Devastação

Desmatamento na Amazônia aumentou 22% em 2021 e é o maior em 15 anos

Apenas na última quinta (18), Governo divulgou dados do Prodes que estavam disponíveis desde 27 de outubro, antes da COP26. Amazonas dispara para a 2ª colocação no ranking dos estados mais desmatados
Imagem mostra desmatamento no buffer (5km) do Parque Nacional do Jamanxim, município de Itaituba. Foto: Marizilda Cruppe/Amazônia Real/17/09/2020

Por Aldem Bourscheit
Da PlenaMata
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A Amazônia Legal perdeu 13.235 km² de floresta entre agosto de 2020 e julho deste ano. A área equivale a oito vezes à da cidade de São Paulo. As perdas são 21,97% maiores diante dos 10.851 km² desmatados em 2020, que já era um recorde em relação aos últimos 12 anos. Trata-se da terceira alta de desmatamento consecutiva nos três anos do governo Jair Bolsonaro e a maior taxa desde 2006, quando foram derrubados 14.286 km². 

Os dados são uma estimativa da taxa de desmatamento do Prodes – Projeto para o mapeamento oficial das perdas anuais de vegetação nativa na Amazônia Legal – do INPE, ligado ao governo federal, divulgados na última quinta-feira (18/11), sem alarde.

Conforme balanços do Observatório do Clima e do MapBiomas, os 13.235 km² desmatados representam um aumento de 75% nas perdas florestais desde 2018. Nos três anos deste governo, o desmate acumulado chega a 34.215 km². O montante representa 1,9 bilhão de árvores derrubadas, conforme dados do monitor do PlenaMata, e 2 bilhões de toneladas de CO₂ lançadas na atmosfera, potencializando o aquecimento planetário. As derrubadas cresceram em todos os estados da Região Norte, sobretudo no Pará, Amazonas e Mato Grosso, o que não acontecia desde 1998.

“O resultado é fruto de um esforço persistente, planejado e contínuo de destruição das políticas de proteção ambiental no regime de Jair Bolsonaro. É o triunfo de um projeto cruel que leva a maior floresta tropical do mundo a desaparecer diante dos nossos olhos e torna o Brasil de Bolsonaro uma ameaça climática global”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. 

Mapa do monitor da plataforma PlenaMata mostra a taxa anual de desmatamento de 1998 a 2021 (de amarelo a vermelho).

A taxa de desmatamento, divulgada na página do INPE, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, é datada de 27 de outubro, o que indica que o desmatamento recorde já era conhecido pelo governo dias antes do início da 26º Conferência das Nações Unidas para Mudança do Clima, a COP26, que teve início em 31 de outubro. Os números eram divulgados anualmente durante esses eventos.

Para João Paulo Capobianco, da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, o Brasil assiste a um “duplo escândalo”. “O primeiro é a nota divulgada pelo Inpe ser de 27 de outubro, anterior à Conferência do Clima. É a primeira vez em que o Prodes não foi divulgado antes ou durante a COP. O governo federal foi a Glasgow já ciente da taxa de desmatamento, mas preferiu falar sobre outra métrica, o Deter, que apontava uma leve redução no desmate”. 

“Outro fator chocante é o aumento do desmatamento, que ocorreu apesar de anos de investimento maciço na presença das Forças Armadas na Amazônia. Só comprova aquilo que era sabido por todos que acompanham a pauta ambiental: o desmate se combate com planejamento e intervenções em áreas definidas de forma estratégica, e não pelo mero deslocamento de milhares de soldados, sem planejamento interno, para uma área de dimensões continentais. Sem uma mudança radical na abordagem, o avanço do desmatamento pode se tornar exponencial”, completou o ex-coordenador do PPCDA – Planejamento lançado em 2004 para reduzir o desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa geradas pela perda de vegetação nativa na Amazônia Legal. 

Os dados oficiais mostram que o desmate disparou em estados que historicamente lideram o desmatamento da Amazônia Legal, como o Pará (39,72%) e o Mato Grosso (17,10%). A novidade foi o Amazonas ocupar o segundo lugar, com 17,73% das perdas apontadas pelo INPE. Em relação ao ano passado e julho deste ano, o desmatamento no estado cresceu 55%. A variação percentual só foi maior no Amapá, de 62,5%.

Junto com o Acre e com Rondônia, o Amazonas é palco da Zona de Desenvolvimento Sustentável Abuna-Madeira. Uma reportagem do InfoAmazonia mostrou que o novo polo agropecuário, apoiado por dirigentes estaduais e pelo governo Jair Bolsonaro, se tornou o novo epicentro do desmatamento da floresta amazônica. 

Amazonas é o segundo estado amazônico mais desmatado, com 17,73% das perdas florestais registradas pelo INPE, um aumento de 55%.

Os números divulgados são estimativas e serão consolidados no primeiro semestre de 2022 – as estimativas de desmatamento, no entanto, costumam ser confirmadas pelo INPE.

O mapeamento do Prodes é feito com base em imagens do satélite Landsat ou similares, para registrar e quantificar as áreas desmatadas maiores que 6,25 hectares. O sistema considera como desmatamento a remoção completa da cobertura florestal primária por corte raso, independentemente da futura utilização destas áreas. A estimativa da taxa 2021 foi calculada a partir da análise de 106 cenas prioritárias de todos os estados da Amazônia Legal.