalmente pelo MST. Também foram doadas mais de 600 toneladas de alimentos por todo o Paraná, do começo da pandemia até o momento.
Faixas ditam palavras de ordem contra a crise
“Em defesa do SUS”, “Auxílio digno já”, “Saúde não é mercadoria” e “Vacina salva”. As quatro frases estavam estampadas em faixas estendidas por todo o local dos atendimentos para chamar atenção da luta pelos direitos da população e da importância da saúde popular.
Proteger o SUS de ataques e incentivar a vacina se torna essencial, em tempos que remédios sem comprovação científica são tidos como milagrosos e as vacinas são desacreditadas.
Além disso, o auxílio emergencial prevê uma ajuda breve e essencial a quem não pode trabalhar, teve seu ofício prejudicado ou perdeu o emprego na pandemia. “Todos temos direito à medicina; ela não tem valor econômico”, declarou Yaimara Iauzurique, técnica em transfusão de sangue. “Estou muito contente de vir à comunidade e ajudar as pessoas que vivem aqui”.
Moradores da Nova Esperança gostaram do atendimento. Euzeli Alves dos Santos levou a filha, Isabela, e a mãe, Dalila, para as consultas. “Minha filha está com dor de garganta e conseguimos um encaminhamento. Estamos muito felizes de ser bem atendidas aqui”, contou.
Agentes populares têm cuidado redobrado na pandemia
O cuidado não é individual no combate à pandemia. Seguimos as orientações, como distanciamento social, uso da máscara, lavar as mãos, usar álcool gel e evitar aglomerações, restrição de circulação de pessoas e realizar as atividades possíveis de forma online.
Uma das formas de ação, que surge da necessidade do povo em meio a desinformação e a grave pandemia, são os agentes populares de saúde, que iniciam em Recife e se espalham pelo Brasil.
No Paraná, o Setor de Saúde do MST também realiza a formação dos agentes das áreas de reforma agrária. As ações ganharam força nas comunidades de assentamentos e acampamentos do MST, a partir da Formação de Agentes Populares de Saúde do Campo. Um curso online formou militantes das áreas da Reforma Agrária para fazer trabalho de informação, explicar o que é a Covid-19 e como se prevenir, defender o SUS e promover a saúde popular e a agroecologia.
A questão é que o programa vai além. Foram abordados temas como conhecer o SUS do Paraná, aspectos de alimentação saudável, a importância de direitos básicos de saúde garantidos em constituição, Setor de Saúde do MST, saúde mental, gênero, patriarcado, violência e drogas lícitas e ilícitas. O curso teve um forte protagonismo feminino: 103 companheiras/os se inscreveram e 82 concluíram, sendo 95% mulheres. Tudo foi feito online.
Em Curitiba, uma primeira turma dos agentes foi feita na Vila Torres, com encontros de formação presenciais na igreja da comunidade. O primeiro módulo ocorreu durante o ano de 2020, centrado principalmente nos cuidados e informações sobre o covid. “Esta atividade está salvando muitas vidas durante a pandemia. Cada agente formado cuida de si e da sua comunidade”, garante Mirelle Gonçalves.
*Editado por Fernanda Alcântara