Comida na Periferia
Ação cria cozinha sobre palafitas para combater a fome em bairro do Recife
Por Ed Rodrigues
Colaboração para Ecoa, no Recife
A ideia de implantar cozinhas populares em pontos estratégicos de Pernambuco, focadas no combate à fome, surgiu em meio às experiências da Campanha Mãos Solidárias ao longo da pandemia da covid-19. Em 2020, o projeto levou marmitas para população de rua, mas aos poucos o grupo entendeu que a insegurança alimentar estava se alastrando de forma acelerada e que famílias de várias periferias urbanas estavam buscando ajuda.
Quatro cozinhas populares foram implantadas na Grande Recife para atender a esse chamado, entre elas uma que opera sobre as palafitas do bairro Pina, zona sul da capital pernambucana.
No local, inicialmente as refeições chegavam de barco, vindas de outro banco de alimentos. As marmitas eram distribuídas no espaço e em outras palafitas do entorno. Em seguida, foi proposta à comunidade uma formação de agentes populares de saúde e, por fim, a implantação da cozinha para que a comida fosse feita e embalada ali mesmo.
Casas sobre o rio não têm água
A Ecoa, Lívia Mello, coordenadora do projeto, explica que a percepção da situação de desemprego, cortes nos valores do auxílio emergencial, alta de preços das mercadorias que levaram à situação de fome e de desalento de muitas famílias foram aspectos que motivaram o Mãos Solidárias.
“As palafitas no Recife são o retrato da ausência de direitos básicos fundamentais, o que nos leva a perguntar: como é possível garantir saúde sem a garantia de água, moradia, renda e alimentação? Apesar dos barracos serem construídos dentro da água do Rio Capibaribe, as pessoas que ali vivem não têm acesso à água dentro de casa. Tudo isso foi ponto de partida para iniciarmos a primeira cozinha popular solidária ali”, disse.
Lívia, que também é professora de Saúde Coletiva da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), conta que a cozinha popular das palafitas funciona duas vezes por semana, nas terças e quintas-feiras, preparando almoços com um cardápio variado.
Nas terças serve-se arroz, feijão e jerimum. As proteínas nesse dia podem ser frango ou salsicha com ovo. Nas quintas-feiras, o cardápio tem peixada com pirão e arroz, no esforço da aquisição de peixes vendidos pelos pescadores da região. São oferecidos 100 almoços nas terças e 100 almoços nas quintas.
Os alimentos vêm de doadores diversos. Uma parte vem de doações de assentamentos do MST, outra de projetos e doações de ONGs e sindicatos, outra da compra que a campanha faz a partir de doações financeiras de voluntários individuais que conhecem e apostam no trabalho.
alimentos não perecíveis de doadores diversos. Esse banco popular abastece tanto o projeto Marmita Solidária, voltado à população em situação de rua quanto a cozinha popular solidária das palafitas do Pina”, diz Lívia.
Semanalmente, voluntários da campanha Mãos Solidárias pegam alimentos no Banco Mãe, assim como material de limpeza, e levam para a cozinha das palafitas. O alimento perecível vem da Ceasa. Uma voluntária e moradora local recebe os alimentos e leva para a cozinha.
Quando o cardápio é peixe, um voluntário local pega os pescados de barco e entrega na comunidade um dia antes para tratar e guardar para preparar no dia seguinte. O gás de cozinha é uma doação da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
“Sinto indignação com tamanho descaso do poder público e com a naturalização da miséria na cidade do Recife, que grita com a paisagem das palafitas e com o crescente número de pessoas em situação de rua. Estamos mobilizando esforços junto com agentes populares formadas pela campanha ao longo da pandemia para abrir novas”, destacou Lívia Mello.
Como Ajudar
Para saber mais sobre a Cozinha Popular do Pina, basta entrar em contato por telefone: (81) 99855-3121. O projeto aceita doações em dinheiro por PIX: 09.423.270/0001-80 (chave-CNPJ).