Solidariedade

‘Roçado Solidário’ aproxima cidade do campo e doa 900 toneladas de alimentos em PE

As roças estão em vários assentamentos da Reforma Agrária, que destinam parte de suas plantações para a solidariedade
Durante a pandemia, cerca de 950 mil marmitas foram feitas a partir das colheitas dos roçados. Foto: Divulgação Mãos Solidárias

Por Ed Rodrigues
De Colaboração para Ecoa/Recife

Uma ação da campanha Mãos Solidárias tem levado comida para pessoas em situação de fome em Pernambuco e aproximado a cidade do campo com incursões às plantações para ensinar como o trabalho é feito e permitir à população ajudar na lida com a terra.

O ‘Roçado Solidário’ nasceu para ajudar a reduzir o impacto da fome na região, que desde a pandemia da covid-19 só cresce. O movimento criou bancos populares que já distribuíram mais de 900 toneladas de alimentos. Os produtos também são usados no preparo das refeições que são doadas. Somente durante a pandemia da covid-19, cerca de 950 mil marmitas foram produzidas a partir das colheitas dos roçados.

As roças estão em vários assentamentos da Reforma Agrária, que destinam parte de suas plantações para a solidariedade. Quem explica o trabalho a Ecoa é o coordenador do Mãos Solidárias, Paulo Mansan, que é doutorando em agroecologia na UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e assentado do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

Mansan conta que foram criados 32 bancos populares de alimentos, para onde segue parte da produção do Roçado Solidário. Outra parte é doada a cozinhas populares em comunidades onde as marmitas são distribuídas.

“Cada assentamento tem uma área destinada para essa produção e distribuição. Todo o trabalho é solidário. Os voluntários são divididos em três categorias: assentados dos movimentos sociais; pessoas que se dedicam ao trabalho voluntário; e pessoas das próprias comunidades assistidas”, disse.

Todos os sábados, o roçado recebe centenas de voluntários e interessados em aprender a lida com a terra. Imagem: Divulgação Mãos Solidárias

Passeios aproximam a cidade do campo

Mansan destaca que, todas as semanas, centenas de pessoas partem do Centro do Recife para os roçados em uma espécie de excursão que tem como finalidade mostrar como é o trabalho nas plantações — e que são todas sem utilização de agrotóxicos.

As pessoas acompanham o trabalho dos agricultores e ajudam nas roças, desempenhando funções como a de plantar as sementes, prevenir pragas e, quando chega a hora, atuar na esperada colheita.

“Nos roçados temos colhido cebola, cebolinha, beterraba, cenoura, coentro, salsa, berinjela, alface, quiabo, banana, macaxeira e milho. A gente vai fazendo a partilha e cada vez que ouvimos os relatos das famílias, sentimos mais vontade de ajudar. Certa vez, uma jovem que pega marmitas disse que graças a essas refeições não estava precisando se prostituir para comer”, continuou.

O mestrando diz que tem um sentimento de satisfação em poder ajudar as pessoas, mas ressalta que a indignação é muito grande ao ver as situações de miséria da população.

“Como em um país como o Brasil, em um mundo com tanta riqueza, as pessoas ainda passam fome? A gente fica satisfeito de poder estar sendo útil ao próximo e a quem precisa. Mas ainda é revoltante ver tantas pessoas em situação de fome”, disse.

Carolina dos Santos é educadora popular e coordenadora de uma fábrica de vassouras ecológicas. A Ecoa, ela conta que é voluntária nas ações do Mãos Solidárias há um bom tempo. A fábrica contribuiu com máscaras para o grupo poder levar as marmitas à população de rua.

A educadora diz que o trabalho no roçado ajuda a criar um senso de responsabilidade em suas filhas, que adoram a lida com a terra. “Sei o que é passar necessidades. Tenho sete filhos e uma neta, e quando falta comida é desesperador. Amo o que faço porque adoro ajudar as pessoas. Sou coordenadora de uma fábrica de vassouras ecológicas e não tenho salário, só se vender as vassouras, mas adoro trabalhar para o povo e com o povo.”

Como Ajudar

Para conhecer o trabalho do Mãos Solidárias e ter informações sobre os passeios da cidade para o campo, acesse o perfil do projeto no Instagram ou pelo telefone 081 99855-3121. O projeto aceita doações em dinheiro por PIX: 09.423.270.0001.80 (chave-CNPJ).