Aniversário
Viva o MST e a luta pela terra em Minas Gerais: 34 anos ocupando a história e plantando solidariedade!
Por Matheus Teixeira*
Da Página do MST
Herdando o legado das Ligas Camponesas e bebendo da fonte da Teologia da Libertação, o MST surge em Minas Gerais numa região dominada pelo coronelismo. A ocupação da Fazenda Aruega, no vale do Mucuri, dá continuidade à luta dos posseiros de Teófilo Otoni, que perdurou de 1945 a 1948 e foi fortemente reprimida. Durante o período de resistência das famílias acampadas a repressão policial ganhou destaque quando a PM criou um aparelho, que batizou de “Aruega”, para apreender foices. Hoje, um dos assentamentos, localizado no município de Novo Cruzeiro, conta com mais de 120 famílias assentadas, escola, posto de saúde e igreja, que atende não só os assentados, mas também comunidades do entorno.
Silvio Netto, da direção nacional do MST, afirma que a coragem, rebeldia e determinação do povo mineiro fez erguer, há 34 anos, a bandeira vermelha nas terras do Mucuri. “Esse marco histórico na luta por acesso à terra é símbolo potente de resistência e construção de uma Reforma Agrária Popular, de um projeto de vida para o povo de Minas Gerais.”
A região dos vales (Mucuri, Jequitinhonha e Rio Doce), berço do MST no estado, cumprem um papel muito importante para disseminar e estadualizar a luta pela terra.
O Vale do Rio Doce é a região com mais áreas de assentamentos, cerca de 20, além de 300 famílias acampadas, mesmo sendo uma das regiões mais degradadas anteriormente pela produção intensiva de gado. É nessa região que surge a UDR (União Democrática Ruralista) e é também nela que o MST conquista, em 1996, a antiga Fazenda do Ministério, de onde saiu ordens para repressão na ditadura militar, em 1964. Recupera a reivindicação das Ligas Camponesas e ressignifica a história do lugar, transformando os assentamentos em lugares de vida e sonhos, como o Assentamento Oziel Alves Pereira, que abriga o Centro de Formação Francisca Veras, campo de futebol, entre outras conquistas. Essa foi a região que mais sofreu com o crime da Vale em Mariana, que contaminou todo o Rio Doce com a lama tóxica dos rejeitos de minérios.
Tombaram cinco Sem Terra, mas nós seguimos em frente (Pedro Munhoz)
O Vale do Jequitinhonha, região de seca e também dominada pelo coronelismo, ficou marcado pelo Massacre de Felisburgo, onde 17 pistoleiros, a mando do fazendeiro Adriano Chafik, assassinaram cinco Sem Terra e feriram outros 20 no dia 20 de novembro de 2004. Depois de muita luta, Chafik foi condenado a 113 anos de prisão.
No sul de Minas Gerais, a regional Quilombo Campo Grande, que herda o nome de um dos mais belos Quilombos da história brasileira, é palco de uma das batalhas mais intensas contra o latifúndio, personificado pela Usina Ariadnópolis, fruto de grilagem e especulação por meio da empresa falida “Cápia”. A luta do Acampamento Quilombo Campo Grande já se desenvolve há mais de 25 anos e ganhou destaque novamente em agosto de 2020, quando o governador do estado, em meio a pandemia, autorizou um despejo arbitrário, contrariando a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que suspendia tais atividades até março de 2022 e colocando em risco a saúde de homens, mulheres e crianças. O Estado, a serviço do agronegócio, destruiu escola, casas e lavouras. O Quilombo Campo Grande é também o produtor do café símbolo da resistência que ultrapassa fronteiras, o café Guaíi.
No Triângulo Mineiro, o MST segue resistindo no coração do agronegócio, onde empresas multinacionais como Bayer, Monsanto, Cargil e Syngenta, grandes produtoras de agrotóxicos, estão instaladas.
Na Regional Metropolitana, a briga constante é contra as grandes mineradoras e seu modelo de mineração predatório. A região é uma das atingidas por outro crime da Vale, o rompimento da barragem em Brumadinho, e segue resistindo com muita produção nos cinco assentamentos e acampamentos organizados nas terras de corruptos, reivindicadas para fins de reforma agrária.
No Norte de Minas, terras do Grande Sertão Veredas, além da luta contra a mineração, o povo Sem Terra, junto as comunidades pesqueiras, vazanteiras e quilombolas, resistem bravamente à monocultura do eucalipto e à forte grilagem de terras.
Na Zona da Mata Mineira, o MST segue trilhando conquistas, uma das mais notórias, após o primeiro assentamento na região, o Olga Benário, em Visconde do Rio Branco, é o Assentamento Dênis Gonçalves, o maior do estado, na antiga Fazenda Fortaleza de Sant’Anna. Fazenda esta que já teve trabalho escravo de negros e povos indígenas e foi cenário de passagens de personalidades marcantes na história brasileira, com D. Pedro I e Getúlio Vargas.
Por fim, mas não menos importante, a regional Alto Paranaíba, no Cerrado mineiro, segue resistindo bravamente às grandes plantações de grãos do latifúndio e mostrando que é possível produzir comida de verdade com qualidade, diversidade e sem o uso de veneno.
“Seguimos ocupando terras, derrubando cercas, conquistando o chão, que chore o latifundiário para sorrir os filhos de quem colhe o pão” (Zé Pinto)
Organizado em nove regiões pelo estado, o MST segue sendo referência na organização das famílias e reafirma o compromisso de seguir ocupando terras enquanto houver uma família Sem Terra pelo estado, porque acredita que toda terra deve cumprir a função de produzir comida e gerar vida.
PÁTRIA LIVRE. VENCEREMOS!
*Setor de Comunicação MST/MG
**Editado por Maria Silva