Democratização da Comunicação
O MST e o exercício da democratização da comunicação
Por Mayrá Lima*
Da Página do MST
Há pelo menos duas décadas, movimentos sociais e coletivos brasileiros celebram o Dia de Luta pela Democratização da Comunicação, no dia 17 de outubro. Não é novidade que o cenário no Brasil é escandaloso. A concentração dos meios de comunicação em poucas empresas privadas e familiares dificulta o acesso à informação e a construção autônoma de opiniões e pontos de vista.
Pensar em influência da mídia sugere que há o exercício de poder que deve ser analisado mediante a capacidade de produção e difusão de conteúdos simbólicos dos meios de comunicação dentro de contextos sócio-históricos. Como empresas privadas que possuem interesses capitalistas, comportam-se como instrumentos de reprodução da dominação e estabelecimento de consensos.
A resistência tem sido construída por meio da democratização da comunicação, pauta que tem reunido vários processos de resistência. Quero chamar atenção para a comunicação popular como exercício concreto de uma comunicação democratizada.
Oriunda dos movimentos populares, a comunicação popular foi construída como um canal de expressão da população mais pobre que, de forma organizada, forja alternativas à falta de porosidade da grande mídia. Mas o olhar para as experiências do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) permite que alguns elementos sejam incluídos.
Durante seminário realizado na Escola Nacional Florestan Fernandes, em 2019, o MST confirmou o “Informar, Formar e Organizar” como lema orientador dos objetivos da comunicação empreendida pelo Movimento. Trata-se de frase que mostra características importantes a serem destacadas.
Informar, porque ampliar o poder de acesso aos meios de comunicação é importante para disseminar os mais diversos projetos políticos existentes na sociedade. Os meios de comunicação de massa influem na fabricação e reprodução de representações do mundo social que fundamentam a compreensão que os grupos sociais têm de si mesmos, dos outros e de seus interesses. A informação que é produzida de forma inerente a um modelo de lucro tende a tornar a voz dissonante pormenorizada.
Formar, porque a comunicação popular também deve ser dialógica, como nos ensinou Paulo Freire. Diálogo é potencial em conceito e em método. A experiência do MST aponta para um horizonte onde é necessário a construção das bases de uma disputa de ideias, ou para uma batalha de ideias – onde os trabalhadores/as possam ter o controle da narrativa da sua própria realidade.
Organizar, porque somente em coletivo conseguimos fazer com que nossas vozes sejam ouvidas e que nos transformamos em ator político. O caráter participativo da comunicação popular – refletido desde a hora que conversamos com o nosso vizinho ao momento da produção de um roteiro para rádio, vídeo, ou mesmo um texto – é diferencial que ajuda no trabalho de base, na organicidade e sentimento de pertença.
A aplicação de tais premissas é um desafio constante, mas que deve ser visto nos mais diversos meios de comunicação que o MST mantém ao longo destes quase 40 anos. Desde o Jornal Sem Terra, veículo mais antigo que o próprio movimento, passando pelas rádios livres e comunitárias, cuja organização tem se revelado como caminho de organicidade e formação; além das experiências no campo audiovisual e redes sociais, tão importantes como fonte de informação contra-hegemônica neste período autocrático no Brasil. Tais aspectos renovam a compreensão de comunicação popular a partir de uma práxis que se revela em produção de conhecimento e exercício comunicação popular.
*Mayrá Lima é integrante do setor de comunicação do MST, doutora em Ciência Política e Jornalista.
**Editado por Maria Silva