Arte
Espetáculo “O Chão de Dentro é Minha Terra” retrata o cotidiano do MST
Por Guilherme Henrique
Da Página do MST
Músicas que versam sobre a reforma agrária popular e a luta pela terra ecoam no centro de um dos maiores aglomerados urbanos do mundo. Poemas, canções e lutas conhecidas por quem já esteve em uma barraca de lona preta em latifúndios improdutivos ocupados no campo encontram palco no centro de São Paulo com a Cia Los Puercos e o espetáculo “O Chão de Dentro é Minha Terra”.
A história contada na peça é resultado de uma pesquisa iniciada pela trupe ainda em 2018 e de um trabalho de campo na Comuna da Terra Irmã Alberta, onde diversas famílias vivem e produzem alimentos saudáveis há quase 20 anos no bairro de Perus, extremo norte da capital paulista.
Primeiro, aulas com professores universitários especialistas na questão agrária no Brasil. Depois, o contato com o MST. Conforme conta Luiz Campos, diretor do espetáculo: “Ainda em 2018 fomos convidados a um evento no Irmã Alberta, uma passeata dentro do território. Foi muito legal, nós ficamos encantados, foi de arrepiar. A primeira vez que tivemos contato com as trabalhadoras e os trabalhadores e todo o funcionamento do movimento: as canções, as místicas…”
A partir desse primeiro contato, a aproximação com as famílias do território: “Depois disso, passamos a fazer visitas, para conhecer mais e também para registrar os momentos. Nós deixávamos o gravador ligado e íamos conversar. A gente se alimentou muito dos relatos dos moradores e moradoras”.
Após o período de fechamento e de isolamento da pandemia, O Chão de Dentro é Minha Terra pôde finalmente estrear, levando todas as experiências, as histórias e a vida dos Sem Terra, sintetizadas em uma peça que apresenta a luta cotidiana contra a repressão, pela sobrevivência, e também a esperança, a produção, a transformação da sociedade e das relações humanas.
Os próprios protagonistas das histórias retratadas ali tiveram a oportunidade de assistir ao espetáculo. Mario, um dos moradores do Irmã Alberta, aponta: “Eu achei maravilhoso, espetacular. Uma história bem real, uma história vivida pelo nosso povo. É isso mesmo que o povo sofre no campo, mas tem também as suas recompensas de comer um alimento saudável, de ter os seus companheiros ali lutando junto. Acompanhar a nossa história e relembrar a nossa história foi maravilhoso.”
Julia, Sem Terrinha de 13 anos, também conta como se identificou, afirmando ainda a importância da produção sem veneno: “Eu achei a peça muito legal, ela fala muito a verdade. O que eu achei interessante foi a parte da fruta, porque eu realmente prefiro a fruta colhida da horta à fruta do mercado, porque lá tem os agrotóxicos e o gosto é até diferente. Eu gostei muito das canções e do jeito que o ator tocava violão.”
Para Rosangela, também uma das produtoras e moradora do Irmã Alberta, a Cia Los Puercos conseguiu captar detalhes do cotidiano para os quais apenas a experiência e o processo de luta chamam a atenção. “O acampamento tem detalhes que só a gente que é acampado consegue enxergar. Eles pegaram isso, essa coisa do despejo, a violência dos soldados quando vêm pra cima da gente… É da gente ficar emocionado mesmo.”
O elenco se apresentou com O Chão de Dentro é Minha Terra também no Acampamento Marielle Vive, em Valinhos, interior de SP. O Acampamento segue sob risco de despejo e a apresentação pôde levar a mística e a esperança nos frutos da luta para as mais de 450 famílias do território.
O espetáculo volta agora para a capital paulista. De 08/04 a 01/05 na SP Escola de Teatro, Praça Roosevelt, 210. As sessões são às Sextas e Sábados às 21h e Domingo às 19h.
Em tempos de “agro é pop”, que floresçam espetáculos que reflitam sobre as vivências e o cotidiano do povo, suas possibilidades de emancipação e o outro mundo possível!
Conforme canta uma das canções trazidas pela trupe “Só sai Reforma Agrária com aliança camponesa e operária”. Convocamos, então: trabalhadores da cidade: ao teatro!
Moradores de ocupações da luta dos movimentos sociais entram gratuitamente. Ingressos custam apenas R$30 a inteira e R$15 a meia-entrada.
Para mais informações, foi criado um evento no Facebook e é possível, também, adquirir ingressos pela internet.
*Editado por Fernanda Alcântara