Aniversário
Nas trincheiras de luta da comunicação popular em 2022
Por Monyse Ravena*
Para Página do MST
O ano era 2002. O país estava envolto em uma crise econômica, vivendo o racionamento de energia elétrica e sob a presidência do governo neoliberal do tucano Fernando Henrique Cardoso. Nesse cenário ocorre a primeira eleição do operário Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT) para a presidência do Brasil com 53 milhões de votos e no futebol, a conquista do pentacampeonato pela seleção brasileira.
Nesse mesmo ano, militantes de movimentos e organizações populares já acalentavam e construíam uma experiência que nasceria dali a um ano: O Jornal Brasil de Fato, lançado em Porto Alegre (RS), durante o Fórum Social Mundial, em 2003. Desde o lançamento até hoje, o Brasil de Fato ganha as ruas, telas, antenas e redes com a visão popular do Brasil e do Mundo. Logo completará 20 anos de atuação e segue sendo uma das mais interessantes e necessárias ferramentas de comunicação popular e jornalismo do país.
Comunicação de classe na história
Assim como o Brasil de Fato na contemporaneidade, a história nos apresenta inúmeras experiências de comunicação da classe trabalhadora. A luta social sempre foi comunicada com criatividade e a partir do esforço militante. No Brasil, desde o início do século XX se multiplicaram as iniciativas de jornais operários de matizes diversas (comunistas, socialistas, anarquistas etc.), distribuídos em portas de fábricas, portos, comércios e outros locais de trabalho, passados de mão em mão, lidos coletivamente no intervalo do serviço, na hora do descanso ou nas reuniões entre camaradas. Também os camponeses e seus movimentos e sindicatos elaboraram formas de comunicação própria, muitas delas inspiradas na cultura e na arte popular, como por exemplo os cordéis e repentes.
No período da ditadura militar, se esquivando dos tentáculos autoritários do Estado eclodem diversas experiências de comunicação popular de um canto a outro do Brasil. As linguagens e formas de distribuição eram diversas, assim como o público alcançado. Seja pelas ondas da Rádio Libertadora, nos jornais alternativos que dobravam a censura, a perseguição, a falta de recursos, nos boletins mimeografados, nos relatos de tortura escritos e enviados clandestinamente a partir das prisões, a sociedade foi tendo acesso as informações sonegadas pelo Estado e a pressão pelo fim da ditadura aumentando.
A luta contra o fascismo
Em várias conjunturas onde foi necessário a luta contra o autoritarismo, a comunicação popular esteve presente e atuando ativamente, assim como hoje. O ano de 2022, como o de 2002, será de batalhas difíceis para o povo que tem o desafio, a tarefa e a oportunidade histórica para impor uma derrota que impactará o fascismo, que hoje senta na cadeira presidencial e disputará as eleições.
O governo de Jair Bolsonaro ataca a liberdade de expressão, o exercício do jornalismo, a comunicação popular, ao mesmo tempo que investe na desinformação e propaga o conservadorismo e a discriminação. Nesse contexto de acirramento das lutas populares, aqueles e aquelas que se dedicam a construir cotidianamente a batalha das ideias a partir da comunicação popular terão tarefas centrais e imprescindíveis.
No exercício da comunicação popular não se abre mão da defesa da democratização da comunicação como essencial para transformações sociais e políticas. Democratizar a comunicação passa por coletivizar recursos públicos, fontes, regiões do país, formas e tecnologias usadas para que nossas ferramentas e experiências consigam disputar a hegemonia na sociedade.
É preciso convocar, acompanhar, repercutir, mobilizar a atenção das pessoas em meio à guerra de informações que vivemos para as lutas e pautas populares. Escrever, tuitar, fotografar, criar, formar, planejar, pichar, nada é menos importante, nem dispensável na batalha de ideias, que se avizinha. Denunciar a fome e a piora das condições da vida do povo, assim como anunciar que o caminho para a mudança na vida de cada um e cada uma é coletivo, são mensagens que precisam chegar a mais gente.
Que em 2022 cada muro, página, tela também seja a trincheira de luta e de esperança por um Brasil mais justo para seu povo.
*Jornalista do Brasil de Fato e comunicadora popular
**Editado por Solange Engelmann