Solidariedade Sem Terra
Natal Sem Fome do MST beneficiou 250 mil pessoas em situação de vulnerabilidade
Por Lays Furtado e Solange Engelmann
Da Página do MST
A partir do balanço feito após a Campanha Natal Sem Fome do MST, realizada entre 10 de dezembro até 6 de janeiro de 2022, foi possível beneficiar cerca de 250 mil pessoas em situação de fome e insegurança alimentar em 24 estados do país.
No total, foram distribuídas cestas, em sua maioria compostas por produtos de assentamentos e acampamentos do MST, e que beneficiaram cerca de 50 mil famílias. Além de mais de 30 mil marmitas e ceias especiais natalinas que contribuíram no combate à fome em aldeias indígenas e comunidades periféricas, urbanas e rurais.
Além de alimentos e produtos da Reforma Agrária, o MST também distribuiu cerca de 17 mil livros nas comunidades dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. As publicações foram arrecadações doadas pela editora Expressão Popular, que contém edições próprias, como também livros publicados por editoras associadas, como a Editora 34, Editora Elefante, Nuestra America. Ao todo foram 70 títulos diversos fomentando uma Rede de Bibliotecas Populares.
Conheça algumas das ações solidárias desenvolvidas ao longo da campanha Natal Sem Fome com comida no prato:
Solidariedade na luta pela terra e pela vida com comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul
No Mato Grosso do Sul, 52 toneladas de alimentos da Reforma Agrária Popular chegaram às famílias Kaiowás, Guaranis e Terenas presentes em 17 comunidades no estado. As doações foram desenvolvidas com o apoio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Além do Mato Grosso do Sul, outras comunidades indígenas foram beneficiadas pela campanha de doações no Rio de Janeiro e no Maranhão.
As comunidades indígenas atendidas pela campanha estão organizadas em resistência no processo de retomadas, lutando pela vida e pelo direito à terra. As doações das cestas são uma forma do MST se solidarizar com as dificuldades enfrentadas pelas(os) indígenas em resistência por seus territórios tradicionais.
Entre as doações distribuídas, 700 cestas de alimentos foram destinadas para as aldeias Guaranis e Kaiowás nas cidades de Dourados, Douradina, Rio Brilhante, Caarapó e Ponta Porã. Nas cidades de Eldorado e Iguatemi, 320 cestas de alimentos chegaram às aldeias Guaranis e Kaiowás Cerrito, Yvy Katu/Porto Lindo e Pyelito Kue.
Já em Naviraí, 45 cestas solidárias foram entregues para os povos Guarani e Kaiowás no Tekoha Kurupi, e na aldeia urbana da mesma cidade. O Tekoha Kurupi é formado por 15 famílias, as quais sofrem há 20 anos com falta de água. Apesar da situação, seguem na luta em defesa de seu território.
Ainda no Mato Grosso do Sul, outras 800 cestas de alimentos foram entregues para diversas aldeias do povo Terena, na cidade de Sidrolândia,onde há um grande número de assentamentos. Uma destas comunidades beneficiadas foi a aldeia urbana Tereré, na qual vivem 160 famílias.
Após receber as doações em sua aldeia, Laurentino Garcia Nhu Vera Guasu, de Dourados, agradeceu enquanto liderança local em nome de sua comunidade pelas cestas de alimentos doadas, que beneficiaram cerca de 100 famílias dos 3 Tekohas a região – como são chamadas as aldeias em Guarani.
“E chegou na hora certa, por que muitas famílias já não tem mais o que comer dentro de suas casas e barracos, onde também tem crianças que estão precisando dessas cestas”, contou Laurentino, informando que nem mesmo o governo tem enviado mais suprimentos e só tem contado com o apoio de ações solidárias.
Em Dourados, as doações atenderam retomadas indígenas que sofreram ataques criminosos no último período. Retomadas são formas de lutas realizadas pelos povos indígenas nas quais ocorre a reconquista de seus territórios tradicionais, que estavam, na maioria das vezes na mão do latifúndio.
Segunda maior cidade do estado, Dourados possui a maior população aldeada do MS. Somente a Reserva Indígena da cidade possui 18% de indígenas do estado. No último ano, os povos indígenas daquelas aldeias sofreram com os casos de covid-19, causados, sobretudo, pela demora na vacinação.
Doações chegam a 2 mil famílias da periferia e aldeias no Rio de Janeiro
No estado do Rio de Janeiro, com parte da Campanha Natal Sem Fome, as famílias do MST se organizaram para distribuir alimentos, cestas com produtos, livros e um símbolo da organização, buscando garantir a ceia de cerca de 2 mil famílias, em situação de vulnerabilidade em oito comunidades urbanas da capital fluminense.
Marina dos Santos, dirigente nacional do MST no Rio de Janeiro, explica que as doações foram em comunidades urbanas do estado em que o MST já vem realizando trabalhos de base e parcerias de luta, como na Rocinha, Manguinhos, Jacarezinho, entre outras. “Então, isso é fruto de um trabalho histórico realizado lá na comunidade, em parcerias com várias organizações populares e sociais, junto com o MST do Rio de Janeiro e essas comunidades, seja em áreas de formação, educação, mobilização por direitos, especialmente com a juventude. Estaremos seguindo o nosso trabalho solidário, com as famílias da Rocinha, do Cerro Corá, do Jacarezinho, da Aldeia em Maricá, do Grota, Manguinhos, Cidade de Deus e Vila Cruzeiro”, afirma.
A dirigente relata que cada cesta doada no Rio de Janeiro incluiu produtos como arroz, feijão, farinha, açúcar e 4,5 kg de frutas, legumes e verduras, além de livros para a montagem de bibliotecas populares.
As famílias assentadas e acampadas do MST no estado passaram um longo período se preparando para a campanha Natal Sem Fome, com o cultivo de roças comunitárias para momentos de alegria e se sentir gratificada com a doação dos alimentos que produzem, conta Marina. “É com muita alegria, disposição e fraternidade, que todas as famílias do MST organizado no estado do Rio de Janeiro se organizaram, tanto no plantio dos alimentos e na colheita, juntamente com a organização e distribuição das cestas que chegaram às comunidades e periferias urbanas. Para seguir avançando com a classe trabalhadora urbana na construção e na defesa da Reforma Agrária Popular, pra que ela realmente tenha esse papel de produzir alimentos saudáveis, de gerar emprego e renda pra toda população.”
E complementa. “O que nós queremos realmente é seguir construindo juntos, trabalhadores do campo e da cidade, a seguinte palavra de ordem: “A ordem é ninguém passar fome, progresso é o povo feliz”, conclui Marina.
Doações e Ceia de Natal em São Paulo chegaram a 100 toneladas de alimentos
No estado de São Paulo e na capital paulista outro grande centro urbano do país, que concentra muitas famílias em situação de vulnerabilidade nas periferias, a campanha Natal Sem Fome do MST realizou a doação de cerca de 100 toneladas de produtos da Reforma Agrária e organizou ações de solidariedade em oito regiões do estado: na capital, além das cidades de Campinas, Bauru, Marília, Jardinópolis, Presidente Prudente, Presidente Bernardes, Mirante do Paranapanema, Sandovalina entre outras.
Na capital de São Paulo ocorreram doações para várias comunidades nas periferias, ocupações, imigrantes e pessoas em situação de rua. As doações contaram com o apoio de vários e amigos do MST, que também tem contribuído com a arrecadação de alimentos entre as famílias assentadas e acampadas da Reforma Agrária, conta David Zamory, da direção estadual do MST em São Paulo.
“As doações contaram com uma cesta farta e de alimentos saudáveis, frutos da luta pela Reforma Agrária. Dessa forma, além de propiciar um Natal mais tranquilo para essas famílias, nossa expectativa também foi demonstrar que só através dessa aliança, entre o campo e cidade poderemos pressionar os governos a atuarem de maneira séria e consequente contra a epidemia de fome que assola o país”, defende.
Além das doações de alimentos e produtos da Reforma Agrária no estado, o MST em São Paulo ainda realizou um Almoço de Natal solidário, juntamente com as 70 famílias da Comuna da Terra Irmã Alberta, localizada na zona noroeste da cidade de São Paulo.
Zamory ressalta que foi um momento de união e comunhão de forças na luta pela Reforma Agrária e pela soberania alimentar no estado. Ele explica que a Comuna da Terra Irmã Alberta é uma zona periférica com “características periurbana (meio urbana e meio rural) com 116 hectares que seriam destinados a um lixão, mas que há 19 anos se encontra ocupada por famílias do MST, que reivindicam a desapropriação do local para fins de Reforma Agrária.”
Mesmo com as diversas dificuldades enfrentadas pelas famílias assentadas em São Paulo, com a crise da pandemia, geadas, devastação ambiental e o desmonte de políticas públicas para Agricultura Familiar e a Reforma Agrária por parte do governo federal e estadual, Zamory relata que as famílias do MST no estado se engajaram na campanha do Natal Sem Fome do MST produzindo alimentos e por meio disso, denunciando a violência e a crueldade do aumento da fome e da miséria no país.
“As famílias entendem a importância das ações de solidariedade como um meio de denúncia e resistência em todo o Estado, uma vez que a pobreza e a fome não atingem só a capital, mas até mesmo as médias e pequenas cidades têm sofrido com o desemprego, a falta de perspectiva para a juventude e toda a violência desses tempos, especialmente com a população negra, as mulheres e os sujeitos LGBT”, conclui.
Produtos da Reforma Agrária Popular vindos das cooperativas do MST. Foto MST SP
Em Jardinópolis, interior de São Paulo, o MST e a Rede Agroflorestal doaram em 16 de dezembro mais de uma tonelada de alimentos saudáveis. Os alimentos são fruto da luta pela Reforma Agrária Popular, e vieram dos assentamentos Sepé Tiaraju (Serra Azul) e Mário Lago (Ribeirão Preto), beneficiando 150 famílias em situação de insegurança alimentar.
*Editado por Fernanda Alcântara