Educação
No RS, educandos de escolas do campo estão sem transporte para voltar às aulas
Por Maiara Rauber
Da Página do MST
O descaso com a educação do campo não é de hoje. Independente do formato, seja ele virtual ou presencial, as crianças das escolas do campo sempre são as menos assistidas pelas políticas públicas do governo. No Rio Grande do Sul, após o estado decretar o retorno às aulas presenciais, muitas crianças e professores ansiavam por esse momento, com todos os cuidados sanitários, devido a pandemia do Covid-19, em mente. No entanto, dia 21 de fevereiro de 2022, a volta às classes não aconteceu devido a falta de transporte escolar.
De acordo com Juliane Soares, do setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, desde o início da pandemia, momento em que as aulas passam a ser remotas, o governo e a Secretaria de Educação não garantiram nenhum suporte para as escolas do campo, principalmente em relação ao acesso à internet. “Essa semana a Secretaria de Educação disse que todas as escolas deveriam voltar às aulas presenciais, mas para as escolas do campo isso acaba sendo uma falácia. O estado não está garantido o transporte para que os estudantes tenham esse direito garantido, que é ir para a escola” pontua a educadora.
Em diversos municípios do estado, a situação é a mesma. Convênios com os transportes finalizaram em 2021, e não foram renovados, deixando centenas de crianças sem acesso à educação.
“Iniciamos 2022 com a triste notícia de que o transporte para as nossas crianças novamente não foi contratado. A Secretaria de Educação indicou que os alunos sigam o modelo de aula remota, algo que nós pais não concordamos. Esse modelo é inviável e insuficiente, pois não garante o aprendizado dos nossos filhos” relata Claudinei Joel Ludwig, presidente do Conselho Escolar do município de São Gabriel.
Ainda de acordo com ele, o modelo de aulas remotas, seja via internet ou material impresso, foi necessário no período mais intenso da pandemia, mas Ludwig reforça a total incapacidade desse modelo de atender as necessidades de aprendizado, principalmente para os alunos do campo. Outro ponto destacado é o quadro defasado de professores e funcionários para essas escolas. “Se o Governo Estadual decretou o retorno presencial às aulas, exigimos que a Secretaria Estadual de Educação garanta prontamente as condições para o início das mesmas”, enfatiza .
Em Santana do Livramento, aproximadamente 500 educandos de seis Escolas do Campo da Rede Estadual, que estão em assentamentos da Reforma Agrária, e outras localidades, perderam aulas devido a falta de transporte. No entanto, estudantes que residem no campo e frequentam o ensino médio na cidade também sofrem com esse mesmo problema.
“Já fazem 30 anos que estamos aqui, e desde que conquistamos a garantia de transporte escolar é uma luta constante para concretizar essa política pública para os nossos filhos. Estamos cansados de ter que, todo ano, relembrar ao poder público o direito dos do nossos filhos. E esse ano está pior, não há nenhum diálogo”, assinala a professora Cleide de Fatima Almeida, da Escola Estadual de Ensino Médio Antônio Conselheiro, situada no assentamento Bom Será.
Na região Sul do estado, em Piratini, educandos enfrentam a falta de transporte e iniciam o ano escolar remotamente. São quatro escolas do campo que estão sendo diretamente prejudicadas, além dos alunos do campo que estudam em escolas estaduais da cidade. A prefeitura municipal rompeu o convênio e o Estado está em processo de contratação das empresas.
“Toda criança, jovem e adulto possuem o direito ao acesso à educação. O estado segue sendo o órgão que mais prejudica aqueles e aquelas que estão na busca de conhecimento no momento em que não disponibiliza as ferramentas para tal. Precisamos de escolas de qualidade no campo e precisamos acessá-las”, finaliza Juliana Soares.
*Editado por Fernanda Alcântara