Solidariedade
Filme “Eles já comeram” mostra a potência de coletivos e cozinhas comunitárias em Curitiba
Por Assessoria de Comunicação Professora Josete
“Pra quem tem uma boa posição social, falar da comida é uma coisa baixa: é compreensível. Eles já comeram”. Essa citação do poeta e dramaturgo Bertold Brecht inspirou o nome do documentário que retrata iniciativas de coletivos e cozinhas comunitárias de Curitiba dedicadas à distribuição de refeições às pessoas em situação de vulnerabilidade.
O filme Eles Já Comeram, do geógrafo Kauan Fonseca passou por pré-lançamentos em sessões preparatórias para a 19ª Jornada de Agroecologia, que acontece de 22 a 26 de junho em Curitiba. Na segunda-feira (20), o filme foi exibido na Câmara de Vereadores em evento com casa cheia organizado pelo coletivo Marmitas da Terra, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em parceria com o mandato da vereadora Professora Josete (PT).
O documentário é resultado de dois anos de prática e pesquisa do autor junto às cozinhas comunitárias e mutirões no período da pandemia da Covid-19. Na obra são mostradas iniciativas do Marmitas da Terra, coletivo ao qual Kauan é integrante, além do trabalho das cozinhas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), da União de Moradores e Trabalhadores (UMT) e do Movimento Nacional da População em Situação de Rua.
Segundo Kauan, sua obra trata da questão do aumento da fome, mas sobretudo da possibilidade de organização coletiva para sua superação. “Tudo começou na cozinha do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, em maio de 2020, quando eu e mais uma amiga estávamos nos voluntariando ali. Achamos que seria legal documentar o que estava acontecendo, ao mesmo tempo denunciar a fome como resultado de um sistema injusto e mostrar a potência da organização popular para sua superação”, lembra.
Adriana Oliveira, coordenadora do Marmitas da Terra, fez uma apresentação dos integrantes do coletivo que já distribuiu mais de 130 mil refeições desde o início da pandemia em praças públicas e ocupações urbanas de Curitiba e região metropolitana. Além do preparo e entrega de refeições, a rede de voluntariado participa de mutirões no assentamento Contestado para plantar e colher no espaço das hortas coletivas.
Ela destaca que o trabalho desenvolvido por Kauan sistematiza a luta do movimento neste instante histórico em sua tarefa de matar a fome de quem precisa. “O Kauan é um geógrafo que tem se forjado na luta, com os pés na periferia, dentro dos territórios. Ele tem se desafiado e trazido esse olhar que é de muita ternura. Vale a pena conferir o filme e divulgar esse trabalho”, afirma Adriana Oliveira.
Anfitriã do evento de exibição, a professora Josete disse estar honrada em receber os trabalhadores camponeses do MST na Câmara, destacando que presenciar o auditório lotado foi simbólico. “Nossa missão já foi cumprida ao lotar o auditório, ao ver à Câmara sendo ocupada pelo povo, pois esse é um espaço que na maioria das vezes só recebe poderosos e aqueles que têm o poder econômico nas mãos!”, exclamou a vereadora.
Sobre o filme Eles já comeram, Josete lembrou que ele está sendo lançado em um momento providencial, no período que o Brasil voltou ao Mapa da Fome Mundial, com apenas quatro em cada dez famílias brasileiras com acesso pleno à alimentação e 33 milhões de brasileiros sem ter o que comer. Esses dados foram trazidos recentemente pelo 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. São 14 milhões a mais de pessoas com fome em comparação à última pesquisa, de 2020.
Ao pontuar que acesso à alimentação significa dignidade, a parlamentar enalteceu o trabalho desenvolvido pelo MST. “O coletivo Marmitas da Terra tem mostrado para sociedade o quanto esse movimento é importante para o país, o quanto a agricultura familiar é fundamental para a erradicação da fome e para construção de uma sociedade mais justa e sem fome”, acrescentou Josete.
Ao fim do evento, Kauan Fonseca saudou a vereadora Professora Josete “por se opor àqueles que já comeram e acham que falar de comida é coisa baixa”, fazendo menção ao poeta alemão. Ele finalizou com um agradecimento especial ao coletivo que integra e enalteceu que “a produção do documentário só foi possível graças às potências dos coletivos e das cozinhas comunitárias, graças à potência presente na solidariedade”.
*Editado por Solange Engelmann