Balanço
Jornada Nacional “Cultivando Solidariedade” denuncia fome e leva esperança do alimento
Por Solange Engelmann
Da Página do MST
Em um cenário de avanço da fome no Brasil, com famílias em busca de ossos para se alimentar em alguns estados, o uso de cada vez mais agrotóxicos e a devastação do meio ambiente pelo agronegócio, que tem provocado tempestades de areia entre outros problemas ambientais, sociais e econômicos, além do desmonte das políticas agrária pelo governo atual, agravando as crises que afetam a vida dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, o MST realizou de 8 a 16 de outubro a Jornada Nacional de Lutas “Movimento Sem Terra: Cultivando Solidariedade”.
O intuito foi de proporcionar um pouco de esperança às famílias em situação de vulnerabilidade que vivem na periferias do país, por meio da solidariedade com a doação de alimentos saudáveis produzidos em assentamentos e acampamentos nas áreas de Reforma Agrária do MST.
Antônia Ivoneide, a Neném, do Setor de Produção do MST, relata que a jornada chamou atenção para a necessidade de cultivar a solidariedade em períodos difíceis e ampliou a denúncia sobre a fome no país e as desigualdades sociais, que vêm sendo agravadas pelo atual governo. Além disso, buscou mostrar que existem várias empresas que lucram com a fome do povo e a carestia dos alimentos, como grandes empresas de alimentação e o agronegócio, que produz para exportar e receber em dólar.
“A nossa jornada de outubro trouxe elementos importantes, o primeiro foi a denúncia. Denunciar que um país com grandes produtores de soja e de milho tem muita gente passando fome, muita gente sem ter o que comer, sem emprego, sem casa, sem lugar pra morar. Foi o caso da Aprosoja [Associação Brasileira dos Produtores de Soja] que a Via Campesina fez a denúncia. Portanto, denunciamos empresas que apoiam atos antidemocráticos, mas que também lucram com a fome do povo, lucram com a inflação, com o preço da comida e com do descuido do governo em torno do povo”, denuncia.
Para Paulo Mansan, da direção estadual do MST em Pernambuco, o saldo da Jornada do MST “Cultivando Solidariedade” foi a relação que o Movimento estabeleceu entre a produção e a doação de alimentos saudáveis, demonstrando à sociedade brasileira que a Reforma Agrária dá certo.
“Esse vínculo do alimento é imprescindível porque a sociedade se dá conta de que quem está ajudando, quem ta passando fome são os Sem Terra, é a agricultura familiar camponesa, são os assentamentos da Reforma Agrária. Enquanto o agronegócio já vende pro exterior safras de 2022, 2023, 2024 em dólar, com o intuito somente de lucrar, os Sem Terra e a agricultura familiar camponesa estão produzindo alimento saudável através da agroecologia e sem o uso do veneno”, aponta.
Ações de solidariedade
A programação da Jornada relembrou três datas simbólicas para o MST, com atividades de homenagens a Che Guevara de 8 a 9 outubro; dos Sem Terrinha, entre os dias 10 a 12, cultivando solidariedade em homenagem ao legado de Paulo Freire; e de Luta pela Soberania Alimentar, de 13 a 16, com a Jornada da Soberania Alimentar: contra o agronegócio para o Brasil não passar fome!, com mobilizações e doações solidárias de alimentos saudáveis às populações em situação de vulnerabilidade nas periferias urbanos e em torno da luta internacionalista da Via Campesina por soberania alimentar.
Foram realizadas um conjunto de ações em todas as cinco regiões do país, com a participação de trabalhadoras e trabalhadores Sem Terra dos estados de Alagoas, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e do Distrito Federal. As atividades contaram com doações de alimentos da Reforma Agrária, produção e doação de marmitas e refeições, debates e conferências on-line pela soberania alimentar e contra a fome no Brasil, formação e troca de sementes, plantio de árvores, IV Encontro Mundial dos Movimentos Populares com o Papa Francisco, no Vaticano; ocupação de sede de empresa do agronegócio e de latifúndios, feiras da Reforma Agrária; inauguração de barracões de materiais recicláveis solidários, em parceria com movimentos sociais urbanos; entre outras atividades.
A esperança concretizada no alimento
Outro elemento relembrado por Mansan é sobre a esperança que o alimento carrega e promove em quem convive com a fome. “O impacto pra população que ta passando fome é a esperança. É impressionante como o povo ta necessitado. Falando do Recife, cada sinal tem alguém com uma placa pedindo. As pessoas que estão passando fome vêm pra rua, porque é a chance de ter alguma coisa pra comer.”
Neném explica, que além do combate à fome por meio de ações solidárias a jornada contribuiu para fortalecer os movimentos sociais urbanos e a mobilização da base Sem Terra nos territórios de Reforma Agrária.
“O combate à fome trás além da luta por condição pra se produzir, levar alimento na mesa do povo, o processo da solidariedade de doação de comida pras populações mais carentes. A grande importância disso é o fortalecimento com os movimentos urbanos, essa articulação com as populações das cidades. Mas, a jornada também fortalece a nossa base, na articulação, mobilização, no debate em torno da fome, da soberania alimentar, produção de alimentos saudáveis, da função social da terra.”
Natal Solidário
O passo seguinte do MST é fortalecer o processo de mobilização da sua base Sem Terra nos assentamentos e acampamentos para ampliar a produção de alimentos, com o cultivo de roças e plantios coletivos e solidários e na organização de cozinhas solidárias, voltadas à confecção de marmitas. O objetivo é ampliar a doação de alimentos da Reforma Agrária às populações em situação de vulnerabilidade no mês de dezembro, com a Campanha do Natal Solidário, voltado ao combate da fome, indica Neném.
“O que está previsto pro Natal Sem Fome é uma ampla campanha de doação de alimentos. Será uma grande articulação do MST com outras organizações pra gente doar comida no natal. A ideia é que a gente faça essa articulação desde agora pra organizar esse processo da produção, pra que em dezembro a gente tenha bastante alimento pra doar”, conclui.
*Editado por Fernanda Alcântara