Preservação Ambiental
Escola de assentamento no RS cria projeto pedagógico de plantio de árvores
Por Wellington Quevedo
Página do MST
Nos meses de julho, agosto e início de setembro a escola Chico Mendes, localizada no assentamento Santa Elmira, no município de Hulha Negra, na região da Campanha, Rio Grande do Sul, desenvolveu um projeto de preservação e reflorestamento na comunidade local. Foram entregues 98 kits com 12 mudas de árvores frutíferas para famílias de assentados participantes da iniciativa. O projeto recebeu o nome de “Roteiro de Plantio de Árvores Paulo Freire”, uma homenagem ao mestre educador que completou seu centenário no último domingo (19).
As atividades da escola foram todas planejadas com cunho ambiental, além das entregas dos kits contou também com lives educativas. As ações envolveram toda a comunidade e contaram com a presença de ex-alunos.
As mudas foram entregues por famílias assentadas do MST de 25 de agosto a 3 de setembro. A instituição orientou o distanciamento social, uso de máscara e álcool gel 70% ao retirar o combo das árvores.
A intenção de reflorestamento é uma continuidade dos trabalhos ambientais que a escola já desenvolve em parceria com o Instituto Padre Josimo e a Pampa Sul, desde 2017 com o projeto das nascentes protegidas.
A ação teve como objetivo adquirir água de qualidade para os educandos. A primeira atividade realizada foi o plantio de mudas nativas nos arredores do manancial da escola, o que proporcionou uma conexão com a realidade vivida pelos Sem Terrinha no campo.
Além disso, foi lançado em 2019 o plano Nacional do MST, “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, que tem por meta plantar 100 milhões de árvores em dez anos, em territórios da Reforma Agrária e na cidade. O qual fez a escola envolver-se ainda mais na preservação do meio ambiente.
Como essa iniciativa tem a finalidade de estender os laços dos educandos com a natureza, faz florescer um senso de parceria com o ecossistema. Cenira Hahn, educadora da escola, fala da animação dos educandos de participar do programa. “Percebemos o entusiasmo das crianças envolvidas bem como das famílias”, explica.
Conforme Cenira Hahn o projeto cria um vínculo mais próximo com o biossistema. A ação também é uma forma de sair do ensino convencional de dentro da sala de aula, o que torna o método pedagógico mais interessante. “Os projetos ambientais do instituto são uma maneira de relacionar-se com o planeta e proporcionar uma amplitude da aprendizagem, cria um senso social, contribui de maneira significativa para a tomada de ações conscientes em defesa do meio ambiente e a manutenção da vida”, disse a Sem Terra.
Segundo a professora, o centro de ensino Chico Mendes desenvolve outros planos com carácter ambiental, sempre procurando incentivar os alunos com a melhoria de seus espaços escolares de ensino e aprendizagem. “Um desses projetos é o lápis semente. Se trata de lápis comum, só que ao invés de uma borracha em sua parte superior tem uma cápsula com uma semente. Então quando o instrumento não serve para escrita, dá vida a uma futura árvore,” conta a mestra.
Ex-alunos dão exemplo aos filhos de assentados
A iniciativa ajuda a mostrar a importância da educação para as novas gerações escolares. Para isso foram convidados ex-educandos da instituição para debater a magnitude do ensino como forma de construção pessoal e relação com a natureza.
Também foram realizadas lives entre os dias 8 a 15 de junho, que contaram com a participação desses ex-alunos da escola Chico Mendes. Os quais atuam na região como biólogos, agrônomos, professores e veterinários.
A comissão que atuou nas transmissões foi formada por profissionais conhecidos e com vínculos no assentamento, deste modo, se tornou um ambiente mais íntimo para o debate sobre o meio ambiente, como conta a ex-educanda Lara Rodrigues, que atualmente é articuladora social do Instituto Cultural Padre Josimo. “Mesmo que o espaço virtual não fosse o ideal para o encontro, porém, foi o recurso encontrado para poder fazer o evento”, relata a assentada.
Com projetos inovadores os jovens alunos se sentem mais motivados a participar das atividades da escola, como relata a mãe do aluno e assentada Carmen Silvia do assentamento Conquista do Futuro. “A comunidade ficou muito contente com esse lindo projeto. Acho muito importante para o aprendizado de nossas crianças e para o meio ambiente”, contou a Sem Terra.
Segundo Sara Milena Veber Machado de 11 anos, filha de assentados de Conquista da Fronteira a ação despertou o seu interesse e de seus colegas com aprendizados ligados à preservação da natureza que os cerca. “Foi muito legal. Eu e meus colegas plantamos árvores. Apresentamos os lápis sementes e nossas famílias ganharam certificados”, descreve a estudante.
Projeto alcança pessoas fora da escola
Essa construção de consciência ambiental não fica só nas novas gerações, abraça também as pessoas de mais idade. Uma forma de cativar os pais dos alunos foi entregar um certificado para os participantes do plantio dos kits das árvores frutíferas. Com o recebimento dos comprovantes de participação, acaba por construir uma sensação de pertencimento e merecimento aos envolvidos na ação.
Com o certificado em mãos as pessoas se sentiram emocionadas com os títulos, como conta a professora Cenira Hahn. “Ver as pessoas receber o certificado é emocionante, faz com que elas se sintam parte desse processo,” relata a pedagoga.
Além dessa sensação, o comprovante cria um compromisso com o meio ambiente e as futuras gerações. Esse sentimento atraiu o interesse de toda a comunidade. Primeiro foi feita a distribuição para as famílias vinculadas com a instituição e logo após, para os demais interessados na iniciativa.
Como o projeto não incentiva só as crianças, mas também todos os participantes do plano “Roteiro de Plantio de Árvores Paulo Freire”, mostra que ações como essas são importantes, como relata comovida a professora, Cenira Hahn. “Ações são concretas, palavras são só palavras. É preciso manter a esperança e seguir firme na caminhada e a escola é o caminho e ela deve ensinar a trilha pelo certo”, finaliza.
“Somos beija-flores em meio ao incêndio na floresta, sabemos que não apagaremos todo o incêndio, mas devemos ter a certeza que fizemos a nossa parte. O meio ambiente agradece, a vida agradece”, finaliza Cenira Hahn.
*Editado por Solange Engelmann