Comida de Verdade
Com foco na cooperação, MST cria Cooperativa Central para a Rede Armazém do Campo em Belo Horizonte
Por Agatha Azevedo
Da Página do MST
“Como numa ocupação: não dá mais para voltar atrás. A partir de hoje, essa rede que nós construímos se consolida”, Ademar Ludwig (Schusky), do Grupo Gestor dos Armazéns
Com a participação de 30 pessoas, entre militantes de diversos estados e armazéns do MST e militantes do Mundukide (organização de cooperação fundada no País Basco, parceira do MST), o Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente fundou, no Armazém do Campo de Belo Horizonte, em Minas Gerais, a Rede Armazém do Campo.
Segundo Lucas Brose, do Grupo Gestor dos Armazéns do Campo, a experiência de organização da comercialização que se iniciou em 2016, com o Armazém do Campo de São Paulo é a semente da fundação da nova forma cooperativada de organizar as lojas da Reforma Agrária Popular pelo país. “A rede Armazém do Campo é a consolidação dessa coletividade para benefício de todas as unidades. O Armazém é o espaço público do MST, a pessoa que frequenta o Armazém na cidade consegue ter materialidade do que é o Movimento. O MST não é só a luta em ação, mas um espaço de luta permanente na cidade”, contextualiza.
A iniciativa, que se consolida a partir do ato de lançamento realizado no dia 26 de julho de 2022, tem como objetivo expressar a necessidade que o Movimento tem de se reinventar. “Nossos armazéns são a síntese do projeto que queremos trazer. Então, por exemplo, nos nossos armazéns você não vai encontrar um alimento transgênico, nem marcas tradicionais que dominam o mercado”, aponta Milton Fornazieri, do Setor de Produção do MST.
Nessa reinvenção, o MST aprende com os companheiros do País Basco, que através das cooperativas Mondragon, contribuíram ao longo do processo de formação da rede e seguem em parceria com o Movimento.
“Esse é um processo de aprendizagem. Parceria é isso, pensávamos que poderíamos ensinar, mas aprendemos bastante. Vocês ensinaram coisas que talvez não saibam que ensinaram, como por exemplo o entusiasmo. O que é importante para construir é ter esperança e confiança, e aí Mondragon, MST e Mundukide se encontram, pois nosso objetivo sempre foi um mundo melhor”, aponta Iñigo Albizuri, da Mondragón.
Os anos de experiência e maturidade apontaram os Armazéns como um espaço de identidade de luta para a esquerda brasileira e de diversidade. Atualmente, as mulheres representam 60% da militância que trabalha nas lojas. Além disso, 90% das pessoas são jovens e 75% são LGBTQIA+.
Para Maíra Santiago, do Setor de Produção do MST, a relação dos Armazéns do Campo com a sociedade também é fundamental. “Esse lugar aqui expressa não só a produção, que é nosso carro chefe, com objetivo de mostrar pra sociedade qual a função social da terra, mas mostra nossa cultura de trabalho cooperado e de novas relações humanas. É a nossa propaganda para dialogar com a sociedade sobre qual o modelo de vida que a gente quer”, aponta.
Para Gilvan Santos, do Armazém do Campo Maranhão, a luta do povo Sem Terra está em cada uma das prateleiras dos Armazéns. “Aquele produto não é um produto qualquer, é um produto com história e pertença. Quando a gente coloca o produto no Armazém do Campo, a gente está dando para o produtor a oportunidade de continuar com a história e a luta dele”, reforça.
Como uma ação da Reforma Agrária Popular, a constituição da Rede Armazém do Campo se afirma para o país como um processo político de resistência cultural, e é mais um passo para alimentar a humanidade de comida saudável. Além de buscar construir um novo modelo de campo pautado na humanização das relações, no respeito à vida e à biodiversidade.
*Editado por Solange Engelmann