Carnaval Cancelado

Por mais um Tempo, vamos nos guardar pra quando o Carnaval chegar

Em 2022, em Olinda, o Homem da meia noite não vestirá seu melhor fraque, clarins irão tocar em silêncio e no Rio não vai ter chupeta nem Bola Preta
Homem da meia noite – Olinda (PE). Foto: Bobby Fabisak/JC imagens.

Por Fabito Figueiredo
Da Página do MST

É triste, meu povo, mas por mais um ano, vamos ter que nos guardar para quando o Carnaval chegar.

Diversas cidades vêm cancelando os festejos carnavalescos de rua em razão do aumento de infecções por Covid-19 e o surto de gripe influenza nesse início de verão. 

Após as celebrações de fim de ano, vemos dados alarmantes de internações por síndrome respiratória aguda grave em todo o país. Os leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) estão pressionados e, infelizmente, não há condições de realizarmos uma festa com a dimensão do Carnaval sem colocarmos em risco a vida dos foliões.

Vale ressaltar, que ainda em 2021, houve um movimento orquestrado entre prefeitos de direita que anunciaram o cancelamento do Carnaval em suas cidades por questões ideológicas. Muitos desses políticos atuam contra o Carnaval para inflamar sua base fundamentalista que odeia a Festa do Momo, maior celebração popular do planeta, rito cívico que coloca em xeque as tradições conservadoras e moral burguesa.

Com elevados índices de vacinados, governantes comprometidos com a festa e a saúde pública afirmavam que era necessário esperar, e que a decisão de cancelar ou não o Carnaval só poderia ser tomada em janeiro de 2022; e cá estamos.

Agora é hora de redobrarmos os cuidados para impedir a disseminação dos diversos vírus propagados nesse verão, que apenas começou.

Também é necessário pressionar prefeituras e governos estaduais (não incluo o governo federal pois Bolsonaro é inimigo da cultura) para que o poder público crie auxílios e editais emergenciais, amparando agremiações carnavalescas e artistas que mais uma vez não poderão contar com a fonte de renda gerada por trabalhos prestados durante o Carnaval.

Por fim, os comitês científicos formados para o combate à Covid-19 devem apresentar estudos sobre a viabilidade ou não da realização de festas privadas, pois o que vimos na virada do ano foi a disseminação descontrolada de inúmeros vírus.

Bloco Te Pego no Cantinho do Butantã/SP. Foto: Reprodução Facebook

Carnaval é festa da carne e não é possível assegurar o uso de máscara (contra a Covid), muito menos distanciamento social. 

Da perspectiva da luta de classes, em festas privadas, os privilegiados pagantes estarão sendo servidos pela classe trabalhadora que levará para suas casas e comunidades doenças que livremente circulam nos camarotes. Poderemos viver na quarta-feira de cinzas uma situação de calamidade que, talvez, extrapole a capacidade do nosso extraordinário SUS. 

Eu que sou apaixonado pelo Carnaval penso que é necessário mais um ano de espera de todas e todos nós. Que governantes criem ações para combatermos os vírus em escala local e global, para que finalmente, e em 2023, com Bolsonaro derrotado e Lula presidente, seguras e seguros possamos gozar do maior Carnaval de todos os tempos.

*Integrante do Coletivo Nacional de Cultura do MST e fundador do bloco Te Pego no Cantinho do Butantã (SP).

**Editado por Solange Engelmann