Centenário Paulo Freire
MST espalha arte e legado de Paulo Freire com bustos do pensador
Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST
Neste ano do Centenário de Paulo Freire, diversas são as homenagens que o MST tem realizado para trazer a memória do patrono da educação brasileira. Ressaltando a importância de suas ideias e práticas educativas, Paulo Freire, que sempre esteve presente nos espaços do MST, ganha materialidade com bustos da imagem do pensador para que sua memória seja lembrada.
Para Rubneuza Leandro de Souza, do Setor de Educação do MST em Pernambuco, o objetivo é trazer a figura de Paulo Freire cada vez mais presente nos espaços educativos do MST de assentamentos e acampamentos.
“Pensamos que era importante que Paulo Freire, que já é conhecido pelas suas ideias dentro do Movimento, também fosse conhecido pela sua figura física. Já temos feito cartazes, só que eles são temporários, então queríamos que todas as áreas do Movimento Sem Terra, seja acampamento ou assentamento, tenham um busto do Paulo Freire.”
Paulo Freire, educação e o MST
Mas para entender de onde surgiu mais esta ação de comemoração a Paulo Freire, é preciso resgatar sobre como a história do MST está entrelaçada à proposta de educação que Freire trazia em seu discurso. “O Movimento Sem Terra tem sua origem com base nos trabalhadores que começaram a se organizar no final da década de 70, e que tinham Paulo Freire como referência no trabalho de base na organização do povo”, lembra Rubneuza. Desde então, o Movimento tem tomado o pensamento de Paulo Freire como elemento de organização constitutivo dos trabalhadores.
“O objetivo era que, tanto os educadores, quanto a comunidade, crianças, jovens, e adultos, pudessem conhecer Paulo Freire. Tanto que temos o livro de Brandão ‘História do menino que lia o mundo’ [disponível pela Expressão Popular], para que o Paulo Freire passasse a ser conhecido também pelas crianças”. Assim, além do Centenário de Paulo Freire, a conjuntura atual de ataques à vida dos brasileiros também serviu como um incentivo para a luta desta esperança que Paulo Freire representa, conta Rubneuza.
“A ideia de ter mais tempo para trabalhar o pensamento de Paulo Freire, visto que estamos no ano do centenário e que, nesse momento, nós estamos vivendo um ataque à democracia, um contexto parecido com o que levou Paulo Freire à prisão e ao exílio na década de 60, além dos ataques ao pensamento crítico e a tentativa de tirar o título de patrono da educação brasileira que Paulo Freire tem desde 2012.”
Homenagens em forma de arte
O início da entrega dos bustos foi marcada por um ato realizado pelo Centro de Formação Paulo Freire, no último sábado (7/8), demonstrando um pouco da origem desta arte que está sendo espalhada por todo o país. “O MST em Pernambuco fez no Sertão do São Francisco e entregou 30 bustos, para as 30 áreas que compõem a Regional em um ato belíssimo.” (Confira o ato virtual realizado aqui).
“Fomos atrás da confecção do busto, mas o busto de bronze ficou muito caro, e era quase impossível ter um em cada área, visto que o custo era muito alto. E aqui no estado de Pernambuco pesquisamos de argila, que ficava a um preço bom, mas pesava e para transportar também teríamos problemas, porque poderia quebrar. Por fim, fomos pesquisar o material o qual é feito do boneco de Olinda, e o pessoal topou fazer o busto a um preço justo”, afirma.
A conexão entre o simbólico e a materialidade destes bustos, produzidos com todo o carinho por mãos humanas, fez esta conexão no encontro da arte e do legado. “O busto não é só um busto. Tem toda uma simbologia que ele carrega, e aproveitamos o momento para poder debater com a nossa base, desde a maneira de arrecadar o dinheiro para comprar o busto até a escolha e preparação do lugar para receber ele e a cerimônia de entrega, com todos os cuidados do protocolo de segurança por causa da pandemia, enfim, tem todo um trabalho bonito por trás.”
Além disso, o busto traz a dimensão política em sua distribuição. “Estamos combinando estas celebrações também com o plantio de árvores. No Paraná, por exemplo, estão fazendo a jornada de entrega nas escolas e está sendo muito bonito” (confira as imagens dos atos no final desta matéria).
“Tem toda essa simbologia de poder trazer o pensamento do Paulo Freire e ao mesmo tempo a sua figura física. Assim, todo mundo que chegar ali, assim como vai ver a nossa bandeira, vai ter o busto do Paulo Freire, Patrono da educação brasileira.”
Nesse momento, o MST está no processo de confecção dos bustos e com entrega já em algumas áreas. “Até o final da Jornada esperamos ter em todas as nossas áreas um busto do Paulo Freire. Alguns estados já fizeram esse pedido, como o Paraná, Ceará, Bahia, Minas Gerais, Maranhão e Espírito Santo, mas a ideia é que todos façam seus pedidos para ter o busto em todos os estados ainda este ano”.
A educadora conclui lembrando que de como estas ações coincidem com a visão de Paulo Freire de que “a opressão não é destino nem castigo, mas é uma condição imposta pela exploração do capital sobre as pessoas. Paulo Freire nos ajudou a pensar um mundo melhor, fazendo com que o oprimido, ao descobrir sua condição de opressão, possa buscar os mecanismos da sua libertação. E para nós entendemos isso, que a organização do povo, a luta por Reforma Agrária, leva à construção, a partir da terra conquistada, do homem novo, da mulher nova”.
Confira abaixo a galeria das primeiras entregas de bustos, realizadas no estado do Paraná!