Sem Terra vivenciam exposições na Estação Cultura e “SubSolo” no MACC, em Campinas

Por Marília Fonseca e Sônia Fardin
Da Página do MST

No dia 29, sexta-feira, 50 pessoas do acampamento Marielle Vive do MST em Valinhos/SP, em sua maioria crianças e juventude, participaram do encerramento das exposições “Agroecologia, trabalho, direito de existir: a luta das famílias do Acampamento Marielle Vive” na Estação Cultura, que ficou de 18 de Junho a 31 de Julho e “SubSolo” no MACC, que encerrou nesse dia 29, em Campinas/SP.

“Agroecologia, trabalho, direito de existir: a luta das famílias do Acampamento Marielle Vive” é uma exposição construída coletivamente pelo setor da comunicação e aliados/as/es do MST em SP, e conta com mais de 70 fotos de mais de 15 fotografas/os, comunicadoras/es populares e moradores do território, além de instalações artísticas como a horta mandala em miniatura e um barraco de lona em tamanho real.

Dentre as intenções dessa exposição, buscou-se trazer o debate do direto a luta, a Reforma Agrária Popular e a terra, apontando para a Agroecologia como um de seus principais pilares na luta e construção de um mundo mais justo e saudável, em suas relações e alimentação. 

A comunidade pôde ocupar um espaço de arte da cidade de Campinas com sua vivência e se identificar enquanto sujeitos fazedores de sua história. As crianças mais uma vez marcaram ativamente a construção do encontro, e fizeram diversas ilustrações após apreciação das fotografias e instalações. O MST e o acampamento Mariellle Vive, ao ocuparem a Estação Cultura fazem luta e resistência e fortalecem o território na conquista da terra. Na exposição é possível perceber e sentir a potência da Agroecologia e da luta organizada coletiva.

Subsolo

“Sobre o Subsolo” é a conclusão de um processo de pesquisa artística de Andrea Mendes, pautado por evocações de memórias que revisitam sua cartografia de deslocamentos e enraizamentos. Uma cartografia de resistências ao apagamento de uma gama de sensibilidades, que transitam de seu Nascedouro (Itaberaba -BA) para o seu Acolhedouro (Campinas – SP); que se recriam em seu Renascedouro (Araras, SP) e que se redescobrem conectadas com múltiplas culturas, na vivência em um Hospedadouro como artista convidada nas ocupações na comunidade de Bermudez, interior da Argentina. Para simbolizar seu percurso cartográfico, Andrea Mendes escolheu a Pipa como símbolo de seus deslocamentos por territórios e fez dela o suporte das imagens que registram suas vivências e atuações.

Andrea Mendes é uma artista negra, de família de militantes das lutas por moradia, com especial destaque para sua vivência na ocupação nos bairros Oziel e Monte Cristo, iniciada em 1997 nos bairros periféricos de Campinas. Com a exposição Sobre Sub Solo Andrea é a primeira mulher negra a realizar uma exposição individual no Museu de Arte Contemporânea de Campinas.

Sônia Fardin, historiadora e curadora da exposição, relatou que a obra da arista é  marcada por suas memórias e suas atuações em espaços comunitários de luta por direitos em performances, pinturas, desenhos e bordados. “A artista atuou com sua mãe, sua avó e ativistas de diferentes origens culturais e de todas as faixas etárias, para acessar as estratégias auto-organizadas na busca por prover uma das mais básicas e antigas urgências humanas: um abrigo”.

“Nas construções artísticas realizadas entre outubro de 2019 e dezembro de 2021, a artista fez uso de fios e traços, tintas e linhas, rasgos e costuras, gestos e olhares, para, dialeticamente, frisar e esgarçar as barreiras e limites impostos pelas forças do capital, que de leste a oeste e de norte a sul, sob formas diversas, há séculos vêm rasgando a carne e sufocando as vozes dos que se levantam contra as opressões às formas comunitárias de organização da vida”, completou.

Como encerramento da exposição “Sub Solo” a comunidade da ocupação Marielle Vive foi convidada a assistir o vídeo Acolhedouro, que narra a relação da família da artista com o MST no processo de ocupação dos bairros Oziel e Monte Cristo, que compõem uma das maiores ocupações urbanas do Brasil. O nome do bairro faz homenagem a Oziel Alves Pereira, militante do MST assassinado no massacre de Eldorado dos Carajás (PA) em 1996. A ocupação é resultado de processos de luta por moradia no final da década de 1997, organizados pelo MST, MTST e setores da Igreja católica. Foi deste lugar de luta pelo direto a terra e moradia que a Andrea Mendes  construiu sua trajetória artística.

A visita teve dois momentos marcantes a intervenção feita coletivamente pela comunidade na obra que representa caminhos e celebrações do direito de morar, migrar, viver, sonhar e de também criar arte e, a  presença do Seo Chico, morador do Marielle Vive e que é amigo da artista de muitos anos, e de Silvana de Oliveira, também moradora do acampamento e amiga da artista.

“Estou feliz por toda minha família do Marielle Vive, estamos aqui juntos desde o primeiro dia, 14 de abril de 2018, e admiro todo esse trabalho da Andreia, ela é uma pessoa maravilhosa, uma guerreira pelas mulheres, pelas mulheres negras! Ela tem se destacado para ajudar, se ela está aqui é porque lutou muito”, afirmou Silvana na ocasião.

A intervenção com as crianças e juventude do acampamento Marielle Vive ressignificou a obra e marcou território do museu com uma das mais fortes vivências que as ações de arte educativas da exposição proporcionou. Ao som de “Abram os caminhos” da MC Tha, as crianças e juventude traçadas de pés no chão e mão na terra trouxeram caminhos diversos, sem predeterminações, com criatividade e autonomia puderam mais um pouco sonhar, experimentar, ousar. 

“Essa experiência hoje foi única! Eu venho de um contexto de migração e ocupação e pensei por muito tempo o quanto é importante mostrar que esses lugares não são somente acúmulo de pessoas, mas de sujeitos que se movimentam em busca dos seus direitos. Eu vivi isso no Oziel. Tantas pessoas pagando com a vida para lutar por esse lugar, a luta é muito maior, o poder da luta coletiva incomoda e possibilita conquistas”, lembrou a artista Andrea Mendes.

“Nós vimos conquistas acontecerem. A experiência de hoje vivida com o Marielle Vive me fez rememorar todas as construções coletivas que fizemos naquela comunidade e, poder conectar verdadeiramente esses caminhos aqui, para que eu posso seguir fortalecida na união desses caminhos e na união da força pelos nossos direitos”, finalizou Andrea.

Cultura e arte não são mercadorias, são construções históricas do povo, para o povo. Viva a arte popular e classe camponesa e operária!

*Editado por Fernanda Alcântara