Nota de Pesar

O MST do Distrito Federal e Entorno perde uma grande companheira de luta

Dona Maria nos deixa aos 78 anos, parte destes dedicados profundamente ao MST e a luta pela terra e pela Reforma Agrária Popular
Maria de Jesus Silva. Foto: MST-DFE

Da Página do MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Distrito Federal e Entorno comunica, com muito pesar, a passagem de nossa querida companheira Maria de Jesus Silva, ou simplesmente nossa Dona Maria, acampada há mais de dez anos no acampamento 8 de Março, em Planaltina DF.

Dona Maria nos deixa aos 78 anos, parte destes dedicados profundamente ao MST e a luta pela terra e pela Reforma Agrária Popular.

Uma companheira incrível, de energia e alegria, sempre dedicada às tarefas do MST, sempre a frente de todas lutas, não recuava um minuto sequer, onde tivesse luta e resistência; Dona Maria estava lá, com seu boné e sua bandeira, já quase rosada, da qual ela não desgrudava.

Foi e continuará sendo exemplo para toda nossa militância, pois sua idade e sua saúde nunca foram obstáculos para sua luta. Sempre dedicada, com perseverança, olhar firme e na certeza que o MST, como sua grande família, nunca desistiria de lutar pela terra e pela Reforma Agrária, para assim conquistarmos coletivamente o tão sonhado pedaço de chão. Trabalhadora, inquieta, de mãos calejadas. Uma mãe exemplar, não só para seus filhos, mas para toda militância, em especial para as famílias do acampamento 8 de Março.

Ela fez sua passagem, sem ter tido a possibilidade de ter conseguido seu pedaço de chão. Por isso, continuaremos firmes na luta pela Reforma Agrária Popular para que possamos conquistar esse latifúndio, e dedicar essa conquista a ela.

Sua perda só reafirma o quão o latifúndio, o agronegócio e o Estado opressor praticam a morte. É inadmissível que tenhamos que ficar tanto tempo embaixo da lona, vendo um Estado que legítima os crimes do agronegócio, negando e invisibilizando a Reforma Agrária e a luta pela terra. E que companheiras, como Dona Maria, sejam privadas do direito de acesso à terra, ao trabalho, a agroecologia, que de fato se constituem como sujeitos de direito.

Ela fez sua passagem, sem ter tido a possibilidade de ter conseguido seu pedaço de chão. Foto: MST-DFE

Há algum tempo, traduziu sua luta em letras, e nos presenteou com palavras que expressavam a síntese da luta coletiva, que nosso movimento sempre dedicou:

“Estou aqui na roça, plantando a semente, nem mesmo o sol quente, feito fogo ardente me faz recuar, sou mãe solteira, que vive nesta estrada, e estou acampada e fiz minha morada aqui neste lugar!

Crio os meus filhinhos aqui, mesmo no campo, porque na cidade não dar pra criar.

Lá a violência é muito e o emprego é pouco. E somente um louco, pode acreditar!

Que na circunstância essa realidade, mais cedo ou mais tarde possa melhorar.

De sol a sol eu pego na enxada, não tem feriado e nem fim, de semana.

E por ser mulher, eu mostro a minha raça, muitos não põe fé, aí é onde se engana”.

Pelos nossos mortos, nem um minuto de silêncio, toda uma vida de luta!

Dona Maria! Presente!

Lutar! Construir Reforma Agrária Popular!

Planaltina, Distrito Federal.

19 de setembro de 2022

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra do Distrito Federal e Entorno.

*Editado por Solange Engelmann