Solidariedade

1° de Maio de solidariedade e união da classe trabalhadora do campo e da cidade no PR

Além das doações de alimentos e de gás, um mutirão marcou a inauguração da Agrofloresta Papa Francisco, com plantio de 12.600 mudas, em Curitiba

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST

Em tempos de desemprego e fome recordes em todo o mundo, o 1º de Maio no Paraná ficou marcado pela união entre trabalhadoras e trabalhadores do campo e cidade, em solidariedade a quem mais precisa. Os camponeses/as Sem Terra, de acampamentos e assentamentos do estado, doaram os frutos do seu trabalho nas terras repartidas pela Reforma Agrária Popular. Na cidade, profissionais de diferentes categorias, entidades sociais, religiosas e políticas, além de doações individuais, garantiram os alimentos não perecíveis e o gás. 

Em Curitiba, 560 famílias do Sabará, região Sul da cidade, receberam alimentos e 100 cargas de gás em ação de solidariedade. A ação ocorreu no Centro de Integração Social Divina Misericórdia (CISDIMI) e foi batizada como “Plantar solidariedade para defender a vida”. 

Dom José Antônio Peruzzo, Arcebispo Metropolitano de Curitiba, participou da benção dos alimentos e da inauguração da Agrofloresta Papa Francisco, que ocorreu no mesmo dia. O líder religioso enfatizou a relevância da ação solidária coletiva em tempos de desemprego em níveis até então não vistos, embora haja elevados níveis de produção. “Uma experiência como esta, em dias assim, tem um caráter profético. Isto é, sem elevar a voz, interpela quem quiser e quem tem boa vontade, a perceber que é possível suscitar esperanças”. 

Franciele Machado, moradora da região que buscou sua cesta básica, fala sobre a importância da ação neste momento: “Está bem difícil para todo mundo aqui. Não têm emprego, estamos todos precisando e isso ajuda muito. Essa união é muito importante para todos nós”. 

Famílias do MST doaram cerca de 6 toneladas de alimentos, como parte da campanha nacional de solidariedade com quem enfrenta a fome neste momento de pandemia. Os alimentos partilhados vieram dos acampamentos Emiliano Zapata, de Ponta Grossa; Maria Rosa do Contestado e Padre Roque Zimmermann, de Castro; Reduto de Caraguatá, de Paula Freitas; José Lutzenberger, de Antonina; e assentamento Contestado, da Lapa. 

Miguel Cordeiro Ramos e a esposa, Ana Maria, formam umas das cerca de 30 famílias que vivem no acampamento Reduto de Caraguatá. Eles e os vizinhos da comunidade reuniram cerca de 700 quilos de alimentos colhidos em suas áreas para doar a pessoas em situação de vulnerabilidade de Curitiba. De lá vieram principalmente mandioca, pinhão e abóbora.

Alimentos doados pela comunidade Emiliano Zapata, de Ponta Grossa. Foto: Arquivo MST-PR

“Hoje eu só tenho que agradecer a Deus mesmo, porque estamos num cantinho aqui produzindo alimentos pras famílias, pra sobreviver com fartura, e tem também com colaborar com a companheirada da cidade que está necessitada, e podemos doar os nossos produtos que são produzidos aqui nessa terra abençoada”, garantiu o camponeses, acampado há 18 anos. 

Para Roberto Baggio, da direção estadual do MST, o mundo atravessa uma crise estrutural, que revela o “adoecimento do sistema”. Mas propõe a união como forma de resistir: “É um tempo de buscar a vida. Talvez a principal tarefa desse tempo seja deixar o sistema perverso de ganâncias e de exploração passar e nós vamos erguer, com solidariedade, um outro tipo de sociedade. Para isso, é preciso atitude pessoal e coletiva. Esta ação de hoje é uma luz de esperança neste tempo de crise. Estamos repartindo o alimento que é fruto da terra e do trabalho de milhares de famílias do campo e da cidade”.

Participaram da atividade o desembargador Fernando Prazeres, a desembargadora Maria Aparecida Blanco de Lima, e a juíza Fabiane Pieruttin, ambos membros da comissão de conflitos fundiários do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). Parlamentares e integrantes de entidades sindicais e sociais também participaram da atividade. 

As entidades que promoveram a ação foram o Centro de Assistência Social Divina Misericórdia (CASDM) – mantenedora do CISDIMI; MST; Sindicatos dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (PR/SC); Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP Sindicato/Núcleos Curitiba Norte e Sul); Partido dos Trabalhadores do Paraná (PT); Coletivo Marmitas da Terra; Central Única dos Trabalhadores (CUT-PR); Comissão da Dimensão Social da Arquidiocese de Curitiba e Produtos da Terra. 

Agrofloresta Para Francisco 

Cerca de 50 pessoas também participaram do mutirão para a construção da Agrofloresta Papa Francisco, no mesmo local, inaugurada nesta manhã. A maior parte do grupo integra o coletivo Marmitas da Terra e a Escola Latino Americana de Agroecologia, do Assentamento Contestado, da Lapa. Pelo menos 10.600 mudas de legumes, verduras e temperos, além de 200 mudas de árvores frutíferas e nativas foram plantadas em uma área de 3 mil metros. 

Segundo Irmã Anete Giovani, gestora do Centro de Assistência Social Divina Misericórdia (CASDM) – mantenedora do CISDIMI, a concretização da agrofloresta é a realização de um sonho cultivado há 15 anos. “Queremos resgatar com as crianças, os adolescentes e idosos, o amor pelo planeta e a valorização da vida. Para nós é realmente a concretização de um sonho. É muito importante porque a gente sente que daqui brota muita vida, muita partilha,  muita solidariedade, muito cuidado; a cultura do cuidado”.

“Por ‘ouvir o clamor da terra e o clamor dos povos’, cuidamos da casa comum”, diz a frase gravada na placa de inauguração da Agrofloresta Papa Francisco, em referência à Carta Encíclica sobre o cuidado da casa comum, de 24 de maio de 2015. 

Campo e cidade unidos no Sudoeste do Paraná 

O Fórum Regional das Organizações e Movimentos Populares do Campo e da Cidade do Sudoeste do Paraná, do qual o MST faz parte, realizou a quinta ação de solidariedade com a doação de 7 toneladas de alimentos, roupas e cobertores para famílias do sudoeste paranaense. Os alimentos arrecadados beneficiaram mais de 200 famílias em situação de vulnerabilidade dos municípios de Palmas, Pérola do Oeste, Pato Branco, Clevelândia, Dois Vizinhos, Vitorino e Francisco Beltrão.

No início da manhã houve a benção dos alimentos com o Bispo Dom Edgar Xavier Ertl da Igreja Católica. Ele destacou que a fome é um reflexo da desigualdade, e que todos nós somos testemunhas de que o mundo produz alimentos em abundância, por isso é importante termos ações como esta que o fórum vem realizando na região.

“A solidariedade é um gesto para combater a ganância e a concentração de alimentos pelo mundo, então que essa vergonha que está estampada em evidência e em crescimento em nosso país, realmente nos converta para que sejamos solidários mesmo, não só dando comida, mas nas oportunidades de trabalho que estão cada vez mais limitados”, disse Dom Edgar.

Quedas do Iguaçu 

Na região centro do Paraná, famílias da Reforma Agrária se uniram para doar 4 toneladas de alimentos e 250 litros de leite, em Quedas do Iguaçu. Participaram moradores do assentamento Celso Furtado e dos acampamentos Leonir Orbak, Fernando de Lara, Vilmar Bordin e Dom Tomás Balduíno, além da comunidade Ligas Camponesas. 

Pelo menos 225 famílias dos bairros Vila Dias e Yagoda receberam sacolas com arroz, feijão, mandioca, batata, abóbora, frutas, entre outras variedades, além de leite integral.   

Porecatu

No norte do estado, as famílias camponesas do acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu partilharam 400 quilos de alimentos com o Asilo Sociedade São Vicente de Paula, que atende cerca de 30 idosos em situação de vulnerabilidade.

Essa partilha é fruto de doações das famílias Sem Terra, que colheram os frutos da terra como mandioca, abóbora, banana, temperos verdes e verduras, além de produtos não perecíveis doados pelas próprias famílias. 

Para Natalina Oliveira, da coordenação do acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu, a “ação de solidariedade é fruto do dia do trabalhador, e somente os trabalhadores se ajudando, se unindo, poderemos ter um futuro melhor”. Na comunidade do MST vivem cerca de 200 famílias que trabalham e lutam pela conquista da terra já há 12 anos.

Castro

As famílias do acampamento Maria Rosa do Contestado, do município e Castro, realizaram o terceiro mutirão de limpeza e pintura das áreas externas no Hospital Cruz Vermelha, que concentra os atendimentos dos casos de Covid-19 na região. A comunidade é formada por cerca de 100 famílias que produzem alimentos com certificação agroecológica, e que lutam para permanecer na área.  

*Editado por Solange Engelmann