Internacionalismo

Cúpula dos Povos reafirma importância da resistência cultural latino-americana

O evento popular e alternativo debateu três eixos: democracia, soberania popular e internacionalismo, e reafirmou a diversidade e resistência dos povos
Encontro contou com mais de 800 participantes de 250 organizações de toda a América Latina e outras nações. Foto: Mídia Ninja

Da Página do MST

Paralela à Cúpula das Américas, convocada por Joe Biden, presidente dos EUA e a Organização dos Estados Americanos (OEA), em Los Angeles, nos Estados unidos. Ocorreu, na mesma cidade, a Cúpula dos Povos pela Democracia entre os dias 8 e 10 de junho.

Com mais de 800 participantes de 250 organizações de toda a América Latina e outras nações, o evento popular e alternativo debateu três eixos centrais: democracia, soberania popular e internacionalismo, reafirmando a diversidade e resistência dos povos. No âmbito do intercâmbio cultural das nações continentais, foram discutidos os impactos humanitários da invasão norte-americana nos países latino-americanos e caribenhos.

O integrante da direção nacional do MST, Raul Amorim, esteve presente na Cúpula dos Povos e participou de uma mesa de debates sobre o papel da cultura e da resistência cultural. Ele chamou atenção para a necessidade dos povos da América pensarem a cultura dentro de uma lógica de construção de uma nova hegemonia dos povos.

“Precisamos que a resistência seja ativa, temos que defender nossa construção, nossa forma organizativa, da luta dos povos indígenas, negros, mulheres, camponeses. Mas, é também ativa porque temos que construir uma nova ofensiva. E essa nova ofensiva é também uma cultura de luta, de mobilização”, afirma Amorim.

Raul Amorim, da direção nacional do MST, participou da Cúpula dos Povos em Los Angeles. Foto: Mídia Minja

Ao contrário do processo capitalista que trata a cultura como uma mercadoria, o dirigente ressaltou que o MST e os movimentos populares tem pensado a cultura como a forma de produção e reprodução da existência dos povos em luta e mobilizados. E alertou que nesse contexto, os povos precisam resistir e se organizar para garantir a produção de sua própria existência, pois o capitalismo busca negar isso com a cultura da individualização, da concorrência, de todos contra todos, da comida com veneno e de uma cultura de morte.

“No processo do capital, a gente deixa de produzir a nossa saúde, produzir a nossa roupa, produzir também o teatro, a música. E qual o problema disso? Vira uma alta cultura só de alguns, dos grandes artistas. Então, temos um desafio primeiro que é retirar essa lógica do espetáculo. Isso é comum por que? Todas e todos devem produzir sua existência, produzir arte, cultura, a gente tem que se sentir produtores da nossa existência”, pontua Amorim.

Cerimônia de abertura da Cúpula dos Povos, com debates de solidariedade e inclusão. Foto: @midianinja/@gannawayphotography/#PeoplesCollab22

Ele aponta ainda, que nesse sentido a Cúpula dos Povos reafirma a necessidade da construção dos povos da América Latina de uma cultura anti-imperialista, com espírito de unidade, se percebendo como parte de um processo de transformação conjunta, e ao mesmo tempo, de reafirmação das diferenças.

Fracasso da Cúpula das Américas

A Cúpula das Américas, que ocorreu entre 6 e 10 de junho, em Los Angeles, demonstrou a perda de influência dos Estados Unidos sobre os países vizinhos e considera um fracasso, pelos movimentos sociais, por conta da ausência de oito nações do continente. Alguns países como Cuba, Venezuela e Nicarágua não foram convidados por Biden para participar.

Em protesto outros países também se recusaram a estar presentes: México, Guatemala, Honduras e Bolívia decidiram não ir. “Não vou à cúpula porque nem todos os países das Américas estão convidados”, disse o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador. Já o presidente do Uruguai, o direitista Lacalle Pou, não foi à cúpula por estar com covid-19.

Para Amorim, isso demonstra que a ideia de “democracia” dos EUA e da Cúpula das Américas pode ser questionada, pois é o presidente norte-americano que define quais os países participam e os que não serão convidados, realizando um evento sem a representação de todos os países americanos.

“É essa ideia que serve pra invadir países, acabar com soberania dos países, construção de guerras em todo lugar e pra dentro violência pro povo negro, pros imigrantes, na região de Los Angeles são 11 milhões de imigrantes. O que a gente só escuta é, gente morando na rua, pouca capacidade de poder ter sua casa, ter sua comida, gente passando fome. Temos que perguntar, qual foi o crime de Cuba, lutar pela sua soberania?”, denuncia.

Nesse sentido, a Cúpula dos Povos, com organizações sociais, sindicais e políticas reafirmou para o Brasil, a importância de manter as articulações em torno dos Comitês Populares para derrotar o fascismo nas eleições presidenciais deste ano. “Esse momento no Brasil temos que seguir na construção de Comitês Populares, ir de comunidade em comunidade, bairro em bairro, pra conversar com as pessoas e entender que não basta só um governo com Lula, mas um governo com força popular, primeiro pra sustentar, caso ele ganhe e a segunda pra garantir que esse governo esteja em favor de políticas para os mais pobres”, afirma Amorim.

Já o resultado em relação à articulação dos países da América Latina, a partir dessa Cúpula dos Povos, o dirigente do MST resumiu em alguns desafios, como a retomada de uma agenda de integração entre os povos e os movimentos, com a construção de lutas em comum na região. E na construção do internacionalismo, “de que os povos se sintam vivenciando a mesma resistência, já que o inimigo se articula de maneira internacional, é desafio nosso também combatê-lo de maneira internacional, rompendo fronteiras”, conclui Raul.