Processo de Luta

MST no RJ comemora 5 meses do acampamento Cícero Guedes e 21 anos de luta no território

Resistência camponesa e trabalhadora no norte do Rio de Janeiro ocorre há mais de duas décadas em torno da fazenda Cambahyba
Luta do MST pela ocupação da fazenda Cambahyba se arrasta por 21 anos. Foto: Clarice Lissosvky

Por Coletivo de Comunicação MST-RJ
Da Página do MST

No último dia 24 de novembro de 2021, o Acampamento Cícero Guedes completou cinco meses de organização popular, localizado no município de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro. O acampamento representa a solidariedade dos/as trabalhadores/as do campo e urbanos na resistência à contrarreforma agrária do atual governo federal, que demonstra um verdadeiro descaso público. 

A luta pela ocupação da fazenda Cambahyba acontece há 21 anos. E mesmo com o decreto de desapropriação da área, oficializado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), ainda existem entraves à finalização da ação. Os Sem Terra do estado se encontram atentos e em constante vigília, pois enfrentam poderosos representantes da especulação imobiliária na região que ameaçam com investimentos transnacionais no Porto do Açu. 

O complexo de Fazendas Cambahyba, da antiga Usina, em Campos dos Goytacazes, é um local histórico de crimes contra os trabalhadores. Estruturada como uma usina de produção de açúcar, é um espaço marcado pela exploração e tortura durante a ditadura militar brasileira, entre 1964 e 1985. O complexo era utilizado como espaço de tortura e queima de corpos assassinados pelo regime, segundo as declarações do ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Claudio Guerra. O Dops foi um dos principais aparelhos de repressão e tortura durante a ditadura no Brasil.

Nesse cenário de crimes e exploração, o MST organizou em 2000 a primeira ocupação do complexo de Fazendas Cambahyba. Além de ser um importante espaço de retratação histórica para a classe trabalhadora, a falida usina foi considerada terra improdutiva pelos órgãos reguladores, não cumprindo sua função social e destinada à Reforma Agrária. Em uma região onde o trabalho urbano e rural estão interligados por uma economia, quase exclusivamente marcada pela produção de monocultura da cana de açúcar, a luta e resistência em 21 anos de luta promovida pelo MST na Cambahyba foi fundamental para estarmos a um passo da conquista. 

Nos cinco meses de acampamento Cícero Guedes, muitas famílias da região se integraram na ocupação, alguns oriundos do acampamento Luiz Maranhão, construído pelo MST em 2012, outras tantas famílias vieram de ocupações mais antigas, após enfrentar brutais reintegrações de posse, como no acampamento Mario Lago. E é preciso reconhecer que diversos movimentos e organizações demonstraram seu apoio. O acampamento representa uma luta ampla de redes de setores da sociedade civil, juntamente com os sindicatos progressistas e coletivos organizados em Campos dos Goytacazes.

Terras foram destinadas à Reforma Agrária

Nosso desafio continua! Tivemos a primeira vitória que foi o reconhecimento dessas terras destinadas para a Reforma Agrária. Porém, o processo ainda não foi finalizado. As famílias Sem Terra seguem na luta e resistência para garantir a negociação com o INCRA, parceiros como universidades e famílias acampadas, como determinado na decisão judicial. E assim, acelerar o processo para beneficiar as 300 famílias que há 21 anos lutam pelo sonho de efetivar a Reforma Agrária na área. 

As famílias de trabalhadores e trabalhadoras de Sem Terra do acampamento Cícero Guedes também dão exemplo de organização e planejamento. Em apenas cindo meses já é notória a modificação no cenário das fazendas que estavam abandonadas e improdutivas. 

As famílias já construíram moradias, espaços destinados à produção da horta comunitária em parceria com projetos de recuperação ambiental, também há uma escola em parceria com diversos parlamentares que visitaram o acampamento e a cozinha coletiva, que alimenta crianças e adultos todos os dias desde o início do acampamento. 

Mas ainda há um longo caminho a percorrer, nossa luta continua! A desapropriação das terras da Cambahyba e a construção do projeto de Reforma Agrária é um desejo de muitos dos que querem ver contada essa história a partir dos trabalhadores e trabalhadoras e não mais a vergonhosa história de exploração, assassinatos e conivência com regimes autoritários. 

Por isso, fazemos um chamado para que os apoios dos movimentos populares organizados continuem ativos. As famílias Sem Terra reconhecem, que foram de fundamental importância todas as visitas que o acampamento recebeu ao longo desses meses, desde artistas, dirigentes sindicais, parlamentares, até os militantes que acreditam e conhecem o histórico dessas terras.

Sabemos que só com muita organização, muita solidariedade, mudaremos essa história! A Cambahyba é nossa!

*Editado por Solange Engelmann