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Rita, à procura de seus sonhos

A luta pela moradia de uma das mães e moradora da ocupação Nova Esperança, em Campo Magro (PR)
Rita de Cássio Rodrigues, 26 anos, saiu de em Santa Catarina até o Paraná em busca de uma condição melhor de vida. Foto: Juliana Barbosa/MST PR

Por Barbara Zem
Da Página do MST

Mãe solo de três crianças, Rita de Cássio Teodoro Rodrigues, 26 anos, saiu de Blumenau, em Santa Catarina e foi até o Paraná em busca de uma condição melhor de vida. Ela mora na Comunidade Nova Esperança, em Campo Magro, Região Metropolitana de Curitiba, há mais ou menos cinco meses e ainda está se adaptando à nova vida, às pessoas da comunidade e à nova rotina.

Ainda em Blumenau, conta que o barraco onde morava ficava em um barranco que estava quase despencando, e queria oferecer aos seus filhos uma condição que ela não teve. “Eu não quero que eles (meus filhos) passem por isso, eu não quero que eles passem fome, que eles não tenham um lugar para dormir. Quero que eles tenham e que isso seja deles no futuro, porque não vai ficar pra mim e sim pra eles”, afirma.

O relato mostra que a luta por moradia de Rita vem de muito antes de chegar à Comunidade, e que essa luta é necessária, pois todos e todas deveriam ter um espaço de terra para construir sua casa e ter um lugar para chamar de seu.

“O direito pela moradia na verdade deveria ser direito para todas as pessoas”, afirma Rita. Foto: Juliana Barbosa/MST PR

O relato mostra que a luta por moradia de Rita vem de muito antes de chegar à Comunidade, e que essa luta é necessária, pois todos e todas deveriam ter um espaço de terra para construir sua casa e ter um lugar para chamar de seu.

“O direito pela moradia na verdade deveria ser direito para todas as pessoas, eu acho que todo mundo que trabalha e que corre atrás, tem o direito sim. Por que não pensar alto? Por que não pensar, eu vou ter a minha casa?”, diz Rita.

Quando chegou na comunidade e conheceu as pessoas e o lugar, o desejo de ter algo próprio aumentou, pois ela sabe da dificuldade e o quanto é caro pagar um aluguel sozinha, cuidar de uma filha sozinha e comprar as coisas para ela. Como ela mesma falou, correr atrás de um sonho e conseguir é a melhor coisa do mundo, e o melhor presente que Deus deu a ela depois dos seus filhos, foi ter uma casa.

O espaço de terra que agora possui, ainda é simples, é uma casa pequena de madeira, com piso de cimento, que quando chegou ainda era só terra. Aos poucos, quando conseguir um emprego e tiver melhores condições, Rita quer ajeitar sua casa e também o espaço ao ar livre que ela tem. Atrás de sua casa, Rita começou a plantar algumas coisas, como abóbora, tomate, alho, cebolinha e hortelã e a ideia é mais para frente fazer uma horta, e dali colher seus próprios alimentos sem agrotóxicos, e não só para ela, mas para as pessoas da comunidade que também precisem e não tenham esse alimento.

Na ocupação Nova Esperança, onde Rita mora, o Movimento Popular por Moradia (MPM) faz a luta pelo direito a ter uma casa para viver. No campo, o MST busca a democratização da terra para que camponesas(es) possam plantar e partilhar alimentos saudáveis.

Durante a pandemia, o número de pessoas que perderam suas casas e passaram fome aumentou ainda mais (segundo dados de abril de 2021, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, 116,8 milhões de brasileiros não têm pleno acesso a alimentos). Foi bem nesse momento que Rita veio morar na comunidade. O MST, em conjunto com as Marmitas da Terra, passou a distribuir marmitas para as pessoas em situação de rua e para algumas comunidades; entre elas, a Nova Esperança.

Todas quartas-feiras são entregues marmitas na comunidade e muitas pessoas dali pegam essas doações, inclusive a Rita. Para ela é fundamental essa ajuda, não só para ela, mas também para outros pais e mães que precisam sair para trabalhar e não tem tempo para fazer almoço. As crianças conseguem almoçar antes ou depois de chegar da escola e ter um alimento gostoso, saudável e bem feito. Camponesas, camponeses e voluntários plantam, colhem o alimento e fazem as doações.

Querendo ou não a marmita é importante e ajuda bastante, não só a minha família, não só na minha casa, mas todas as famílias que estão na comunidade,” relata Rita.

Rita também comentou que na comunidade existem espaços que podem ser usados para beneficiar os moradores, e quem sabe mais pra frente não usem para fazer uma horta comunitária onde todos possam plantar e colher seu próprio alimento, sabendo como foi feito. E quem sabe a comunidade não passe a produzir suas próprias marmitas ou até fazer doação de alimento para ajudar nas Marmitas da Terra.

Além disso, a comunidade oferece alguns espaços para os moradores usufruírem, a quadra para praticar esportes, a escola para as crianças e os adultos estudarem, a cozinha comunitária onde algumas refeições são feitas, além de alguns mercadinhos e quiosques onde as pessoas podem comprar o que for necessário. Os filhos mais velhos de Rita, Isabelly (3 anos) e Dayvid (7 anos), frequentam a escolinha e também brincam com as outras crianças da comunidade, sempre com supervisão da mãe. Como o mais novo, José Ricardo só tem 1 mês ainda fica com a mãe em casa.

Rita também falou que tem um sonho, sonho de criar uma Organização Não Governamental (ONG) onde ela possa ajudar as pessoas que precisam, com um espaço grande e uma cozinha onde ela possa fazer comida pra todos, e um lugar para quem não tiver onde dormir e tomar um banho possa ter esse benefício que seria direito de qualquer ser humano. Quem sabe mais pra frente e com a comunidade esse sonho não se torne realidade.

“… Amor, ajuda, compreensão, união fazem a força mais do que o dinheiro”, diz Rita. Foto: Juliana Barbosa/MST PR

Como a comunidade está em constante mudança, novos projetos e mudanças podem acontecer ali, não só no local, mas também na vida dos moradores. Só o fato de ter uma moradia, com melhores condições e valores de água e luz acessíveis, é possível ter uma vida melhor, é possível continuar seu sonho e não perder a esperança de algo melhor acontecer na vida de cada um.
“Ninguém é melhor do que ninguém por ter dinheiro. Amor, ajuda, compreensão, união fazem a força mais do que o dinheiro”, completa Rita.

Ocupação Nova Esperança

Surgiu no meio da pandemia, quando um grupo de mais ou menos 400 pessoas, ocuparam um terreno abandonado há mais de uma década. São quase 1.200 famílias morando ali e a maior parte da população é haitiana, e uma minoria venezuelana e cubana, dessas pessoas mais de 1,5 mil são crianças.

Toda comunidade luta diariamente por moradia, trabalho, saúde, educação e lazer, que são itens que todos deveriam ter desde sempre. Além disso, o MPM em conjunto com várias organizações, entre elas o MST, criaram diversos espaços coletivos para as famílias usufruírem, tem a horta comunitária, a biblioteca, as salas de aula onde as crianças e os adultos realizam atividades e cursos profissionalizantes, biofossas (para grande parte das moradias), cozinha comunitária e padaria comunitária.

Todos esses espaços foram criados para que a ocupação criasse certa independência e pudesse se desenvolver de forma individual, contando com a ajuda dos moradores. Além disso, algumas iniciativas como a marcenaria, coleta de material reciclável e fabricação de blocos ecológicos foram desenvolvidas para gerar renda.

Iniciativas e Mobilizações

Além disso, na ocupação foram realizadas algumas ações, entre elas a Formação de Agentes Populares de Saúde do Campo desenvolvida pelo Setor de Saúde do MST. E em conjunto com as professoras da ocupação alguns voluntários do MST também ajudam com aulas de reforço que acontecem semanalmente.

A mobilização do Grito dos Excluídos e a Campanha Fora Bolsonaro aconteceram dentro da ocupação e tinha como foco a luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda. 

*Editado por Solange Engelmann