Conjuntura Política
Eleições presidenciais na Zâmbia
Por Brigada Internacionalista Samora Machel
Na última segunda-feira, 16 de agosto, a Comissão Eleitoral de Zâmbia declarou a vitória de Hakainde Hichilema, líder da oposição no país. Hichilema ou HH como é conhecido, é empresário e membro da segunda maior sigla partidária do país, o UPND, de orientação direitista e liberal.
A Zâmbia vive uma situação político eleitoral hegemonizada a alguns anos pelo UPND e pelo partido do então presidente derrotado neste pleito, o PF de Edgar Lungu partido da direita social-democrata. Lungu estava no poder desde 2015 quando assumiu para um mandato interino, após a morte do antigo presidente de Zâmbia do mesmo partido que ele.
Em meio a uma profunda crise econômica causada principalmente por políticas neoliberais de privatização das riquezas nacionais e dívidas enormes com o FMI, o então presidente recorreu a repressão para tentar minar a possibilidade de vitória do seu principal rival. Censura por parte da mídia estatal, perseguição, sanções a jornais de outros partidos e até mesmo a violência entre partidários das duas principais siglas marcaram as eleições deste ano.
No começo de agosto deste ano, o exército havia sido chamado às ruas para conter prováveis enfrentamentos entre militantes dos dois partidos. O UPND chegou a ser proibido pela justiça de fazer campanha em uma cidade da província de Lusaka, após dois apoiadores do PF serem assassinados por partidários de Hichilema.
Entre o dia 12 de agosto, até o resultado oficial das eleições (16/08), a internet foi desligada pelo governo e o acesso as mídias sociais foi reduzido, o governo alegou que esta era uma medida de segurança na contagem dos votos para evitar possíveis mobilizações em frente dos espaços de votação e contagem.
Estas eleições tiveram grande adesão popular com quase 70% da população indo as urnas, Hichilema ganhou com mais de um milhão de votos de vantagem contra Lungu. Líderes de dez partidos entregaram uma carta ao presidente em exercício para que ele reconheça o resultado das urnas e contribua para uma transição tranquila de governo.
Partido Socialista de Zâmbia
Este ano o povo zambiano pode contar com uma candidatura realmente comprometida com os interesses populares, com a soberania nacional e com a luta contra a exploração neocolonial. A candidatura do camarada Fred M´membe representou o aparecimento de uma alternativa à hegemonia política da direita no país. O Socialist Party surgiu como organização política em 2018 e pela primeira vez concorreu para as eleições presidenciais com verdadeira expressividade.
Esta candidatura cumpriu a função de estimular o trabalho de base e de massificação do partido junto a população zambiana. Como forma de popularizar os princípios socialistas na sociedade e demonstrar que um desenvolvimento pautado nos interesses populares é possível para a Zâmbia. A candidatura do camarada Fred recebeu o apoio de mais de 16 mil eleitores, um número bastante satisfatório para a realidade política e conjuntural da Zâmbia. A votação do camarada demonstra a possibilidade de crescimento para os próximos pleitos.
Contudo, o Socialist Party segue apostando no trabalho de base como principal ferramenta na luta de classes, neste sentido a Campanha de Alfabetização e Agroecologia, coordenada pelo Partido com a ajuda da Brigada Internacionalista Samora Machel, tem auxiliar no objetivo de interiorizar os ideais socialistas e contribuir com o chamado à organização, principalmente da população rural do interior do país.
A mobilização de solidariedade internacional para a compra de bicicletas coloca o Socialist Party no centro da articulação internacional entre trabalhadores e organizações populares de todo o mundo.
Assembleia Legislativa Nacional
Uma das táticas do Socialist Party para estas eleições foi a conquista de cadeiras no parlamento nacional como forma de fortalecer o Partido e seu trabalho junto as massas a médio prazo, o Partido apresentou várias candidaturas de homens e mulheres em todas as províncias do país.
Em Zâmbia as eleições legislativas são disputadas no sistema chamado First Past The Post onde cada Constituency (divisão política regional no país) tem direito a um representante eleito por maioria de votos simples. Isto quer dizer que o vencedor é o candidato que obtiver mais votos que qualquer outro candidato daquela constituency, ainda que estes não sejam a maioria absoluta de votos válidos.
Os votos para a eleição de parlamentares seguem sendo contabilizados no país, a expectativa é que em mais algumas semanas seja possível ter o resultado da nova composição do Parlamento Nacional.
*Editado por Solange Engelmann