Homenagem

Germinal: o espaço da ENFF que rememora a luta e a coragem de companheiras(os) do MST

Lançado neste sábado na ENFF, espaço é homenagem onde estão depositadas as cinzas de companheiros e companheiras de lutas
Lançamento do espaço Germinal, realizado neste sábado (14) na ENFF. Foto: Ju Adriano

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.

– Brecht

O trecho de Brecht ilustra a emoção, encanto, e empatia que envolveu a experiência da manhã deste sábado (14) na inauguração do espaço “Germinal”, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). O lugar será um convite às pessoas para prestarem homenagem a importantes lutadoras e lutadores que já fizeram sua passagem.

Germinal se constitui em um ambiente, dentro da ENFF, onde estão depositadas as cinzas de companheiros e companheiras de lutas. E há vários motivos para a escolha desta palavra tão simbólica: o termo tem uma forte mensagem de vida, de continuidade da vida, no sentido de germinar, brotar.

Preparação da mística na ENFF. Foto: Ju Adriano

O ambiente faz parte de uma proposta que, a partir de elementos do projeto arquitetônico e paisagístico do espaço, como água, plantas, luzes e as pedras (como elemento da perenidade), e traz em si uma forte conotação com o legado de vida que nos deixaram os que ali descansam.

“Germinal” é o nome do primeiro mês da primavera no calendário da Revolução Francesa, instituído em 1792. Esse mês compreendia o período de 21 de março a 19 de abril. Coincidentemente, o período inclui o “17 de Abril” – hoje o dia Internacional da Luta pela Reforma Agrária.

A ideia para a construção de Germinal começou a partir de um momento especial para o MST, a entrega das cinzas do professor Paulo Yoshio Kageyama para o Movimento. “A família decidiu oferecer as cinzas para que o MST estivesse zelando e cuidando dele. O Movimento nunca havia pensado situações como esta, e fomos provocados a pensar nisso”, afirma Rosana Fernandes, da direção nacional do MST.

“Não tivemos como recusar esse pedido da família, que ofereceu esta chance de homenagear um professor que ampliou as discussões do MST, acompanhou o projeto de Reforma Agrária Popular e contribuiu com uma formação na perspectiva agroecológica. Assim, o MST decide que o melhor lugar para estar simbolicamente esta presença, este legado e o pensamento desse professor era na ENFF”, completa.

Fotos: Ju Adriano

Outro motivo para a escolha do nome é o romance “O Germinal”, de Émile Zola, publicado em 1885, em que narra uma épica revolta de mineiros na cidade francesa de Montsou. Zola associou as sementes das plantas à possibilidade de transformação social: por mais que arranquemos o broto das mudanças, elas sempre voltarão a germinar. Por isso, segundo Rosana, o projeto era transformar aquele espaço em um ambiente que pudesse ser de construção, tanto reflexões do ponto de vista individual quanto coletivo.

“Por estarmos na Escola, as pessoas podem também refletir sobre a vida, sobre a luta, sobre as várias dimensões que estão naquelas figuras. E a partir disso, mesmo não divulgando, o MST também foi colocado para outras situações na tarefa de cuidar e zelar de outros companheiros que nos deixaram fisicamente. Hoje nós já temos 10 pessoas aqui, entre intelectuais, amigas e amigos do MST, Sem Terra, cuja as cinzas estão colocadas neste Germinal.

Lançamento

Lançamento do espaço contou ainda alimentos simbolizando a solidariedade e a produção de alimentos saudáveis. Foto: Ju Adriano

Com muita poesia e música, a mística de lançamento oficial do espaço pareceu iluminar e aquecer os corações dos presentes na Escola em um dia frio e nublado na cidade de Guararema (SP). O ambiente, com um grande jardim e lago, serviu de palco para falas marcantes e potentes sobre o projeto, trazendo elementos da natureza, a água, o ar, o fogo, e principalmente a terra, juntando-se ao espaço de plantio de árvores.

Outro momento importante foi a exposição de pedras históricas que foram enviadas para compor aquele ambiente e referenciar o conjunto de lutas populares no país, sua resistência, memória e ação para a transformação social. As pedras vieram de cada estado de onde o MST está organizado.

“São pedras de lugares onde aconteceram lutas fortíssimas da classe trabalhadora em períodos diferentes da nossa história brasileira. Temos uma pedra da igreja inacabada de Canudos, um símbolo físico daquela luta, pedra da luta e resistência da Balaiada, de Contestado, pedras que estavam no primeiro assentamento conquistado em alguns estados, como a de Goiás”, explicou Rosana.

Lançamento de Germinal, na ENFF, com pedras enviadas pelos estados. Foto: Ju Adriano

O ato ressaltou o legado que nos deixam os camaradas presentes no memorial e a honra que o MST tem em receber a simbologia das cinzas dos companheiros e militantes do Movimento. Todos os elementos da cerimônia combinaram a intenção de trazer ao espaço as histórias passadas, a resistência do presente e a permanência da construção da unidade popular.

Ao final, em coro, os participantes entoaram a uma só voz:

Viva os lutadores e lutadoras do povo!

Viva Florestan Fernandes!

Pátria Livre, Venceremos!

*Editado por Gustavo Marinho