Lula pelo Nordeste
“Nós vamos recuperar o direito de ser feliz nesse país”, diz Lula durante visita ao MST
Por Rafael Soriano
Da Página do MST
O encontro de Lula com seu estado de origem, neste giro de articulações importantes que o ex-presidente faz pelo Nordeste, teve um momento emblemático justamente num assentamento de Reforma Agrária. O reencontro do ex-presidente com o trabalhador e a trabalhadora rural, que alimentam o país, foi regado a maracatu, olho no olho e escuta e, claro, o sabor da produção saudável do assentamento.
Nesta segunda-feira (16), Lula visitou a convite do MST o assentamento Che Guevara, em Moreno, região metropolitana do Recife, Pernambuco. Lula viu a Reforma Agrária Popular ali, saltando aos olhos com roças cheias e produção farta. É esta produção, como apresentou o trabalhador rural Dema em seu lote, que chega a quem mais precisa num momento de retorno dos índices de insegurança alimentar e desnutrição. O número encontrado de 19 milhões de brasileiros que passaram fome na pandemia do novo coronavírus é o dobro do que foi registrado em 2009, com o retorno ao nível observado em 2004.
Se olharmos para hoje, com 55% dos lares brasileiros vivendo sob a insegurança alimentar severa e moderada, o retrocesso é o pior desde 2004, quando o levantamento começou a ser feito. Segundo estudos da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), 116,8 milhões de pessoas conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020.
“Aqui no assentamento o objetivo era mostrar para Lula a viabilidade da Reforma Agrária e foi uma ótima demonstração daquilo que é importante: a nossa tarefa de produzir alimentos saudáveis e de fazer com que as pessoas comprem o nosso alimento, sintam efetivamente a importância de ter na mesa o alimento saudável”, explica Jaime Amorim, da direção do MST. “O nosso desafio é produzir alimentos, mas para isso, queremos deixar claro para Lula que a Reforma Agrária é determinante. Ele teve a compreensão de que é o resultado do processo”, indica.
Lula dialogou sobre a importância de programas criados à época de seu governo, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), responsáveis por garantir preço e, consequentemente, renda para o trabalho agrícola, mas que foram destruídos pela sucessão de governos até Bolsonaro. O PNAE, como explica Lula, era responsável pela aquisição de alimentos para as escolas, estimulando a produção local, uma vez que 30% das compras deveriam ser direcionadas à agricultura camponesa do município.
“Certamente, o povo brasileiro haverá de reconhecer o trabalho milagroso da agricultura familiar, quando ela tem suporte do governo. O governo de hoje está muito preocupado em garantir o bem-estar do grande produtor rural, do grande latifúndio, do agronegócio, e não se preocupa nem um pouco em ajudar o agricultor camponês, que é quem chega na mesa de todos os brasileiros”, aponta Lula. “Nós vamos recuperar o direito de ser feliz nesse país!”, declarou para os trabalhadores rurais presentes.
Emoção num grande ato de solidariedade
Com os olhinhos marejados, a trabalhadora rural Valdilene Maria da Silva, mais conhecida no assentamento Che Guevara como Lene, representou sua comunidade no diálogo com o ex-presidente que mais fez para a Reforma Agrária em toda a história desta política. Ela conversou com Lula sobre a gratidão das conquistas de seus governos para a Reforma Agrária e a esperança de que estes tempos possam se repetir em breve.
“Eu falei pra o Lula que ele é muito importante pra nós. Principalmente, observando a agricultura familiar, ele foi o único presidente que olhou pra gente com outro olhar. Porque esse governo que está aí não olha para os agricultores com o olhar de atender os nossos direitos. Encontrar o companheiro Lula foi muito emocionante, um momento muito forte, onde eu pude em nome de nós expressar o meu amor e gratidão para ele”, declarou a agricultora.
Ali perante os presentes, uma imagem era marcante: 15 toneladas de alimentos agroecológicos, colhidos das roças do assentamento, num colorido que se assemelhava a um arco-íris. Essa produção foi entregue simbolicamente à Agente Popular de Saúde Luciene Barros, que representou a comunidade do Papelão, de Paulista, região metropolitana de Recife. As famílias do Papelão são assistidas pelo programa Mãos Solidárias, que já doou mais de 800 toneladas desde o início da pandemia em Pernambuco.
Na ocasião, foi feito o descerramento do busto de Paulo Freire, cuja réplica será distribuída para todas as escolas de assentamentos e acampamentos do Brasil. Feitos em Pernambuco, estes bustos de Paulo Freire começaram a chegar esta semana a 7 estados brasileiros.
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*Editado por Wesley Lima