Solidariedade Sem Terra
Quem são os camponeses e camponesas do MST que doaram 1 milhão de quilos de alimentos no PR
Por Barbara Zem, Setor Comunicação MST Paraná
Da Página do MST
Na sexta-feira de 22 de julho, as regiões Centro, Centro-Oeste e Centro-Sul do estado do Paraná reuniram mais de 25 comunidades de 10 municípios para realizar a partilha de 50 toneladas de alimentos com a população em situação de vulnerabilidade desses locais. Neste dia, em conjunto com todas as ações de solidariedade organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desde o início da pandemia, em abril de 2020, o Movimento chegou ao total de mil toneladas de alimentos doados somente no estado do Paraná.
Como parte da solidariedade permanente, em Curitiba e região metropolitana foram partilhadas até julho de 2022, mais de 140 mil Marmitas da Terra. A luta também se faz de memórias e legados, em homenagem a Antônio Tavares foram erguidas 23 hortas comunitárias para produzir e partilhar alimentos.
Na Campanha Nacional de Solidariedade permanente o MST já partilhou, em todo Brasil, mais de 6 mil toneladas de alimentos e 1 milhão de marmitas.
Conheça algumas pessoas que participaram da partilha de alimentos no Paraná:
Edna dos Santos, moradora do acampamento Maila Sabrina, Região Norte.
Edna ficou até os seus 20 anos morando no sítio, sua família passou por algumas dificuldades e foram para a cidade. Ali a vida não ficou muito mais fácil, Edna trabalhava como empregada e tinha um salão de beleza, mas mesmo assim o salário não dava, ia dormir pensando nas contas que precisava pagar no final do mês.
Quando ouviu falar do MST resolveu participar para ver como funcionava, hoje mora no acampamento Maila Sabrina, na região N*orte do estado, está feliz e produz seu próprio alimento, se sente mais segura e mais livre.
“Pra mim é uma satisfação estar aqui doando alimento, porque eu sei da dificuldade que eles estão passando. É uma satisfação enorme participar com as outras famílias da doação desses alimentos”, comentou Edna.
Paulo dos Santos, morador do acampamento Claudete Vive, de Boa Ventura de São Roque, Região Centro-Oeste
Paulo já conhecia um pouco da história do Movimento, mas nunca tinha participado de nenhum evento em conjunto. Em 2018 participou da ocupação do acampamento e por ali ficou. O lugar que ocuparam era um latifúndio grande e abandonado, antes do MST entrar ali não tinha nada, hoje há alimentos para subsistência e partilha. As 50 famílias acampadas na área realizaram em uma das ações a doação de 1.300 kg de alimentos.
“Mas com toda nossa dificuldade, toda nossa luta, nós vamos levando e as pessoas que vão saindo da favela, da vila e que estão desempregadas, têm duas ou três crianças vão chegando lá e se acolhendo, e vão produzindo o próprio alimento e vão se sentindo melhor lá. Na antiga fazenda tinha mais de 20 ou 40 alqueires de terra que não produziam nada, não tinha criação, e hoje nessa quantia de terra são cultivados os alimentos que estamos doando pras pessoas, que não poderiam nem comprar. Então, isso pra nós é uma vitória também, é um passo pra frente e fomos construindo isso”, comentou Paulo.
Vanessa, do pré-assentamento Emiliano Zapata, Ponta Grossa, Região Sul
Vanessa Batista entrou no movimento com 10 anos de idade, casou e foi embora, depois disso voltou e hoje trabalha no terreno do pai. Com a ajuda do marido, além de cuidar do terreno, trabalha com agricultura orgânica e faz entrega na cooperativa, na feira verde e faz vendas por fora. Apesar da dificuldade que a pandemia trouxe, neste dia Vanessa conseguiu doar cheiro verde, beterraba e couve. Ela comenta que isso é pouco, mas para quem vai receber já vai ajudar muito, pois sabe como é difícil morar na cidade, com tudo tão caro.
“É muito bom as pessoas verem e darem valor ao que a gente produz, porque não é fácil, é bem difícil. As pessoas acham que o mundo gira em torno de soja, e não é, o que a gente realmente come é a verdura, é o franguinho caipira, é a carne, não é a soja. E o mundo acha que o agro é soja, são os grandes produtores e na verdade não. É bom saber que está saindo de um pequeno para uma pessoa que também precisa e muitas vezes não tem consciência disso, da onde sai o verdadeiro alimento saudável, o maior valor que a gente tem é saber que a gente está produzindo um alimento saudável”, comentou Vanessa.
Sebastião de Oliveira (João de Barro), do acampamento em Queda do Iguaçu, Região Centro
Sebastião de Oliveira, mais conhecido como João de Barro é de Água Doce, oeste de Santa Catarina, mas foi ainda criança para Guaraniaçu, quando tinha uns 14 anos foi para a cidade, no entanto tinha muita saudade do sítio. Entrou no MST entre 2014 e 2015 e há um ano e pouco conquistou o pedaço de terra que hoje mora, ali tem um açude com alguns peixinhos, uns porquinhos, plantou milho, feijão e mandioca e quer aumentar a plantação.
“A gente é pobre também, mas a gente tem muita vontade de ajudar, muita esperança pela frente, isso que faz a diferença. Vou doar uma tonelada de mandioca, é um prazer a gente doar, é coisa de coração. Eu tenho essa alegria de ajudar nessa solidariedade, e quero ajudar ainda mais” afirmou o camponês.
Bruna Zimpel, mora no acampamento Terra Livre, em Clevelândia
Bruna chegou no MST quando terminou o ensino médio, entre seus 17 e 18 anos, enquanto fazia técnico em agropecuária. Foi assim que começou a se inserir em algumas atividades do Movimento e a ter tarefas fixas para realizar. Já está há 12 anos no movimento, e desde 2015 mora no acampamento Terra Livre.
Ela vê o Movimento como algo muito completo, tanto por pensar em resolver questões do dia a dia, quanto questões práticas e pontuais. Além disso, o MST tem uma proposta de construir uma sociedade melhor, com outros valores, de viver em sociedade e com companheirismo, uma sociedade mais justa para além daqueles que estão dentro do Movimento, mas todos e todas da classe trabalhadora.
“É nesse espaço do acampamento, dos encontros, das atividades do movimento que eu fui me construindo como pessoa e também me tornei nesse meio tempo. Criei meu filho, que vai fazer 8 anos nesse espaço do movimento que é um espaço muito rico de conteúdo e de convivência que uma criança poderia ter acesso”, conta a acampada.
Marilei de Fátima Pellizzari, mora no assentamento Valmir Mota de Oliveira, em Cascavel
Marilei é da cidade Lindoeste, mas já morava em Cascavel, quando conhecidos da sua cidade comentaram que teria a oportunidade de morar em um acampamento, foi junto com eles para essa nova empreitada. Em 2001, se acampou no Dorcelina Folador, em Cascavel.
“O Movimento é bom, é onde eu aprendi muito e até hoje minha vida mudou totalmente. Eu não tinha nada, morava na cidade, pagava aluguel, e hoje eu tenho minha moradia, meu sítio, meu lote e vivo bem ali. Planto hortaliça, feijão, trigo, milho, mandioca, frutas e tem uma época que plantamos soja. Agora tenho porco, vaca, galinha, tenho bastante, vivo uma vida feliz”, comemora ela.
*Editado por Solange Engelmann