Produção
Mulheres do MST ampliam geração de renda com criação de agroindústria, no Paraná
Por Lucas Souza
Da Página do MST
Azulejos brancos, espaço adequado para o preparo e secagem de massas, além de vestiário e cozinha. Foram quatro meses de trabalho duro para cumprir os requisitos exigidos pela vigilância sanitária, somados a três anos de construção do coletivo A conquista foi celebrada no dia 18 de novembro, com a inauguração da Agroindústria, na sede da comunidade Maria Rosa do Contestado, localizada em Castro, no Paraná.
No evento de inauguração, uma mesa repleta de panificados como: pães, pastéis, bolos e tortas. Tudo feito pelas mãos das 13 mulheres que estão produzindo na mais nova agroindústria. Parceiros da comunidade Maria Rosa do Contestado também estiveram presentes, entre eles o Deputado Estadual Tadeu Veneri (PT), o mandato coletivo do PSOL da Câmara Ponta Grossa e a Cáritas Diocesana de Ponta Grossa.
Foi durante um almoço, em que foi preparado macarrão, que o coletivo de mulheres do acampamento decidiu iniciar o processo de produção e venda de massas caseiras. Agora, além do macarrão, serão produzidas conservas e outros panificados, como pães e cucas.
Já são três anos com a mão na massa e já integraram a equipe não apenas o coletivo de mulheres, mas a juventude e outros companheiros do acampamento. Do início do projeto, até o momento, houve uma grande evolução, tanto na quantidade de produção, quanto no desenvolvimento de receitas.
O macarrão inicialmente foi comercializado fresco, com uma durabilidade de poucos dias. Hoje, além de ser vendido seco e com um tempo de durabilidade maior, são produzidos 14 sabores diferentes de macarrão no Maria Rosa. Parcerias com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), também foi de extrema importância, foi através da universidade, que o cilindro mecânico foi conquistado pelas mulheres.
Açafrão, hortelã, espinafre, beterraba, misto, integral, cenoura, tomate, ervas, ora-pro-nobis, couve e comum, com uma receita desenvolvida pelo próprio coletivo, os ingredientes que dão o toque especial – e agroecológico – são produzidos de maneira orgânica pelos camponeses e camponesas do acampamento.
“Uma dos propósitos de trabalhar no macarrão é a luta, a luta do dia-a-dia”, é o que diz Rosane Mainardes, integrante da coordenação do Maria Rosa. O espaço de trabalho acaba sendo também um local de interação com a comunidade. “ A gente trabalhando está conversando, interagindo e dando opinião”, diz Mainardes.
O macarrão hoje é comercializado nas cestas da reforma agrária e agricultura familiar, em Curitiba pelo Produtos da Terra e em outras regiões do estado através da Rede Armazém do Campo. Angela Maria Procópio, que participa desde o início do projeto, afirma que “é muito bom, pois conseguimos tirar uma renda daqui de dentro”. O valor das vendas, contribui no orçamento das famílias acampadas no Maria Rosa.
Rosane diz que a intenção é “aumentar cada vez mais a nossa produção, para nossas companheiras não terem que ir lá fora buscar renda”. Com a demanda cada vez maior, o coletivo do macarrão do Maria Rosa tem buscado novas formas para aumentar a produção. Novos cilindros, mais salas, otimização da secagem usando telas e um ambiente climatizado, são alguns dos objetivos do grupo que há 3 anos busca novas maneiras de resistir no território.
O sonho da comunidade é também entregar alimentos para o Programa de Alimentação Escolar (PNAE) do município, que agora já será possível pela conquista da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP Jurídica), emitida neste mês de novembro.
A comunidade Maria Rosa do Contestado
Ocupado por 150 famílias, em 24 de agosto de 2015, a área originalmente pertencia à União, mas estava sendo utilizada ilegalmente pela Fundação ABC, uma empresa de pesquisas filiada às cooperativas Castrolanda, Arapoti e Batavo.
Explorada por mais de 30 anos pela Fundação, que realizava pesquisas utilizando os métodos de produção convencional, ou seja, com agrotóxicos, transformou-se em uma área de reforma agrária que produz alimentos orgânicos e agroecológicos, inclusive com certificação.
Durante dois anos a comunidade sofreu com a ameaça de reintegração de posse, mas no dia 30 de agosto, a liminar de despejo foi revogada. As ameaças nunca foram um fator limitante para a comunidade, que permanece desenvolvendo suas iniciativas e firmando cada vez mais suas raízes no território.
Uma dessas iniciativas, foi a organização de uma lavoura coletiva de feijão, em que toda a comunidade trabalhou, assim como foi no acampamento Padre Roque Zimmermann, também de Castro. Juntas, as duas comunidades colheram 4 mil quilos de feijão orgânico que foram destinados para pessoas na região urbana que estão vivendo em situação de vulnerabilidade.
*Editado por Fernanda Alcântara