Preservação

Araucária: uma árvore do tempo dos dinossauros, ameaçada de extinção no século XXI

Espécie concilia produção de alimentos, geração de renda com recuperação ambiental
Araucária está presente no globo terrestre há milhões de anos. Foto: Valmir Fernandes

Por Priscila Monnerat e Valmir Fernandes/MST-PR
Para Página do MST

Nesta quinta-feira, 24 de junho, celebramos o Dia Nacional da Araucária, esta imponente e majestosa árvore que está presente no globo terrestre há milhões de anos. Fósseis da árvore foram encontrados junto a fósseis de dinossauros, indicando a presença da espécie desde a era mesozóica. 

A espécie povoou extensas áreas do território latinoamericano durante as glaciações, depois do fim da última glaciação. No Brasil concentra-se nas regiões mais frias e altas, principalmente no Sul do país, mas também em algumas áreas de montanha da região Sudeste.

Por indígenas era chamada de Curi, por este motivo a cidade de Curitiba, capital do estado, recebe este nome, que significa lugar com muitas araucárias, segundo o dicionário tupi-guarani. Os povos originários coletam e utilizam o pinhão em sua alimentação. 

Colonos italianos que chegaram a região Sul no início do século passado, a princípio desprezavam o potencial alimentar da espécie, e derrubavam árvores com troncos de 3 metros de diâmetro para o plantio de trigo, a copa de uma árvore deste porte produzia cerca de 300 quilos de pinhão, nas mesma área (600m²) os colonos colhiam 60 quilos de trigo. A pesquisa é de Jorge Vivan, autor do livro Agricultura e Floresta. 

Os diversos ciclos econômicos que se sucederam nos três estados do Sul reduziram drasticamente as áreas das florestas de araucárias. Atualmente restam apenas de 2% a 4% da mata original, fato que coloca o pinheiro na lista das espécies com risco de extinção. 

Preservação da biodiversidade e geração de renda 

Segundo o pesquisador Flávio Zanette, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que pesquisa a espécie há quase quatro décadas, ainda há possibilidades para reverter esta situação. Para isso, é preciso incentivar o plantio por pequenos agricultores, para quem a cultura pode ser uma excelente fonte de renda, com a colheita do pinhão, para além dos benefícios ambientais. 

Durante muitos anos de pesquisa, o pesquisador tem selecionado variedades mais produtivas com pinhas e pinhões maiores, e também desenvolveu técnicas para produzir mudas enxertadas que reduzem o período do início da produção de pinhões, pela metade de 12 a 15 anos, para 6 a 8 anos. 

As plantas selecionadas para enxertia apresentavam galhos com grande quantidade de pinhas fecundadas, alguns chegando a 30 pinhas. Uma das matrizes para a produção dos enxertos produz 670 pinhas e um total de 284 quilos de pinhão. O tamanho e o peso dos pinhões também foram considerados fatores relevantes na hora de escolher quais plantas seriam multiplicadas. O pinhão normal pesa de 6 a 8 gramas, as variedades selecionadas podem pesar de 10 a 18 gramas, dependendo da variedade.

Visando o fomento do plantio de pinheirais, o pesquisador se compromete a compartilhar tudo que pesquisou e aprendeu sobre a espécie com agricultores comprometidos com a preservação da natureza e uma outra forma de fazer agricultura, com camponesas e camponeses do MST.

Zanette aponta que só a conservação dos remanescentes não é suficiente para proteger a espécie, pois estas árvores têm tempo de vida limitado. Por isso, é preciso avançar no plantio e o incentivo por meio de políticas públicas e mudanças na lei atual, que facilita o plantio e manejo da espécie em pequenos plantios.

Com novas técnicas de plantio e manejo, variedades mais produtivas e mudanças nas políticas públicas, o pesquisador acredita que é possível reverter a resistência que alguns agricultores têm para o plantio da espécie, que acreditam que uma vez plantadas as árvores impedem qualquer outro manejo e também inviabiliza a geração de renda.

No Paraná, uma vitória em relação à legislação foi a aprovação da lei 20223/2020, que dá garantia jurídica de colheita a quem planta a araucária. Ainda é preciso avançar com as questões legais para facilitar quem se interessa em plantar.

A importância social e ambiental da espécie é imensurável, sendo uma espécie com grande potencial para ser utilizada no Plano Nacional de Plantio de Árvores, nas regiões de clima temperado, por ser uma espécie que concilia produção de alimentos, geração de renda com recuperação ambiental. Especialmente neste dia 24/6, nos mobilizamos em mutirões para fortalecer a preservação e a multiplicação das araucárias no Paraná, para que a árvore do tempo dos dinossauros seja também símbolo de resistência nos nossos tempos.  

*Editado por Solange Engelmann