Alimentação Escolar
Alimentos da Reforma Agrária chegaram a 1 milhão de estudantes de escolas públicas no PR
Cooperativas e Associações da Reforma Agrária entregaram 3,7 mil toneladas de alimentos via PNAE
Por Lucas Souza
Da Página do MST
Batata, couve, cebola, batatinha, pêssego, ameixa, molho de tomate, salsinha, cebolinha, chuchu e banana. Esses são alguns alimentos orgânicos produzidos pelos associados da Cooperativa da Reforma Agrária Terra Livre, localizada na Lapa, Paraná, que tem como destino as cozinhas de escolas estaduais e municipais do estado por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Os agricultores da Reforma Agrária, associados e cooperados, representam em média 22% da execução do programa no estado. Em 2021, foram entregues 3,7 mil toneladas de alimentos para mil escolas estaduais do Paraná, são quase um milhão de alunos atendidos com alimentos saudáveis.
A Cooperativa Terra Livre, que fica no Assentamento Contestado, é certificada com produção orgânica e integra a Cooperativa Central de Reforma Agrária do Paraná (CCA-PR), sendo uma das 21 associadas. “Ao todo, 18 filiadas que acompanhamos fazem entregas para o PNAE”, diz Olcimar da Rosa, diretor da CCA-PR.
Foto: Leonardo Henrique / MST-PR.
Antes da participação da agricultura familiar no programa, a alimentação recebida nas escolas não era diversificada e muitas vezes contada, sendo limitada em uma para cada estudante. Também era habitual comidas ultraprocessadas. “Eram somente produtos enlatados”, conta a professora Elizete Pereira, “a partir da agricultura familiar, as escolas passaram a receber esses produtos in natura“.
Professora da rede estadual desde 1988, Elizete presenciou a mudança por qual a merenda escolar passou durante os mais de 30 anos que leciona. A professora conta que a partir da inserção da agricultura familiar no PNAE a qualidade dos alimentos recebidos melhorou muito, “os alunos agora consomem uma refeição completa, com frutas, legumes e carne e podem repetir quantas vezes quiserem”, conta.
O PNAE é um programa federal criado para promover a segurança alimentar de todos os estudantes da rede pública. A agricultura familiar passou a integrar com mais vigor o programa em 2009, durante o segundo mandato do presidente Lula, após a Lei nº 11.947, de 16/6/2009, que diz que os municípios e estados devem garantir a aquisição de pelo menos 30% dos recursos destinados à alimentação escolar, da agricultura familiar. Essa medida garante alimentos mais frescos e com o mínimo de processamento, o que favorece saúde aos estudantes, visto que muitos realizam apenas a refeição no ambiente escolar.
Antes de comercializar a produção com maior intensidade para o PNAE, Celson e os outros agricultores do assentamento vendiam a produção através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que dispensa licitação e destina os alimentos para as pessoas que estão em insegurança alimentar. A venda era feita através de uma associação, “em seguida fundamos a Cooperativa Terra Livre e demos um trabalho maior na linha do PNAE”, conta o agricultor.
Alimento saudável na mesa das escolas
A ocupação, que tem como resultado o Assentamento Contestado, aconteceu em 1999. A área, antes improdutiva e com dívidas, hoje é lar para cerca de 160 famílias, em sua maioria produzindo agroecologicamente.
Há também no território escolas de todos os níveis, da educação básica até a formação superior – Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA) -, além de um posto de saúde, que desenvolve a medicina natural em conjunto com a convencional, e um anfiteatro, que funciona como espaço cultural. São infraestruturas muitas vezes limitadas aos centros urbanos, à disposição da população rural.
Ceres Hadich, da direção nacional do MST no Paraná, explica que no início dos anos 2000, o debate da produção agroecológica tomou força dentro do MST. “Quando conseguimos definir a agroecologia como um conceito, a gente passa a aplicá-la com muita intencionalidade nos nossos territórios, em todo o Brasil”, relembra.
Foram criadas escolas de agroecologia, atividades de formação em massa, as Jornadas de Agroecologia, e também ações mais concretas, como organizar as cooperativas, linhas de produção, acampamentos e assentamentos em torno dessa nova elaboração científica.
A agroecologia “não é apenas uma troca de insumos”, explica Ceres, “ela abrange todos os processos de relações humanas, culturais e de trabalho”. Sendo a cooperação uma importante ferramenta de trabalho e de fortalecimento das relações de produção.
A comercialização da produção requer planejamento e logística. É nesse sentido que surge a relevância de programas de incentivo governamentais como o PAA e o PNAE. Chagas conta que é muito importante ter a segurança de saber que o que foi plantado será vendido, “pois aí o agricultor pode organizar o seu planejamento de investimento e técnicas em sua área”, diz.
No Assentamento Contestado, a organização do planejamento acontece via Cooperativa Terra Livre, criando uma escala de produção dos cooperados, que cultivam uma enorme diversidade de hortaliças, legumes, frutas e também processados, como molhos e geleias de frutas. Com a participação nos programas, é possível criar e investir em novas técnicas de agroecologia.
Outros produtos in natura e processados produzidos pela Terra Livre ainda não são comercializados via PNAE, mas a integrante da coordenação da Cooperativa, Vanessa Padilha, conta que existe o projeto de inserir esses produtos na comercialização pelo programa, porque “tendo essa certeza do PNAE, as pessoas investem mais e a cooperativa também”.
O plantio e colheita são organizados de acordo com a entrega no Programa de Aquisição de Alimentos, pensado em ciclos de até um ano, o que gera uma cadência maior de produção, fazendo com que os cooperados entendam melhor o que o mercado vai consumir e tenham segurança de que o que é produzido será vendido.
Veja o vídeo que resume um pouco da experiência desenvolvida no Paraná:
*Editado por Maria Silva