Cultura

“Uma revolução no palco”: Durante conversa sobre os bastidores, direção da Ópera Café fala sobre coletividade e a participação do MST

O bate-papo foi transmitido ao vivo no YouTube do Theatro Municipal de São Paulo
Após 4º apresentação da ópera ocorreu o encontro “Conversa de Bastidor”, com participação de representação do MST. Foto: Maria Silva

Por Wesley Lima
Da Página do MST

Neste último sábado (7/5), após o término da 4º apresentação da Ópera Café, de Felipe Senna, no Theatro Municipal de São Paulo, aconteceu o encontro “Conversa de Bastidor”.

O bate-papo contou com a presença de Sérgio de Carvalho, diretor cênico da ópera, Felipe Senna, compositor da ópera, Maíra Ferreira, regente do Coral Paulistano, Luís Gustavo Petri, diretor musical e regente da ópera, Carlos Moacir Vedovato Junior, professor de literatura brasileira e doutorando com tese sobre a ópera Café (FFLCH-USP), e Judite Santos, integrante da ópera e representante do MST.

O espaço foi mediado pelo supervisor de Arte Educação no Núcleo de Educação do Theatro Municipal, Leandro Mendes, e o bate-papo transmitido ao vivo pelo YouTube do Municipal.

O início da conversa se deu no palco do Theatro ainda montado, com o cenário da cena final da ópera. A rodada de falas com os convidados foi marcada de imediato pelo sentido coletivo do libreto Café de Mario de Andrade e que esteve presente na construção da ópera, não apenas a partir da “experiência estética”, mas também na construção do todo, como explicou Sérgio de Carvalho: “o debate politizado não pode se dá apenas no âmbito da experiência estética, mas também no modo de trabalho. A experiência de entrar em cena, em partes, tem haver com isso”.

Em tempo recorde e com o desafio de coletivo de construir o espetáculo, com o objetivo de tocar quem assisti, mas também quem participa do processo, Luís Gustavo Petri, sinalizou que “o texto do Mário, de começo, não traz o protagonismo individual da obra, como temos o costume de ler e ouvir em todo o mundo” e destaca que “uma das grandes qualidades e o diferencial desse espetáculo é o coletivo”.

Nesse sentido, Sérgio apontou também que “uma ópera é uma narrativa musical e a ópera café possui uma música lindíssima, que acompanhada pelo maestro, tem o poder de juntar os mundos”.

Sérgio de Carvalho, diretor cênico da ópera, comentou que a ópera Café foi montada em quatro meses, e o resultado só foi possível a partir da coletividade. Foto: Maria Silva

Senna falou sobre os grandes desafios para construção da ópera. O primeiro sinalizado por ele foi o tempo curto de trabalho, o que exigiu um imersão total no libreto de Mário de Andrade. Ele conta que em um trabalho, normalmente se tem mais de dois anos para construir um música, na ópera Café foram quatro meses, e o resultado alcançado só foi possível a partir da coletividade.

O segundo desafio, de acordo com o Senna, tem a ver com essa dimensão sinalizada anteriormente. “O primeiro impacto, que é uma questão central, é essa vontade dele [Mário de Andrade] de passar a voz para o coletivo e colocar o povo como protagonistas. Nós temos solistas que contam a história, matam, choram, sorriem. Tudo isso no âmbito do indivíduo, das emoções pessoais. Transpor isso não foi fácil.”

Além disso, ele apontou também que Mario de Andrade foi o “primeiro grande advogado da música brasileira. E com certeza foi um desafio conversar a linguagem da ópera com a linguagem da música brasileira”.

Judite Santos, representante do MST, falou sobre os desafios na participação da ópera e a tarefa de envolver a sociedade da defesa da Reforma Agrária. Foto: Maria Silva

Judite, representante do MST na conversa, falou sobre a participação do MST no processo, enquanto um sujeito coletivo. Ela contou que na ópera, os integrantes do Movimento se depararam com muitas questões atuais, que tem a ver com a história da organização, uma delas é “a tarefa de organizar os trabalhadores revoltados”, e continua: “o MST em sua história tem conseguido construir a sua trajetória dialogando com os trabalhadores do campo, mas também com os trabalhadores da cidade. A palavra de ordem ‘Se o Campo não planta, a cidade não janta’, que faz parte da ópera, é reflexo desse nosso desafio de organizar o povo e de construir ferramentas diárias de diálogo com a cidade. A luta pela terra e a defesa da Reforma Agrária Popular não podem ser encaradas como uma tarefa apenas do MST, mas do conjunto da sociedade”, afirmou.

Ela explicou também que o MST tem um vínculo com a arte, e a partir dela é possível construir processos que ajudam na elevação do nível de consciência dos (as) trabalhadores (as). Mas, “o que o MST está fazendo numa ópera?”, se questionou Judite, logo em seguida respondeu: “está cumprindo uma tarefa, representando a classe trabalhadora e defendo a necessidade de transformação social”.

Ainda sobre a participação do MST, Carlos Moacir Vedovato Junior, professor de literatura brasileira e doutorando com tese sobre a ópera Café (FFLCH-USP), destacou que com a entrada do MST no palco se consolida uma verdadeira revolução.

Assista na integra o “Conversa de Bastidor”:

*Editado por Solange Engelmann