Luta pela Terra
“Estamos mais vivos que nunca”: depois de jornada nacional, MST prepara novas ações em maio
Por Gabriela Moncau
Do Brasil de Fato
“A jornada foi além das nossas expectativas. E ela significa uma retomada: não paramos por aí. No mês de maio temos várias ações programadas”. Márcio Santos ajeita o boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cuja coordenação integra, ao avaliar as cerca de 60 ações da Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária feitas pelo movimento durante o mês de abril.
Com o tema “Por terra, teto e pão”, o chamado abril vermelho – relembrando o Massacre de Eldorado do Carajás, que em 2022 completou 26 anos – marcou a retomada das ações massivas do MST depois de dois anos desde que a pandemia de covid-19 começou.
Marchas, retomadas de latifúndios, plantio de árvores, distribuição de toneladas de alimentos, shows, o 16° Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra Oziel Alves e ocupações de sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foram as principais ações recentes do MST.
Apesar de chamada de abril vermelho, a jornada começou antes e deve seguir depois do fim mês. Já no fim de março, uma mobilização nacional articulada entre movimentos sociais do campo e da cidade pressionou o STF a prorrogar a suspensão de despejos na pandemia até 30 de junho.
“Estamos reaquecendo os motores”, avalia Márcio Santos, de São Paulo, ao garantir que o movimento “tem uma série de atividades e ocupações programadas para o início de maio”.
“Nós temos ainda 80 mil famílias acampadas de norte a sul. É o reflexo dessa política concentradora de terra e riqueza no campo brasileiro”, frisa.
O retorno da Reforma Agrária Popular
Depois de dois anos sem encontros presenciais, cerca de 150 jovens sem terra dos estados do Pará, Maranhão e Tocantins se reuniram novamente no Acampamento da Juventude em Eldorado do Carajás entre 13 e 17 de abril.
No Rio de Janeiro, em Sergipe, na Bahia, no Paraná e no Espírito Santo houve protestos nas sedes do Incra, em denúncia à paralisação da reforma agrária. No caso da Bahia, o Incra foi ocupado como ação final de uma marcha que percorreu 110 km de Feira de Santana até a capital do estado, com 3.500 pessoas.
Para Polly Soares, ativista do Pará e integrante, como Márcio, da coordenação nacional da frente de massas do MST, a jornada marca “o retorno da reforma agrária popular”.
“Vivemos um processo no Brasil desde 2016, e aprofundado durante o governo Bolsonaro, de criminalização dos movimentos sociais, paralisação da reforma agrária e desestruturação dos seus órgãos reguladores”, avalia. “Um processo que busca tornar a reforma agrária uma pauta superada”, sintetiza Polly.
“Quando trazemos isso de volta numa jornada de lutas depois de dois anos, nós estamos dizendo: esta pauta não está superada”, afirma. “Ao contrário: a reforma agrária popular é necessária. É com a produção de alimentos saudáveis, com distribuição de terra e com qualidade de vida para os trabalhadores do campo e da cidade que nós vamos superar a situação de crise econômica que nosso país foi colocado pelo governo Bolsonaro”, expõe Soares.
Ocupações de latifúndios
A jornada de lutas do MST foi marcada também por ocupações de terra nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba, Santa Catarina, Distrito Federal e Bahia.
Em Guaratinga (BA), mais de 100 famílias ocupam, desde o início de abril, a fazenda improdutiva Mata Verde. Em Ipueiras (CE), 80 famílias ocuparam a fazenda Lagoa dos Veados, reivindicando que o governo cearense desaproprie a área por meio da lei estadual 17.533/21.
No Rio Grande do Norte trabalhadores rurais fizeram duas ocupações de latifúndios. Uma no município de Barra de Maxaranguape e outra no de Rio do Fogo, litoral norte do estado. Esta última foi batizada de ocupação Paraíso dos Carajás. Na Paraíba, cerca de 50 famílias ocuparam a usina Maravilha, na cidade de Caapora.
Famílias do acampamento Quintino Lira em Santa Luzia (PA) fizeram uma ocupação simbólica, temporária, na Fazenda Cambará – onde ficam armazenados os maquinários usados para destruir a área de reserva e as roças das famílias sem terra.
A ocupação de terras, lembra Márcio, “é um método usado pelo MST desde que surgiu, no começo dos anos 1980. E é a característica fundamental do movimento: organizar trabalhadores e fazer ocupações como forma de denúncia dessa estrutura agrária extremamente arcaica que o nosso país possui e, ao mesmo tempo, reivindicar a terra para os camponeses”.
“Muito se falou que o Bolsonaro ia acabar com o MST, que isso e aquilo, e as ocupações demonstram exatamente o contrário”, atesta: “Nós estamos vivos, mais do que nunca”.
*Edição: Felipe Mendes/Brasil de Fato